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LUÍS NASSIF
Um relatório "fake"
O relatório da CPI dos
Correios sobre os fundos
de pensão -divulgado pelo
deputado federal ACM Neto
(PFL-BA)- é mais um "fake"
nessa longa lista de manipulações que vem corroendo a Comissão Parlamentar de Inquérito e a cobertura. É como os
dólares de Cuba, episódio do
qual o único elemento cubano
foi uma garrafa de bebida recebida pelo emérito "mula"
Vladimir Poleto.
Se há um terreno propício a
falcatruas, é o da negociação
de títulos e valores mobiliários
em mercados futuros. São
enormes quantias, nas quais a
diferença de centavos pode significar milhões. Além disso, há
a prática disseminada de operações de balcão (feitas entre
duas instituições, sem passar
pelos sistemas informatizados), que comportam toda sorte de manipulação.
Mesmo assim, o relatório divulgado pelo deputado Neto é
vergonhoso como rascunho,
mais ainda como documento
oficial -ainda que travestido
nessa falsa capa de sigiloso. Há
limites para a manipulação.
Nem se pretenda estar tratando com vestais. Com todos
os avanços ocorridos nos últimos anos, esse terreno ainda é
pantanoso. Mas o relatório
exorbita. Primeiro, por escolher as instituições beneficiárias que tiveram seus nomes
divulgados. Há uma folha sobre as "perdas incorridas pelas
EPPCs em operações na BM&F
[Bolsa de Mercadorias & Futuros]". É a tal planilha que chega aos prejuízos globais de R$
729 milhões. Nas três operações de maior vulto, não aparecem nomes de instituições,
apenas números. Mas se selecionam oito, que são contempladas com a divulgação dos
nomes. Qual o critério? Quem é
que negociou a divulgação dos
nomes? Se é algo que afeta a
imagem e se a imagem tem valor, o que tiveram que fazer as
instituições para não ter seu
nome relevado?
Outro ponto básico é que
simplesmente não se revela a
metodologia adotada para estimar os prejuízos. Pior: há informações de que o trabalho
utilizou apenas uma das pernas de operações de hedge.
O que são essas operações?
Suponha um fundo que tenha
uma carteira de ações, julgue
que o mercado está em um patamar elevado, não quer se
desfazer de suas ações, mas
quer se proteger contra eventuais quedas. Essas operações
são articuladas de tal maneira
que, ocorra o que ocorrer, ele
ganhará a taxa CDI do período.
Ele vai à BM&F, que tem um
mercado de índice futuro de
Bovespa (Bolsa de Valores de
São Paulo) e vende uma quantidade de contratos, correspondente à sua carteira. Suponha
que a Bolsa suba 10%. No mercado futuro, ele registrará uma
perda de 10%; mas, na sua carteira de ações, registrará um
ganho de 10% mais o CDI do
período.
Se se for analisar cada operação individualmente, em uma
haverá prejuízo; na outra, ganho. Se a Bolsa de Valores cair,
vai ocorrer o inverso, mas seguindo a mesma lógica: em
uma mão ele registra ganho,
na outra, ele registra prejuízo.
O que o relatório fez provavelmente foi somar todas as colunas de prejuízo e não computar os ganhos.
Repito: há todo um universo
de operações a serem investigadas com os fundos, especialmente as de balcão. Mas o relatório do emérito deputado
ACM Neto é mais uma peça
falsa nesse jogo.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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