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Governo quer soltar mais o freio da inflação
Com a expectativa da menor taxa desde 98, parte da equipe econômica defende acelerar queda do juro e ampliar desonerações
Para economistas, porém, medida pode ser arriscada porque já existem pressões inflacionárias a caminho para o próximo ano
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante da expectativa, cada
vez maior, de encerrar este ano
com a inflação mais baixa desde
1998, integrantes do governo
defendem menos parcimônia
nos juros e mais fôlego para a
economia. A redução da taxa
Selic e a desoneração de tributos são os principais instrumentos para estimular o crescimento, fazendo o IPCA (índice
de preços que é referência para
o Banco Central) sair dos 2,9%
projetados para 2006 para os
4,5%, em 2007.
Apesar de o governo fixar que
o nível de inflação ideal para o
Brasil é 4,5%, o índice esperado
para este ano está próximo ao
piso da meta (2,5%). O índice
acumulado em nove meses já
está em 2%, mas, para os analistas financeiros, ainda há risco
de romper o piso.
O preço do petróleo, por
exemplo, que sempre merece
atenção do BC pela repercussão que tem nos índices internos, está em queda e até sugere
uma diminuição no valor dos
combustíveis no país. Isso puxaria a inflação para baixo.
Já o câmbio, segundo economistas de dentro e fora do governo, se não vai mais contribuir para a queda dos preços,
também não deverá ser um fator de preocupação nos próximos meses e nem em 2007. A
tendência, afirmam, é que a taxa se mantenha sem grandes
oscilações, mesmo diante de
um saldo comercial menor.
Com isso, a avaliação de parte da equipe econômica é que,
apesar de os cortes realizados
na taxa de juros até agora não
terem surtido integralmente
efeito na economia, a queda
brusca da inflação neste ano
abre espaço para o BC abandonar o conservadorismo que tomou conta do Copom (Comitê
de Política Monetária) desde o
final do ano passado.
Mas persistem dúvidas se isso, na prática, significará manter ou até mesmo acelerar a trajetória de queda da Selic, em
vez de fazer paradas técnicas ou
mesmo redução do ritmo de
corte, como sugeria o BC há alguns meses. O ministro Guido
Mantega (Fazenda) diz que
sim. "Claro. O BC não deu nenhuma parada [na redução da
Selic]. Isso é reflexo da queda
da inflação", responde.
Em 2006, "parcimônia" foi a
palavra da moda no dicionário
do BC e a tônica dos discursos
dos diretores da instituição para o mercado financeiro. O saldo foi uma inflação, pela primeira vez desde a implantação
do regime de metas, próxima ao
piso fixado e mais um ano de
crescimento pífio da economia,
o que irritou o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
O presidente foi convencido
pela equipe econômica de que a
produção nacional medida pelo
PIB (Produto Interno Bruto)
aumentaria pelo menos 4,5%
em 2006. Em vez disso, o mercado projeta números perto de
3%, e o BC já admite 3,5%.
"O que pode puxar a inflação
para cima é a redução dos juros
porque irá estimular o crescimento e pressionar os preços",
diz o economista Roberto Padovani, da consultoria Tendências. Segundo ele, alguns setores, como o petroquímico, têm
conseguido repassar seus custos recompondo margens de
lucro. "Mas, ainda assim, isso
não representa uma pressão inflacionária forte", afirma.
"As projeções de preço para
2007 não são tão otimistas
quanto as de 2006. Haverá uma
recuperação dos preços. Mas
está claro que, para chegar a
4,5%, é preciso reduzir um pouco mais os juros", defende Tomás Málaga, economista do
banco Itaú.
Desoneração
Para o ex-diretor de Política
Monetária do BC Luiz Fernando Figueiredo, o banco ainda se
surpreenderá com a inflação
daqui para a frente. Ele destaca
que a utilização da capacidade
instalada está próxima a 80%
-o que representa espaço para
as empresas aumentarem a
produção para atender um
crescimento da economia sem
ter de elevar os preços.
Mesmo que isso dê margem
para corte de juros, ele argumenta que o efeito da taxa Selic
na economia é cada vez menor
e que a carga tributária elevada
trava mais o crescimento. "Nos
últimos anos tivemos uma elevação dessa carga tributária, e
isso pesa mais do que os juros."
Esse é um ponto que o governo já está trabalhando. A idéia é
desonerar setores importantes
para puxar investimentos que
garantirão aumento da produção para atender à maior demanda por bens e serviços.
O diretor da Goldman Sachs
para América Latina, Paulo Leme, ressalta que já há muito
combustível na economia para
recompor a inflação em 2007.
"Fora o efeito defasado dos cortes feitos nos juros, há uma
combinação de aumento de
despesas do governo, crescimento do mercado de crédito,
reajuste do salário mínimo",
diz. Os técnicos do governo
acrescentam a essa lista a recuperação da massa salarial.
Leme considera que o fato de
a inflação em 2006 estar no piso inferior da banda deveria ser
visto com naturalidade. "O intervalo [de dois pontos percentuais para cima ou para baixo] é
para ser usado. Quando há choque adverso, usa-se para cima,
quando o choque é favorável,
para baixo. Se fechar abaixo do
piso, bem-vindo seja."
As condições para 2007, no
entanto, são de convergência
para os 4,5%. Por isso, Leme
defende que não é recomendável rever a meta para um valor
menor. "Estamos perto do piso
hoje, mas estaremos no centro
da meta em 2007."
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