São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Advogado, paraguaio ganha mais como professor

DA REDAÇÃO

A intenção do paraguaio Juan Carlos Espinola, 27, ao vir para o Brasil há cerca de cinco meses era fazer pós-graduação em direito internacional e retornar logo ao seu país. Mas, agora, ele já não descarta continuar por aqui se as "coisas continuarem bem".
Sem revelar valores, ele diz que ganha mais com as aulas de espanhol em Valinhos e Campinas (onde mora, no interior de São Paulo) do que como advogado em Assunção, a capital paraguaia, onde exerceu a profissão por um ano e meio. "A ideia era aplicar no meu país o que eu aprendi aqui, mas as coisas estão mudando. Existem leis novas que facilitam a permanência de pessoas de países da América do Sul."
Espinola afirma que manda de R$ 400 a R$ 500 mensais para os pais, que servem para ajudar a pagar contas e também para guardar na poupança. Ou, como diz: "Garantir um pouco a vida". Ele fala que, em seu país, esse dinheiro é suficiente para alugar um apartamento e pagar a faculdade e reclama do custo de vida no Brasil.
"Eu achei caro o pão, o leite, as coisas básicas do dia a dia. A única coisa que não achei cara foi a cerveja. No Paraguai, o imposto é bastante alto, para impedir que as pessoas consumam muito", diz ele, que, com as aulas para um público que vai de adolescentes a executivos de multinacionais, "consegue viver bem. Dá para pagar as contas, comprar algumas coisas e viajar um pouquinho".
Afirma ainda que não enfrentou preconceito e que sempre foi bem recebido, mas conta histórias de amigos que já passaram por essa situação. "Uma compatriota estava no hospital com o filhinho dela e alguém perguntou: "Por que você fala diferente?". E ela respondeu: "Porque eu sou do Paraguai". E essa pessoa acabou se afastando. Ela ficou muito magoada."
Já a peruana Maria Jesus, 43, que chegou em São Paulo há um ano e cinco meses, reclama dos custos do aluguel e do transporte e também de preconceito por parte dos brasileiros. "Algumas pessoas têm problemas com estrangeiros, sobretudo quando não entendem a língua. Eu tentei comprar uma bolacha, e a atendente disse que eu falava inglês."
Ela disse que a chegada no país foi traumática. "Os primeiros seis meses me custaram lágrimas. Nunca pensei em sair da minha casa, do meu país." Mas agora afirma que voltou ao "normal" e que pretende ficar no país, ainda mais que aproveitou a anistia adotada pelo governo no ano passado para legalizar a sua situação no Brasil -caminho adotado por vários outros estrangeiros e que também explica o aumento das remessas pelos canais oficiais, já que eles têm a documentação necessária para recorrer às instituições financeiras.
Trabalhando como babá e buscando vaga de professora, conta que se sente como uma "menina de 17 anos, recomeçando a vida". (AF)


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