São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 2007

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China tira espaço de bens do Brasil no mercado argentino

Participação de TVs brasileiras nas importações da Argentina diminuiu de 88% para 35%; a da China subiu de 1% para 35%

Compra de produtos chineses pelo país vizinho cresceu 159% nos últimos seis anos; as importações do Brasil tiveram alta de 82%


CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de enfrentar a concorrência de importados chineses no mercado doméstico, setores da indústria nacional perdem espaço para a China na vizinha Argentina, principal sócia do Brasil no Mercosul.
As vendas do país asiático para a Argentina cresceram nos últimos seis anos 159%, quase o dobro das realizadas pelo Brasil -82%. Nesse período, as importações totais argentinas subiram 35%, para US$ 34,16 bilhões em 2006.
A partir de 2002, auge da crise argentina, as importações de bens brasileiros cresceram a uma média anual de 49%, enquanto as de chineses subiram em média 76,8% ao ano.
Mesmo assim, o Brasil continua a ocupar o primeiro lugar entre os fornecedores do país, com participação de 34,3% do total no ano passado. A China aparece em terceiro lugar, atrás dos Estados Unidos, com uma fatia de 9,23%. Mas, enquanto a participação do Brasil registrou pequena queda em relação ao ano anterior, quando foi de 34,56%, a da China subiu -havia sido de 7,92% em 2005.
Estudo da consultoria abeceb.com mostra que em alguns produtos houve uma evidente substituição de importados brasileiros por chineses no período de 2003 a 2006.
Mauricio Claverí, economista da entidade, afirma que esse movimento ocorreu de maneira acentuada nas compras de eletrônicos, bens de capital, manufaturados de plástico, produtos farmacêuticos, calçados e brinquedos.
Em 2003, os televisores brasileiros representaram 88% das importações argentinas do produto, e os chineses, 1%. Três anos depois, a participação do Brasil caiu para 35%, mesmo índice obtido pela China.
No caso de impressoras laser, a entrada de importados chineses varreu os concorrentes brasileiros do mercado. A fatia do país asiático nesse segmento saltou de 14% para 90% entre 2003 e 2006. No mesmo período, a participação brasileira caiu de 73% para zero.
Alvo de cotas de importações adotadas nos últimos dois anos, os calçados brasileiros também perderam terreno: sua presença nas compras argentinas caiu de 79,6%, em 2003, para 59,6% no ano passado. Já os chineses passaram de 12% para 25,6%.
Segundo Claverí, a maior participação das importações da China ocorre principalmente com o prejuízo das compras do Brasil. "Há grande semelhança entre o que a Argentina importa do Brasil e da China."
Mas os Estados Unidos também viram sua presença diminuir e devem ser ultrapassados pela China em breve no ranking dos maiores fornecedores da Argentina. Em 2006, as importações de produtos norte-americanos somaram US$ 4,11 bilhões, o equivalente a 12% do total. No ano anterior, o valor foi de US$ 4,49 bilhões -15% das importações da Argentina.
Do lado brasileiro, as compras crescentes de produtos chineses desbancaram a Argentina do tradicional posto de segundo maior fornecedor do Brasil. Nos últimos 12 meses encerrados em janeiro, as importações da China somaram US$ 8,30 bilhões, e as da Argentina, US$ 8,13 bilhões.
Mas as compras de produtos chineses têm tirado mercado principalmente dos bens norte-americanos. Os EUA se mantêm na liderança dos fornecedores brasileiros, mas sua fatia do total caiu de 21,78%, em 2002, para 16,07%, em 2006, quando as importações do país somaram US$ 14,7 bilhões.


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