São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2005

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CRÉDITO

Ex-ministro José Graziano diz que as condições dos empréstimos concedidos aos agricultores já "são muito vantajosas"

Assessor de Lula rejeita renegociar dívidas

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Segurança Alimentar e Combate à Fome José Graziano disse ser contrário a uma ampla renegociação de dívidas agrícolas porque "são muito vantajosas" as condições dos empréstimos.
Segundo Graziano, na comparação com a taxa Selic (19,5% ao ano), há um "subsídio" que equivale a dez pontos percentuais. Especialista em economia agrícola, ele disse ainda que os pequenos devedores "pagam mais" do que os grandes e que seria "injustiça" premiar estes últimos com uma renegociação dos débitos.
A Folha revelou ontem que, com o apoio do ministro Roberto Rodrigues (Agricultura), a bancada ruralista pressiona a equipe econômica para promover a renegociação geral das dívidas agrícolas -a terceira desde o lançamento do Real, há quase 11 anos.
As dívidas beneficiadas pelas renegociações de 1995 e de 2001 somam hoje R$ 20,5 bilhões, dos quais R$ 9,8 bilhões já vencidos. Há quatro anos, o Tesouro Nacional assumiu o risco de praticamente todas essas operações.
Graziano rebateu o argumento de que é necessária a renegociação porque 2005 tem sido um ano duro para os agricultores, como dizem Rodrigues, as entidades ruralistas e a bancada do setor no Congresso Nacional.
"O Brasil rural quebrou neste ano. O momento é de encontrar opções para que ele [o produtor] não pague nada neste ano e ainda receba um tipo de financiamento para conseguir recursos para plantar no próximo ano", afirma João Bosco Leal, presidente do MNP (Movimento Nacional de Produtores).
Graziano discorda: "Quando as dívidas precisam ser assumidas pelo Tesouro, é porque já estão há cinco anos sem quitação nos bancos oficiais. Não é um processo que teve início neste ano".
O assessor especial de Lula diz ainda que funcionários públicos, como o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, podem ser judicialmente responsabilizados se não inscreverem tais débitos na dívida ativa da União.
No ano passado, a Fazenda passou a ameaçar os devedores inadimplentes com a inscrição de seus nomes na chamada dívida ativa da União -o que tiraria dos produtores as condições privilegiadas concedidas nas renegociações e levaria as dívidas a serem corrigidas pela Selic, atualmente em 19,5% ao ano. É essa diferença nos juros que Graziano considera um "subsídio" equivalente a 10 pontos percentuais.
A inscrição dos devedores na dívida ativa é computada como despesa no cálculo do déficit público, prejudicando as contas do governo, que já arca com os subsídios da renegociação. Já a inadimplência representa perda de receitas.
Rodrigues e ruralistas desejam criar fato consumado: alto montante de inadimplência que torne inevitável a ampla renegociação.


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