São Paulo, terça-feira, 10 de março de 2009

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Brasil nega acordo com EUA contra Chávez

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O Planalto e o Itamaraty pretendem aprofundar as discussões sobre a redução ou o fim da sobretaxa americana para o álcool brasileiro, considerada muito mais importante do que introduzir na agenda bilateral, neste momento, um aumento das exportações de petróleo.
Conforme a Folha apurou, além da preferência pelos biocombustíveis nacionais, de bom "marketing" para o país no exterior, há a questão diplomática: tudo o que o presidente Lula não quer é passar a impressão de estar fazendo um acordo com os EUA para prejudicar a Venezuela.
Segundo reportagem publicada ontem no jornal espanhol "El País", sob o título "Obama quer o petróleo de Lula", o presidente Barack Obama pretende reduzir a dependência americana do petróleo venezuelano aumentando as compras do petróleo brasileiro. Brasília e Washington já estariam mantendo "contatos informais" nesse sentido.
O governo brasileiro reagiu rapidamente, nos bastidores, para negar a possibilidade.
A economia da Venezuela é fortemente baseada no petróleo e particularmente na exportação para os EUA, para onde vende até 70% da produção. Tanto que o presidente Hugo Chávez vivia às turras com o ex-presidente George W. Bush, mas nenhum dos dois moveu um centímetro para romper ou mesmo reduzir acordos comerciais bilaterais.
Com a crise global, a retração do mercado de commodities e a queda do preço do petróleo, a situação venezuelana passa a ser uma incógnita. O Brasil seria "o último" -nas palavras de um diplomata- a contribuir para um agravamento da situação interna do país vizinho.
Ao contrário, a intenção é que Lula fale e aja como uma espécie de "enviado" dos vizinhos para defender não só os interesses brasileiros mas da América do Sul no primeiro encontro que terá com Obama, no sábado, em Washington.
Na versão do Planalto e do Itamaraty, o tema petróleo não está incluído na agenda de Obama e Lula, como também não foi tratado no encontro que o chanceler Celso Amorim teve com a secretária de Estado, Hillary Clinton, para, entre outras coisas, começar a definir a pauta presidencial.
Um dos itens dessa pauta é o prosseguimento dos acordos iniciados com Bush para pesquisa e cooperação em biocombustíveis, inclusive colaborando com terceiros países, como os do Caribe.
Além da questão científica e econômica, os biocombustíveis entram no horizonte diplomático como propaganda brasileira, porque remetem a temas caros sobretudo aos países desenvolvidos, como ambiente e energia limpa e renovável.
Há, ainda, uma questão prática: apesar do aumento da produção e da exportação do petróleo cru brasileiro, as pesquisas, a extração, o aproveitamento e a eventual comercialização do petróleo do pré-sal brasileiro ainda não têm cronograma definido e certamente não são para o curto prazo.
Falar agora de um aumento de venda para os EUA, em detrimento da Venezuela, soaria mais como provocação do que como uma possibilidade viável.


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