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São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

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Fundo compara equipe de Lula ao futebol do país, ambos de 1º classe

ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) equiparou indiretamente o ministro brasileiro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, ao craque de futebol Ronaldo, ao dizer, pela boca do seu economista-chefe, Kenneth Rogoff, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escalou "uma equipe econômica de primeira classe, que se segue a outra equipe econômica de primeira classe, ambas comparáveis ao time de futebol brasileiro, de primeira classe".
Rogoff usou a expressão "world class", que seria literalmente "classe mundial", e é usada para se referir a tudo o que tem padrão de excelência.
O hiperelogio faz parte de uma catarata de referências elogiosas ao desempenho do governo Lula contidas no estudo "Perspectivas para a Economia Mundial", relatório semestral sobre o estado da economia no planeta habitualmente divulgado pelo Fundo às vésperas de suas reuniões gerais.
O relatório cita o Brasil "e, até recentemente, a Turquia" como responsáveis pela melhora nas condições de financiamento para mercados emergentes.
Diz: "Nos mercados emergentes, as condições de financiamento melhoraram, refletindo um melhor sentimento em relação ao Brasil e, até recentemente, à Turquia, em seguida às eleições nesses países".
É verdade que, ao divulgar ontem o WEO (sigla em inglês para "World Economic Outlook"), Rogoff disse ser necessário acrescentar "uma nota de cautela" em relação ao Brasil, mas comentou também que "o desempenho inicial [do governo Lula" é muito bom".
Tão bom que atribuiu "às políticas surpreendentemente boas" o fato de ter caído o "spread" nos empréstimos aos mercados emergentes.
Refere-se, essencialmente, ao risco-país, que, na prática, é a taxa que os mercados internacionais cobram além da taxa de juros dos EUA para colocar dinheiro em países em desenvolvimento.

Cautela
De fato, o risco-país para o Brasil caiu substancialmente desde que Lula assumiu. Só do início do ano até terça-feira, a queda tinha sido de mais de 35% -de 1.445 para 937 pontos. Isso sem contar que, durante a campanha eleitoral, o índice tinha atingido seu recorde histórico: em 27 de setembro, 2.440 pontos -ou uma taxa 24,4 pontos percentuais acima do que pagam os títulos dos EUA.
A "nota de cautela" vale especificamente para questões conjunturais, mas poderia ser aplicada também para déficits estruturais do Brasil.
De todo modo, os elogios e o entusiasmo predominam sobre a cautela, a ponto de o FMI assumir como sua a agenda do governo petista, ao ressaltar "a importância de implementar plenamente o programa econômico do governo, incluindo uma política fiscal suficientemente apertada, consistente com a redução da relação entre a dívida e o PIB no médio prazo; reformas tributária e previdenciária; política monetária orientada a restaurar uma inflação baixa, de acordo com a moldura das metas de inflação; e progressos adicionais na reforma estrutural".
Mas Rogoff, na entrevista coletiva que concedeu ontem pela manhã, foi além dessa agenda que o governo Lula já está implementando ou tentando implementar.
Ao falar mais abrangentemente sobre a América Latina, o economista do FMI lembrou que o crescimento da região tem sido "muito fraco" (a previsão do próprio Fundo é de apenas 1,5% para este ano) e defendeu o receituário ortodoxo clássico para estimular o crescimento.
A saber: flexibilização do mercado de trabalho, abrir mais a economia para o comércio internacional e "procurar terreno mais seguro para a dívida".
Rogoff justificou a necessidade de "terreno mais seguro" com a observação de que países com histórico de calotes (caso de boa parte dos latino-americanos, Brasil inclusive) "são mais vulneráveis aos ventos dos capitais internacionais".
(CLÓVIS ROSSI)


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