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DIAGNÓSTICO & RECEITA
Mesa virada
OSIRIS LOPES FILHO
A Federação brasileira, que
vinha sendo erodida pela política financeira e tributária federal, ganhou novo alento. Finalmente, surgiu na arena nacional protagonista de densidade política e com coragem
para defender a autonomia financeira dos Estados, como
instrumento eficaz para a prestação dos serviços públicos aos
seus habitantes.
A declaração do governador
de Minas Gerais, Itamar Franco, de que vai suspender, por
três meses, o pagamento da dívida estadual à União, mostra
que a paz dos cemitérios, imposta pelo governo federal aos
Estados e municípios, está chegando ao fim.
Foi uma tomada de posição
leal. A situação de degeneração
gradual, mas fatal, das finanças mineiras certamente terá
influenciado essa atitude. É
melhor antecipar, adotando
remédios preventivos, do que
tentar a cura, quando o final
irreversível é o desenlace trágico. É preciso mais do que topete, muito peito, para a adoção
dessa denúncia do acordo.
Vai obrigar a burocracia do
Ministério da Fazenda a abandonar o expediente de empurrar com a barriga a crise, para
enfrentá-la estabelecendo nova
negociação da dívida.
O garrote às finanças estaduais, aplicado pelo governo
federal, é de longa data. A elevação das taxas de juros, ocorrida até a negociação do ano
passado, exponenciou o seu
montante.
Na área financeira, o famigerado Fundo de Estabilização
Fiscal abocanha recursos dos
Estados e municípios. Apropria-se de 20% da arrecadação
do IPI e do IR; retira da base da
distribuição dos Fundos de
Participação o IR retido na
fonte pela União, suas autarquias e fundações, nos pagamentos feitos a terceiros; capa
ainda 5,6% do IR, como conseqüência de alterações na sua
legislação, feitas entre 1991 e
1993, cujos efeitos já foram totalmente superados.
Enfraqueceu a base do ICMS
com a Lei Kandir, redisciplinatória desse imposto, ao estabelecer dentre outras benesses a
sua não-incidência sobre todas
as mercadorias exportadas, inclusive os produtos primários e
semi-elaborados.
A elevação da Cofins, em
50%, e a proposta de prorrogação do CPMF e seu aumento
em 90% fragilizam a arrecadação do ICMS, por saturação da
mesma base tributária.
É o momento de efetiva discussão do pacto federativo.
Não mais garantindo-se a parte privilegiada do leão para a
União, mas assegurando solidariedade na partilha com os
demais entes federados. Essa, a
oportunidade que Itamar está
proporcionando, ao virar corajosamente a mesa.
²
Osiris de Azevedo Lopes Filho, 59, advogado, é professor de Direito Tributário da
Universidade de Brasília e ex-secretário da
Receita Federal.
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