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Advogado, paraguaio ganha mais como professor
DA REDAÇÃO
A intenção do paraguaio
Juan Carlos Espinola, 27, ao vir
para o Brasil há cerca de cinco
meses era fazer pós-graduação
em direito internacional e retornar logo ao seu país. Mas,
agora, ele já não descarta continuar por aqui se as "coisas continuarem bem".
Sem revelar valores, ele diz
que ganha mais com as aulas de
espanhol em Valinhos e Campinas (onde mora, no interior
de São Paulo) do que como advogado em Assunção, a capital
paraguaia, onde exerceu a profissão por um ano e meio. "A
ideia era aplicar no meu país o
que eu aprendi aqui, mas as coisas estão mudando. Existem
leis novas que facilitam a permanência de pessoas de países
da América do Sul."
Espinola afirma que manda
de R$ 400 a R$ 500 mensais para os pais, que servem para ajudar a pagar contas e também
para guardar na poupança. Ou,
como diz: "Garantir um pouco
a vida". Ele fala que, em seu
país, esse dinheiro é suficiente
para alugar um apartamento e
pagar a faculdade e reclama do
custo de vida no Brasil.
"Eu achei caro o pão, o leite,
as coisas básicas do dia a dia. A
única coisa que não achei cara
foi a cerveja. No Paraguai, o imposto é bastante alto, para impedir que as pessoas consumam muito", diz ele, que, com
as aulas para um público que
vai de adolescentes a executivos de multinacionais, "consegue viver bem. Dá para pagar as
contas, comprar algumas coisas e viajar um pouquinho".
Afirma ainda que não enfrentou preconceito e que sempre
foi bem recebido, mas conta
histórias de amigos que já passaram por essa situação. "Uma
compatriota estava no hospital
com o filhinho dela e alguém
perguntou: "Por que você fala
diferente?". E ela respondeu:
"Porque eu sou do Paraguai". E
essa pessoa acabou se afastando. Ela ficou muito magoada."
Já a peruana Maria Jesus, 43,
que chegou em São Paulo há
um ano e cinco meses, reclama
dos custos do aluguel e do
transporte e também de preconceito por parte dos brasileiros. "Algumas pessoas têm problemas com estrangeiros, sobretudo quando não entendem
a língua. Eu tentei comprar
uma bolacha, e a atendente disse que eu falava inglês."
Ela disse que a chegada no
país foi traumática. "Os primeiros seis meses me custaram lágrimas. Nunca pensei em sair
da minha casa, do meu país."
Mas agora afirma que voltou ao
"normal" e que pretende ficar
no país, ainda mais que aproveitou a anistia adotada pelo
governo no ano passado para
legalizar a sua situação no Brasil -caminho adotado por vários outros estrangeiros e que
também explica o aumento das
remessas pelos canais oficiais,
já que eles têm a documentação
necessária para recorrer às instituições financeiras.
Trabalhando como babá e
buscando vaga de professora,
conta que se sente como uma
"menina de 17 anos, recomeçando a vida".
(AF)
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