São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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Senador pede meta de inflação maior em 2006

DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO

O líder do governo no Congresso, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), defendeu a flexibilização do regime de metas de inflação, dizendo que o BC (Banco Central) deveria ter em 2006 como objetivo central uma taxa de 5,5% -ou 1 ponto percentual a mais do que a meta prevista, de 4,5%.
Em apresentação no Fórum Nacional, no Rio, Mercadante disse que a alteração, já defendida por ele no âmbito do governo no ano passado, permitiria ao país perseguir de forma mais adequada o "crescimento sustentável" e gerar mais empregos. Em sua proposta, o intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais seria mantido. O limite máximo a ser perseguido pelo BC chegaria a 8%.
Presente ao mesmo evento, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), disse que o governo não cogita mudar a meta de 2006. "Ninguém nem está propondo [isso agora], em junho vamos discutir a meta de 2007." Em julho, o CMN (Conselho Monetário Nacional) definirá a meta de 2007. A de 2006 foi definida em 2004.
Palocci defendeu a política monetária, embora tenha reconhecido que ela pressiona o endividamento do país em razão do aumento dos juros: "Esse é um impacto [negativo da política monetária], mas há um pior, o da inflação na renda das famílias e no crescimento. O problema da política monetária é que ou ela faz o ajuste ou a inflação faz, cortando a renda das pessoas mais pobres".
O ministro declarou ainda que não há um pacote de medidas alternativas para controlar a inflação. E explicou as declarações do presidente Lula sobre o assunto: "Não há nenhum pacote de medidas. O que o presidente ressaltou [na semana passada] é que há importantes instrumentos de política econômica que se ajudam, auxiliares à política monetária, como a política fiscal e como essa questão que eu falei da telefonia [elaboração de novos contratos com indicadores setoriais e não mais o IGP-DI]". Segundo o ministro, não "há coelhos na cartola" para conter a inflação.

Erro do governo
Na defesa de uma meta mais flexível, Mercadante disse que o governo errou ao fixar uma meta de 4,5% para este ano mesmo sem ter cumprido o objetivo de 2004, o que o obrigou a ajustá-la no curso deste ano -para 5,1%.
"Olhando para a história, é uma meta bastante ambiciosa. Só em dois anos o país conseguiu taxas menores do que essa: em 1946, com o governo Dutra "queimando reservas" e em 1998, às vésperas da "crise especulativa"."
Ao defender a mudança, Mercadante afirmou que ela permitirá que a inflação atual se acomode "num período mais longo" para o patamar pretendido, o que possibilitaria caminhar de modo mais tranqüilo para um cenário de crescimento sustentável com recuperação do emprego.
Para compensar a adoção de uma meta mais flexível, ele defende maior rigidez fiscal. "Temos de fazer bastante esforço fiscal, que é nosso grande desafio, especialmente nas contas da Previdência, na quais há bastante margem."

Pastore discorda
Também durante apresentação no fórum, o economista Affonso Celso Pastore discordou de Mercadante, afirmando que muitas vezes uma "maior carga de política fiscal possibilita uma menor carga (juros mais altos)" de política monetária, sem a necessidade de alterar as metas de inflação.
Na defesa de elevados superávits fiscais, Pastore diz que a relação dívida/PIB no Brasil ainda é muito alta -na casa de 51%, segundo ele- e que só sucessivos esforços fiscais por longos períodos permitirão a redução do indicador e a conseqüente queda do risco Brasil. Citou o exemplo de México e Chile, que trabalharam para ter altos superávits e obtiveram grau de investimento em suas avaliações de risco. No México, a relação dívida/PIB é de 20%. No Chile, de 7%. (CT e PS)


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