São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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Brasil aguenta 6 meses de juro alto, diz Krugman

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia brasileira suportará por pelo menos mais seis meses a manutenção da taxa básica de juros nos patamares atuais (21%). A afirmação é de Paul Krugman, 49, um dos mais renomados economistas do mundo e colunista do jornal norte-americano "The New York Times".
"Não existe crise urgente com relação à taxa de juros. Taxas altas não são boas, mas não é o fim do mundo. Porém, se ficarem nesse nível por mais de 18 meses, o Brasil terá problemas", afirmou Krugman, ontem, na ExpoManagement, em São Paulo.
De acordo com o economista, as diretrizes econômicas do próximo governo terão que se nortear pela manutenção-ou elevação- do superávit primário em 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto).
De acordo com Krugman, os principais fundamentos da economia brasileira -superávit primário, inflação- estão em ordem. Estão mesmo melhores que os dos EUA no início dos anos 90. "A diferença é que, enquanto os EUA conseguiram rolar a dívida a 3%, 4% ao ano, no Brasil, o mercado exige algo em torno de 18%. O Brasil continua a pagar caro pela crise da Argentina."
Krugman vai mais longe na crítica à histeria dos mercados. Para ele, não haveria risco iminente de calote e, se o Brasil estivesse localizado na Europa, com os fundamentos econômicos que possui, estaria qualificado para ingressar na zona do euro.
Porém o calcanhar-de-aquiles da economia do Brasil reside na dívida interna indexada ao dólar, constituída, fundamentalmente, de papéis de curto prazo, o que aumenta a descrença dos mercados em relação ao país.
Krugman afirma que, para restabelecer a confiança dos investidores internacionais, Lula vai ter que convencer os mercados de que "não é Fidel Castro". Com isso, a taxa de juros poderá recuar e o país vai poder retomar o caminho do crescimento.
A solução será criar uma espécie de "terceira via". Um governo que se mantenha no meio-termo, ou seja, que justifique a base eleitoral que demanda reformas, que invista nas questões sociais, mas que se preocupe em manter a estabilidade econômica.
"Mesmo que nada disso dê certo, o Brasil não é -e não será- uma nova Argentina", afirmou.

Nova década perdida
O fantasma de uma outra década perdida para a América Latina -como a vivida nos anos 80- não está descartado.
O desaquecimento das principais economias mundiais e a aversão ao risco dos investidores internacionais contribuem para a previsão de um futuro mais sombrio. "Esse medo de investir na América Latina ainda é reflexo da crise asiática. Mas é impossível prever o que virá pela frente. Só nos resta esperar", disse.

EUA
Os EUA também não são poupados das previsões mais pessimistas do economista. Segundo ele, há 50% de chance de que os EUA passem por uma situação de deflação em breve. Com isso, o país poderia se encaminhando para repetir os indicadores ruins que alimentam a recessão japonesa há uma década.
Entretanto o economista, que se define como um "otimista com ressalvas", diz acreditar que o mundo está longe de atravessar um recessão em escala global.


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