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Alívio para os EUA não garante melhora no Brasil
Em meio a incertezas nos mercados, analistas vêem EUA atraindo mais capital
Dólar deve seguir em alta pelo mundo enquanto as commodities, cruciais ao Brasil, podem punir o
país no médio prazo
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Economistas e analistas de
mercado acham que o socorro
dos EUA aos mercados deve estancar a depreciação de títulos
americanos e dos bancos do
país, criando condições para a
retomada do crédito e do consumo nos EUA. Mas, sobre o
Brasil, dizem que o cenário ainda é incerto e pode piorar, pois
o alívio nos EUA deve atrair capital daqui para lá.
Isso porque os EUA já sofrem
com a crise desde meados do
ano passado, quando ações e
papéis de dívidas começaram a
derreter, e só há quatro meses
esse movimento chegou ao
Brasil e a outros emergentes da
América Latina e da Ásia.
Foi o que ocorreu ontem
quando as Bolsas americanas e
européias subiram, enquanto
algumas latino-americanas e a
chinesa (Xangai) seguiram em
queda. A alta da Bovespa no início do dia foi vista por analistas
como uma "janela de saída" para alguns investidores venderem ações com preço melhor
do que na semana passada.
Na avaliação de Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono Asset, os EUA devem "arrumar a casa" nos próximos meses, o que pode elevar preços de
papéis da dívida do governo
americano e as cotações do dólar -inclusive no Brasil.
"A primeira reação ontem foi
que a intervenção voltava a fortalecer as commodities e enfraquecia o dólar. O real chegou a
subir. Só que, logo em seguida,
viram que esse pacote fortalece
a economia americana. Durante um ano as expectativas [nos
EUA] foram deterioradas. Agora vamos começar a precificar
os problemas no resto do mundo", disse Ribeiro.
Não ha consenso sobre o rumo dos preços das commodities e do fluxo de dinheiro para
países emergentes. Uma das
vozes dissonantes é a do economista americano Marc Faber,
que em relatório ontem afirmou que o euro e o preço de algumas commodities podem ter
caído demais. "A fraqueza das
ações do setor financeiro está
contaminando os demais ativos
do mundo. O dólar se fortaleceu, e algumas ações e commodities ficaram com preços muito depreciados. Pode vir uma
recuperação nas próximas semanas", disse.
Já Márcio Holland, economista da FGV (Fundação Getulio Vargas), está mais pessimista. "A cada dia fica mais claro
para muitos otimistas de plantão que a crise mundial é muito
mais séria, mais profunda e será mais prolongada do que se
imagina. Economias como a
brasileira, altamente dependente de commodities, sentirão no médio prazo muito mais
a crise. O comportamento do
mercado mostrou que o Brasil
está mais volátil do que qualquer outra parte do mundo,
mesmo pagando as maiores taxas de juros", disse Holland.
Para José Francisco de Lima
Gonçalves, economista-chefe
do Banco Fator, a intervenção
esta longe de resolver a crise
mesmo nos EUA ou de diminuir as incertezas globais. "As
Bolsas vão comemorar por uns
dias. O sinal decisivo, porém,
continua em algum lugar entre
o mercado de trabalho e os preços dos imóveis nos EUA. E isso
ficara para o próximo governo",
afirmou.
Gonçalves discorda dos que
acreditam que a intervenção foi
um prêmio para as duas agencias e para os bancos americanos. Ele lembra que os acionista de Fannie Mae e Freddie
Mac viram suas ações virarem
pó, pois serão os últimos beneficiados -atrás de credores, do
Tesouro- se a carteira dessas
empresas melhorar.
Especialista em risco, Alexandre Jorge Chaia, do Ibmec-SP, destaca que, mais uma vez,
o governo dos EUA "passou a
mão" na cabeça dos bancos que
assumiram riscos demasiados.
"Foi uma declaração de que podem fazer as besteiras que quiserem, que serão salvos", disse.
Para o Brasil, Chaia vê mais
liquidez para as empresas e os
bancos captarem no exterior,
mas afirma que ainda é cedo
para estimar o impacto na Bovespa. "Ninguém tem muita
noção no Brasil do impacto do
pacote. Vimos os juros [na
BM&F] subindo, mas não tinha
motivo para isso. Para o Brasil,
não foi um dia muito bom. Cria
oportunidade de saída da Bolsa
e para repensar os investimentos como um todo", disse.
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