São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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análise

BC fica em situação difícil para subir juro

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da ação coordenada dos principais bancos centrais do mundo para reduzir os juros, o Banco Central tenta blindar a sua política monetária e resistir à pressão dentro e fora do governo por cortes nos juros.
Desde a semana passada, a possibilidade de o BC inverter a trajetória da Selic foi colocada na mesa de discussão da equipe econômica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao lado da redução dos compulsórios, a medida foi apontada como uma saída para aumentar a quantidade de dinheiro dos bancos e evitar um freio forte na economia.
O presidente do BC, Henrique Meirelles, no entanto, foi contra mudanças no rumo dos juros. Disse que era preciso separar a gestão dos juros do problema de falta de linhas de crédito. No entanto, a pressão vem crescendo porque o impacto da crise na atividade brasileira será maior do que o esperado.
Para o BC, ainda não há sinalização clara de que a inflação esteja controlada. Setores importantes como o de serviços ainda mostram apetite por reajustes de preços.
Por outro lado, a instabilidade do câmbio tem impacto imediato para inflação.
Ontem, em reunião no Palácio do Planalto com o presidente Lula, Meirelles demonstrou preocupação com o fato de a crise americana ter atingido bancos europeus, mas voltou a afirmar a que a economia brasileira "ainda está intacta".
Para Sergio Vale, economista da MB Associados, o Copom deverá se dividir ainda mais sobre o ritmo de alta dos juros. "Haveria espaço para parar a alta da Selic na próxima reunião, mas não creio que o BC faça isso ainda. Pode ser que ainda tenhamos uma alta em outubro, a ver se de 0,5 ponto ou 0,25 ponto, mas em dezembro poderemos ver uma parada provavelmente", disse.
Para Marcio Holland, economista da FGV, o BC pode suspender a eventual alta nas taxas de juros e evitar a desvalorização excessiva do real gastando parte das reservas cambiais. "Não vai ser uma alta na taxa Selic que irá trazer a inflação para dentro da meta. Com a reversão no nosso crescimento dos prováveis 5,2% em 2008 para algo em torno de 2,5 a 3% em 2009, os gastos crescerão e a queda na arrecadação dificultará a formação de superávit primário. Serão necessárias medidas de ajustes fiscais para minimizar a crise."
Para Fernando Cardim, economista da UFRJ, a disparada do dólar vai pressionar os preços e "forçar a mão" do Banco Central nos juros. "O BC está numa posição extremamente difícil", disse.


Colaborou SIMONE IGLESIAS , da Sucursal de Brasília


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