São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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BOLSAS
O índice Nasdaq, das empresas norte-americanas de alta tecnologia, subiu 40% em 1998; só a Amazon, 1.081%
"Internetmania' levanta ações nos EUA

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

A "Internetmania" tomou conta da Bolsa de Valores de Nova York. As ações de empresas ligadas à rede não param de subir, dominando cada vez mais o mercado.
Os analistas consideram que há exageros óbvios, mas não arriscam apostar em uma baixa nos preços das ações. Como uma bola de neve, quanto maior o fluxo de recursos para os papéis da Internet, maior a quantidade de fundos de investimento interessados neles.
"Os investidores estão comprando um mundo virtual, do futuro. Estão apostando que as empresas ligadas à Internet darão lucros", diz Rodrigo Moraes, do Banco Rendimento.
"Empresas muito fortes foram construídas na Internet em um espaço muito curto de tempo. Algumas dessas companhias serão as líderes da economia no próximo milênio", disse o especialista Fred Wilson ao jornal "The New York Times".
A Amazon, empresa que vende livros, vídeos e CDs pela rede, é o exemplo mais claro da "Internetmania". Ela não produz nada. Até agora, também não dá lucros. Sua ação teve alta de nada menos do que 1.081% no ano passado, contra valorização de cerca de 16% do índice Dow Jones, das 30 ações mais negociadas em Nova York.
Quer dizer que o papel está caro e é hora de vender? Pode ser, mas na primeira semana de 99 o papel acumula alta de mais 77%. Quem não tem a ação acaba comprando, com medo de perder mais uma nova valorização.
O valor de mercado da Amazon, na sexta-feira, era de cerca de US$ 30 bilhões, mais do que todo o mercado editorial dos Estados Unidos.
Como comparação, cabe notar que Petrobrás vale cerca de US$ 12,46 bilhões na deprimida Bolsa de Valores de São Paulo. A Eletrobrás tem valor de mercado de US$ 8,88 bilhões, a Vale do Rio Doce, de US$ 5,1 bilhões, a Telesp Operadora, de US$ 7,84 bilhões, e o Banespa, de US$ 1,6 bilhão, segundo levantamento da Economática.
As cinco gigantes brasileiras valem, juntas, quase US$ 36 bilhões, pouco mais do que a Yahoo. A empresa, que ajuda os internautas a realizar buscas na rede, valia quase US$ 35 bilhões na última sexta-feira.
O caso da Ebay também é gritante. A empresa, que realiza leilões pela Internet, lançou suas ações no mercado norte-americano em setembro do ano passado. No primeiro negócio, o papel da empresa valia US$ 44,875. Terminou o ano a US$ 241,25, uma valorização de 438%. Neste ano, o papel da empresa teve alta de mais de 26,37%.
Na quarta-feira, a Ebay, que fatura cerca de US$ 65 milhões por ano, valia US$ 11,9 bilhões no mercado de ações de Nova York, pouco menos do que os US$ 12,7 bilhões da conhecida produtora de alumínio Alcoa.
A American Online valia cerca de US$ 68,2 bilhões na sexta-feira, tanto quanto a Walt Disney.
"É inútil tentar encontrar qualquer explicação racional para os preços astronômicos das ações de empresas da Internet", disse o analista Keith Benjamin ao "The New York Times".
Quando os investidores escolhem uma categoria para liderar o mercado, não há limites para o preço que eles irão pagar para ter aquela ação, afirma ele.
Para Benjamin, a principal lição do investimento em ações de 98 foi: "não reme contra a corrente". Quem quis fugir das caras ações da Internet e comprou as baratas ações brasileiras, por exemplo, perdeu um bom dinheiro. A Bolsa de Valores de São Paulo caiu 33,46% no ano passado. Mas o índice Nasdaq, das empresas de alta tecnologia norte-americanas, subiu 40%.



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