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OPINIÃO ECONÔMICA
Banco Antinacional de Subdesenvolvimento?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Os meios de comunicação têm
estado solidamente ocupados
pelos conflitos e controvérsias
entre as alas "monetaristas" e
"desenvolvimentistas" do governo federal. O curioso é que, a rigor, nem a ala monetarista é
monetarista nem a ala desenvolvimentista é desenvolvimentista. Decididamente, como dizia o Tom Jobim, o Brasil não é
para principiantes.
Reina uma grande confusão.
O ministro Pedro Malan, por
exemplo, embora possa ter muitos defeitos, nunca foi monetarista. Mas vamos deixar os "monetaristas" de lado, hoje. Afinal,
já estão sob bombardeio cerrado, inclusive daqueles que os
elogiavam e sustentavam na
época em que o Ministério da
Fazenda e o Banco Central cometeram os seus equívocos mais
graves.
Tratemos da ala "desenvolvimentista" do governo. Um dos
seus expoentes, segundo consta,
é o economista Andrea Calabi,
que assumiu recentemente o
cargo de presidente do Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social. O BNDES é,
como se sabe, o principal instrumento operacional do Ministério do Desenvolvimento.
Pois bem, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", concedida antes da queda do ministro Clóvis Carvalho, mas publicada na última segunda-feira,
Calabi deu declarações realmente edificantes. Confirmou
que a política de financiar empresas de capital estrangeiro será mantida "sempre que houver
necessidade de crédito para investimentos de interesse do
país". Informou que o BNDES
poderá destinar a empresas estrangeiras boa parte dos R$ 20
bilhões previstos no seu orçamento de empréstimos para este
ano! E acrescentou - pasmem- que o banco está disposto até mesmo a financiar a venda de empresas nacionais a grupos estrangeiros!
Que maravilha o "desenvolvimentismo" do governo FHC! Por
incrível que pareça, é o mesmo
governo que, na semana passada, apresentou o Plano Plurianual 2000-2003 como "um projeto nacional de desenvolvimento" (na mensagem do presidente
da República encaminhando o
plano ao Congresso) e até como
um "projeto de Nação" (no discurso do presidente da República na cerimônia de apresentação do plano).
O "projeto de Nação" do governo federal inclui, aparentemente, financiar com recursos
de um dos principais bancos públicos, ironicamente denominado "Banco Nacional de Desenvolvimento", a desnacionalização da economia! Se os brasileiros fossem amantes da limpidez
e da clareza, bem que poderiam
agora estudar a mudança do
nome do BNDES para Banco
Antinacional de Subdesenvolvimento.
O próprio "Estadão", que não
é nenhum reduto do nacional-desenvolvimentismo, protestou
contra as declarações de Calabi,
em editorial publicado anteontem. O editorial pede ao governo
que repense essa decisão de
"conceder dinheiro escasso e
precioso a quem dele menos precisa".
De fato, como justificar que o
BNDES adote essa orientação
num país como o Brasil, em que
o crédito é muito caro e de difícil
acesso para a grande maioria
das empresas nacionais?
Ah, o Brasil tem mudado muito. E, frequentemente, para pior.
Um dos meus primeiros empregos, nos anos 70, foi o de estagiário do BNDE (o S foi acrescentado mais tarde). Naquela época,
uma empresa estrangeira não
passava nem na porta do banco.
Para tentar levantar dinheiro
no BNDE, um grupo estrangeiro
tinha que se disfarçar de mil
maneiras. Enfrentava, mesmo
assim, a resistência cerrada e
obstinada do corpo técnico do
banco.
Hoje, não. Hoje, o empresário
brasileiro terá mais chance no
BNDES se assumir um leve sotaque, adotar ares "transnacionais" ou se associar (de preferência em posição subordinada)
a empresas estrangeiras.
O Brasil não pode, caro leitor,
continuar desse jeito. Uma das
principais razões de ser do
BNDES é justamente servir de
fonte de crédito de longo prazo
para as firmas brasileiras, a custos razoavelmente compatíveis
com as condições que prevalecem nos mercados financeiros
internacionais. Como aceitar
que o banco empregue boa parte
dos seus recursos no financiamento de grupos estrangeiros,
que têm acesso muito mais fácil
a capital e a crédito no mercado
internacional?
Confesso que, na minha ingenuidade, fiquei aguardando um
desmentido ou uma retificação
por parte do presidente do
BNDES. Até agora, nada. Dá
vontade de sentar no meio fio e
chorar lágrimas de esguicho, como diria o Nelson Rodrigues
(outra vez essa figura fatal!).
Se a ala desenvolvimentista do
governo é isso aí, só nos resta exclamar: vida longa para o ministro Malan!
Paulo Nogueira Batista Jr., 44, economista e professor da Fundação Getúlio Vargas-SP, escreve às quintas-feiras nesta coluna.
E-mail: pnbjr@ibm.net
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