|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fundo compara equipe de Lula ao futebol do país, ambos de 1º classe
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) equiparou indiretamente o ministro brasileiro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, ao
craque de futebol Ronaldo, ao dizer, pela boca do seu economista-chefe, Kenneth Rogoff, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
escalou "uma equipe econômica
de primeira classe, que se segue a
outra equipe econômica de primeira classe, ambas comparáveis
ao time de futebol brasileiro, de
primeira classe".
Rogoff usou a expressão "world
class", que seria literalmente
"classe mundial", e é usada para
se referir a tudo o que tem padrão
de excelência.
O hiperelogio faz parte de uma
catarata de referências elogiosas
ao desempenho do governo Lula
contidas no estudo "Perspectivas
para a Economia Mundial", relatório semestral sobre o estado da
economia no planeta habitualmente divulgado pelo Fundo às
vésperas de suas reuniões gerais.
O relatório cita o Brasil "e, até
recentemente, a Turquia" como
responsáveis pela melhora nas
condições de financiamento para
mercados emergentes.
Diz: "Nos mercados emergentes, as condições de financiamento melhoraram, refletindo um
melhor sentimento em relação ao
Brasil e, até recentemente, à Turquia, em seguida às eleições nesses países".
É verdade que, ao divulgar ontem o WEO (sigla em inglês para
"World Economic Outlook"), Rogoff disse ser necessário acrescentar "uma nota de cautela" em relação ao Brasil, mas comentou também que "o desempenho inicial
[do governo Lula" é muito bom".
Tão bom que atribuiu "às políticas surpreendentemente boas" o
fato de ter caído o "spread" nos
empréstimos aos mercados emergentes.
Refere-se, essencialmente, ao
risco-país, que, na prática, é a taxa
que os mercados internacionais
cobram além da taxa de juros dos
EUA para colocar dinheiro em
países em desenvolvimento.
Cautela
De fato, o risco-país para o Brasil caiu substancialmente desde
que Lula assumiu. Só do início do
ano até terça-feira, a queda tinha
sido de mais de 35% -de 1.445
para 937 pontos. Isso sem contar
que, durante a campanha eleitoral, o índice tinha atingido seu recorde histórico: em 27 de setembro, 2.440 pontos -ou uma taxa
24,4 pontos percentuais acima do
que pagam os títulos dos EUA.
A "nota de cautela" vale especificamente para questões conjunturais, mas poderia ser aplicada
também para déficits estruturais
do Brasil.
De todo modo, os elogios e o entusiasmo predominam sobre a
cautela, a ponto de o FMI assumir
como sua a agenda do governo
petista, ao ressaltar "a importância de implementar plenamente o
programa econômico do governo, incluindo uma política fiscal
suficientemente apertada, consistente com a redução da relação
entre a dívida e o PIB no médio
prazo; reformas tributária e previdenciária; política monetária
orientada a restaurar uma inflação baixa, de acordo com a moldura das metas de inflação; e progressos adicionais na reforma estrutural".
Mas Rogoff, na entrevista coletiva que concedeu ontem pela manhã, foi além dessa agenda que o
governo Lula já está implementando ou tentando implementar.
Ao falar mais abrangentemente
sobre a América Latina, o economista do FMI lembrou que o crescimento da região tem sido "muito fraco" (a previsão do próprio
Fundo é de apenas 1,5% para este
ano) e defendeu o receituário ortodoxo clássico para estimular o
crescimento.
A saber: flexibilização do mercado de trabalho, abrir mais a
economia para o comércio internacional e "procurar terreno mais
seguro para a dívida".
Rogoff justificou a necessidade
de "terreno mais seguro" com a
observação de que países com
histórico de calotes (caso de boa
parte dos latino-americanos, Brasil inclusive) "são mais vulneráveis aos ventos dos capitais internacionais".
(CLÓVIS ROSSI)
Texto Anterior: Brasil não cumpre requisitos de economia "bem-sucedida" Próximo Texto: Metodologia "incha" inflação Índice
|