São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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Setor financeiro tenta atrair Oriente Médio

Bolsas e bancos brasileiros buscam ampliar captação de investimentos da região, favorecida por preço alto do petróleo

BM&F recebeu primeira leva de visitantes de Dubai na semana passada; Itaú, BB e Bradesco criam estratégia para buscar investidores

Karim Sahib - 14.fev.08/France Presse
Vista de Dubai; Brasil quer investimentos da região


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cada semana cerca de US$ 8 bilhões brotam do chão e entram em circulação na economia do Oriente Médio. Com o petróleo acima de US$ 100 o barril, os países produtores acordam todos os dias um pouco mais ricos e saem em busca de investimentos que remunerem tanto dinheiro.
A estimativa, feita apesar da dificuldade de obter as cifras exatas movimentadas pelos árabes, chamou a atenção do Brasil. Depois da Ásia, o Oriente Médio despontou como a nova rota de negócios para empresários brasileiros.
O alvo principal tem sido Dubai, centro financeiro e turístico da região. Mas também entrou na lista Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes, produtor de petróleo e de gás natural.
"O potencial [de negócios] é imenso. Apenas em Dubai, que não tem uma participação tão grande do petróleo no PIB [Produto Interno Bruto], entram em circulação por dia US$ 340 milhões em dinheiro novo", diz Manoel Félix Cintra Neto, presidente da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuro). "E eles precisam investir."
Na última semana, Cintra Neto recebeu representantes do distrito financeiro de Dubai -uma primeira conquista depois da visita dos brasileiros no fim de 2007, quando a Bolsa abriu capital.

Interesse financeiro
Ao contrário do que aconteceu na China e na Índia, onde o foco dos negócios é a venda de produtos brasileiros e a implantação de fábricas para aproveitar mão-de-obra barata, no Oriente Médio o objetivo tem sido atrair ao Brasil parte dos bilhões de dólares que a região tem despejado no mundo.
Foram os investidores árabes, concentrados especialmente em fundos soberanos ou em fundos de investimento familiares, que participaram ativamente do socorro a instituições financeiras como Citigroup e UBS, atingidas pela crise imobiliária americana.
Agora, bancos e instituições financeiras brasileiras também querem parte desses recursos. Os empresários buscam alternativas de financiamentos para seus projetos e até o governo quer sócios capitalistas para o PAC, conjunto de obras prometido para destravar os obstáculos ao crescimento.
Mas a missão não é fácil. "O mundo todo está disputando esses investidores, e o primeiro interesse deles não é aqui", diz Cristiana Pereira, diretora-adjunta de projetos e relações internacionais da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).
Além da distância (14 horas em vôo direto), ela cita como obstáculos o fuso horário (sete horas em relação a Brasília), a língua, a cultura e o pouco conhecimento sobre o Brasil.
Não é à toa que a participação direta dos árabes na negociação de ações na Bovespa é de apenas 1% do volume diário de negócios. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) tem registro de 28 fundos de investimento árabes no mercado de capitais, sendo que metade pediu autorização para funcionar apenas no ano passado.
"Quando apostamos na Ásia, o percentual de negócios também era baixo", conta Pereira, ressaltando que, dois anos depois, a participação subiu para 4%. "Temos de nos mostrar viáveis e com credibilidade".
Além da BM&F, Itaú e Bradesco estiveram na região nos últimos meses tentando conquistar investidores. O Banco do Brasil abriu escritório de representação há dois meses.
Roberto Nishikawa, presidente da Itaú Corretora, diz que, para os árabes, Brasil ainda é novidade. "São investidores altamente seletivos, e o país deve se comunicar com eles com projetos bons e rentáveis."
A perspectiva do "grau de investimento" também é peça-chave em sua atração. "A expectativa de o Brasil virar "investment grade" [selo dado a economias confiáveis] ajuda", diz Jean Leroy, diretor do Departamento de Relações com Mercado do Bradesco. "O Oriente Médio entrou em nossa agenda anual e estaremos lá, no mínimo uma vez por ano."
José Maria Rabelo, vice-presidente da área internacional do BB, diz que há oportunidade para a relação do Brasil com a região ir além da área financeira. "Há espaço para elevar exportações, e o BB está interessado em linhas de financiamento ao comércio exterior."


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