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Brasil aguenta 6 meses de juro alto, diz Krugman
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira suportará
por pelo menos mais seis meses a
manutenção da taxa básica de juros nos patamares atuais (21%). A
afirmação é de Paul Krugman, 49,
um dos mais renomados economistas do mundo e colunista do
jornal norte-americano "The
New York Times".
"Não existe crise urgente com
relação à taxa de juros. Taxas altas
não são boas, mas não é o fim do
mundo. Porém, se ficarem nesse
nível por mais de 18 meses, o Brasil terá problemas", afirmou
Krugman, ontem, na ExpoManagement, em São Paulo.
De acordo com o economista, as
diretrizes econômicas do próximo governo terão que se nortear
pela manutenção-ou elevação- do superávit primário em
3,75% do PIB (Produto Interno
Bruto).
De acordo com Krugman, os
principais fundamentos da economia brasileira -superávit primário, inflação- estão em ordem. Estão mesmo melhores que
os dos EUA no início dos anos 90.
"A diferença é que, enquanto os
EUA conseguiram rolar a dívida a
3%, 4% ao ano, no Brasil, o mercado exige algo em torno de 18%.
O Brasil continua a pagar caro pela crise da Argentina."
Krugman vai mais longe na crítica à histeria dos mercados. Para
ele, não haveria risco iminente de
calote e, se o Brasil estivesse localizado na Europa, com os fundamentos econômicos que possui,
estaria qualificado para ingressar
na zona do euro.
Porém o calcanhar-de-aquiles
da economia do Brasil reside na
dívida interna indexada ao dólar,
constituída, fundamentalmente,
de papéis de curto prazo, o que
aumenta a descrença dos mercados em relação ao país.
Krugman afirma que, para restabelecer a confiança dos investidores internacionais, Lula vai ter
que convencer os mercados de
que "não é Fidel Castro". Com isso, a taxa de juros poderá recuar e
o país vai poder retomar o caminho do crescimento.
A solução será criar uma espécie
de "terceira via". Um governo que
se mantenha no meio-termo, ou
seja, que justifique a base eleitoral
que demanda reformas, que invista nas questões sociais, mas
que se preocupe em manter a estabilidade econômica.
"Mesmo que nada disso dê certo, o Brasil não é -e não será-
uma nova Argentina", afirmou.
Nova década perdida
O fantasma de uma outra década perdida para a América Latina
-como a vivida nos anos 80-
não está descartado.
O desaquecimento das principais economias mundiais e a
aversão ao risco dos investidores
internacionais contribuem para a
previsão de um futuro mais sombrio. "Esse medo de investir na
América Latina ainda é reflexo da
crise asiática. Mas é impossível
prever o que virá pela frente. Só
nos resta esperar", disse.
EUA
Os EUA também não são poupados das previsões mais pessimistas do economista. Segundo
ele, há 50% de chance de que os
EUA passem por uma situação de
deflação em breve. Com isso, o
país poderia se encaminhando
para repetir os indicadores ruins
que alimentam a recessão japonesa há uma década.
Entretanto o economista, que se
define como um "otimista com
ressalvas", diz acreditar que o
mundo está longe de atravessar
um recessão em escala global.
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