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Brasil nega acordo com EUA contra Chávez
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O Planalto e o Itamaraty pretendem aprofundar as discussões sobre a redução ou o fim
da sobretaxa americana para o
álcool brasileiro, considerada
muito mais importante do que
introduzir na agenda bilateral,
neste momento, um aumento
das exportações de petróleo.
Conforme a Folha apurou,
além da preferência pelos biocombustíveis nacionais, de
bom "marketing" para o país
no exterior, há a questão diplomática: tudo o que o presidente
Lula não quer é passar a impressão de estar fazendo um
acordo com os EUA para prejudicar a Venezuela.
Segundo reportagem publicada ontem no jornal espanhol
"El País", sob o título "Obama
quer o petróleo de Lula", o presidente Barack Obama pretende reduzir a dependência americana do petróleo venezuelano
aumentando as compras do petróleo brasileiro. Brasília e
Washington já estariam mantendo "contatos informais"
nesse sentido.
O governo brasileiro reagiu
rapidamente, nos bastidores,
para negar a possibilidade.
A economia da Venezuela é
fortemente baseada no petróleo e particularmente na exportação para os EUA, para onde vende até 70% da produção.
Tanto que o presidente Hugo
Chávez vivia às turras com o
ex-presidente George W. Bush,
mas nenhum dos dois moveu
um centímetro para romper ou
mesmo reduzir acordos comerciais bilaterais.
Com a crise global, a retração
do mercado de commodities e a
queda do preço do petróleo, a
situação venezuelana passa a
ser uma incógnita. O Brasil seria "o último" -nas palavras de
um diplomata- a contribuir
para um agravamento da situação interna do país vizinho.
Ao contrário, a intenção é
que Lula fale e aja como uma
espécie de "enviado" dos vizinhos para defender não só os
interesses brasileiros mas da
América do Sul no primeiro encontro que terá com Obama, no
sábado, em Washington.
Na versão do Planalto e do
Itamaraty, o tema petróleo não
está incluído na agenda de
Obama e Lula, como também
não foi tratado no encontro
que o chanceler Celso Amorim
teve com a secretária de Estado, Hillary Clinton, para, entre
outras coisas, começar a definir
a pauta presidencial.
Um dos itens dessa pauta é o
prosseguimento dos acordos
iniciados com Bush para pesquisa e cooperação em biocombustíveis, inclusive colaborando com terceiros países, como
os do Caribe.
Além da questão científica e
econômica, os biocombustíveis
entram no horizonte diplomático como propaganda brasileira, porque remetem a temas
caros sobretudo aos países desenvolvidos, como ambiente e
energia limpa e renovável.
Há, ainda, uma questão prática: apesar do aumento da produção e da exportação do petróleo cru brasileiro, as pesquisas, a extração, o aproveitamento e a eventual comercialização do petróleo do pré-sal
brasileiro ainda não têm cronograma definido e certamente não são para o curto prazo.
Falar agora de um aumento
de venda para os EUA, em detrimento da Venezuela, soaria
mais como provocação do que
como uma possibilidade viável.
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