São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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Déficit a financiar em janeiro é de US$ 4 bi

MARA LUQUET
Editora do Folhainvest

Na primeira semana do ano, o país perdeu, em média, cerca de US$ 150 milhões diariamente. A cifra significa uma redução de 40% em relação à média de perdas diárias registrada no mês passado. Entretanto, o Brasil precisaria, em vez de perder, registrar ingresso líquido diário de US$ 200 milhões.
Esse é o dinheiro necessário para financiar o déficit externo estimado pelos analistas para este mês, que gira em torno de US$ 4 bilhões.
Esses números não são oficiais, mas estão na mesa de grandes bancos que acompanham diariamente o fluxo de recursos externos para o país. Esse é um ponto crucial para determinar os rumos da política econômica do governo.
Se não conseguir financiar esse déficit, as reservas internacionais líquidas do país podem chegar, ao final de janeiro, ao nível de US$ 31 bilhões (o mercado estima que, em dezembro, as reservas tenham ficado em US$ 35 bilhões). Seria um desastre, para dizer o mínimo, segundo analistas de mercado.
Isso porque, para cumprir as metas do FMI (Fundo Monetário Internacional), o Brasil precisa chegar, ao final do primeiro trimestre do ano, com um nível de reservas internacionais líquidas da ordem de US$ 33 bilhões.
Mas o Bird (Banco Mundial) já anunciou que libera para o país, ainda este mês, US$ 1 bilhão. Além disso, deverão entrar no caixa brasileiro, também neste mês, os cerca de US$ 100 milhões captados pela Cesp por meio da emissão de títulos no mercado internacional.
Esse dinheiro financia menos de 30% do déficit esperado para este mês. Se nada mais entrar, as reservas baterão, ao final do mês, em US$ 32,6 bilhões.
O governo terá, então, dois meses para recompor o nível das reservas. Mas, em fevereiro, a situação é um pouco pior. O mês tem apenas 17 dias úteis (contra 22 de janeiro) e um déficit externo previsto de US$ 4,5 bilhões.
Ou seja, a entrada de recursos diários teria de ficar, na média, na ordem de US$ 300 milhões para conseguir cobrir o déficit e ainda recompor o patamar das reservas internacionais líquidas exigidas pelo FMI. Daí a importância de a captação voluntária ter sucesso neste mês.
Pelas contas de bancos importantes no mercado de câmbio, o maior peso nas contas externas, para este mês, é o pagamento de amortizações da dívida externa, que chega a US$ 3,6 bilhões. O déficit comercial é estimado em US$ 542 milhões, que somado ao pagamento de serviços deixa o saldo em transações correntes negativo em US$ 2,2 bilhões.
Acompanhar passo a passo o fluxo de recursos externos para o país é essencial, principalmente nesse primeiro trimestre, para ter a sinalização se o governo caminha ou não para um ajuste no câmbio.
O grosso de saídas de dólares registradas na semana passada ocorreu entre terça e quinta-feira. Um ponto importante é que as saídas pelo câmbio flutuante representaram, em média, 10% do volume total de perdas na semana passada. Esse é o mercado que costuma ficar mais nervoso em situação de crise e manteve-se calmo mesmo após a moratória mineira.



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