São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF
A bola está com FHC

É importante que os próximos dias e o feriado de Carnaval sejam adequadamente utilizados para que todos esfriem a cabeça e para que se montem as bases de um pacto nacional que permita a superação dos problemas atuais. Não dá para carregar mais a agenda, paralisando toda ação de governo, em um momento em que a questão cambial exige prioridade absoluta.
A responsabilidade maior repousa nas costas do próprio FHC. Sair apagando incêndio todo dia, sem um plano de vôo adequado, serve apenas para consumir energias sem trazer soluções. E ainda se está apenas no começo dessa batalha da estabilização cambial.
Os números iniciais do acordo renegociado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) mais uma vez demonstram inconsistência técnica ou miopia política. Para o Fundo exigir 4% de superávit fiscal, significa que está trabalhando com hipóteses de juros elevados. E as expectativas do mercado não comportam manutenção de taxas elevadas por muito tempo.
Seria conveniente a quem se limita a dizer que a única saída são juros altos que explicasse de que maneira se administrarão as expectativas de mercado e os temores de "default" com crescimento dos passivos.
O mais relevante, nos próximos dias, será o presidente retomar a iniciativa política. A política não comporta o vácuo. E a falta de iniciativa em diversas frentes começa a passar a sensação perigosa de ausência de governo.
FHC tem a seu favor o agravamento da crise, que tem tornado a própria oposição mais moderada. No entanto, temas como pacto social podem ser levantados, mas desde que em bases concretas e legítimas. E aí a iniciativa do presidente é insubstituível. Ficando onde está, nessa cantilena interminável de que cortes e mais cortes, por si, irão resolver a questão da crise, será condenar toda a nação ao imobilismo.
Residirá na habilidade de FHC em pensar um novo desenho de política econômica que incorpore novos atores políticos o reencontro do país com a tranquilidade que lhe permita atravessar inteiro os próximos meses.

Pássaro azul
Sugere-se a FHC que no Carnaval leve na bagagem o plano de governo de sua coligação -"Premissas e Projeções para um Programa de Governo", apresentado pelo PFL à coligação "União, Trabalho e Progresso", que o elegeu. É livro de 490 páginas, de setembro de 1998. Especial atenção às páginas da 48 em diante, que falam no encontro de contas do setor público. Além de um programa de governo pronto, FHC levará de lambuja a fórmula para resolver a crise com os Estados.

Câmbio
É grave a informação divulgada pelo repórter Vicente Nunes, da "Gazeta Mercantil", de que fiscais do Banco Central estariam investigando a atuação de três bancos que, dois dias antes da mudança da banda cambial, adquiriram US$ 5 bilhões, com o dólar a R$ 1,20 -no período entre a decisão (não o anúncio) da saída de Gustavo Franco e a mudança cambial.
Por mais que a política cambial estivesse fazendo água, e mudanças cambiais já fossem previstas, ninguém faria aposta de vida e morte como essa, dois dias antes da mudança, baseado apenas em análises ou "feeling".

Fronteira
No Uruguai, a maior rede de supermercados demitiu mil funcionários esta semana -o equivalente a uma Ford demitindo 10 mil no Brasil. Inverteu-se completamente o movimento da fronteira, com uruguaios, paraguaios e argentinos indo comprar do lado brasileiro, inclusive carne que, pela primeira vez em muito tempo, ficou mais barata que a dos países vizinhos.
É questão de tempo para que suas moedas acompanhem a desvalorização do real.

Leon Feffer
Morto domingo, o empresário Leon Feffer foi um paradigma para o país. Imigrante russo, sua obsessão pela inovação e pela pesquisa, a análise objetiva das condições nacionais de clima e solo, legaram ao Brasil competitividade única em um dos setores mais importantes da economia nacional: papel e celulose.
Qualquer levantamento competente o relacionará entre os cinco ou dez empresários brasileiros mais importantes do século.

E-mail: lnassif@uol.com.br


Texto Anterior: Estados: Governo gaúcho vai suspender isenções
Próximo Texto: Telecomunicação: Globopar e Bradesco vendem participação em duas teles
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.