São Paulo, sábado, 10 de maio de 2008

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Lula reclama de agências de classificação de risco

"Americanos estão entupidos de dívidas e têm risco zero", queixa-se presidente

Sobre a alta dos alimentos, Lula afirma que "é a chance que o Brasil e o continente africano têm de fazer mais uma revolução agrícola"


Raimundo Paccó/Folha Imagem
O presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) durante inauguração de trecho do Gasoduto Sudeste-Leste na Bahia

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM POJUCA

Menos de dez dias após o Brasil ser elevado à categoria de grau de investimento (espécie de "selo" de bom pagador) pela Standard & Poor's, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem as agências de risco. Durante discurso em Pojuca (93 km de Salvador), Lula disse que a crise dos Estados Unidos "ainda não resvalou no Brasil" e que fica abismado de ver que o risco americano é zero.
"Está numa crise desgraçada, e não tem risco. Aumenta o risco do Brasil, aumenta o risco da Rússia, e os americanos, que estão entupidos de dívidas, têm risco zero. É uma inversão das empresas que medem o risco, na minha opinião", disse o presidente, pouco tempo depois de fazer a primeira solda no gasoduto Cacimbas-Catu, terceiro e último trecho do Gasene (Gasoduto Sudeste-Leste).
Ao lado do governador Jaques Wagner (PT) e dos ministros Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) e Dilma Rousseff (Casa Civil), Lula disse que o Brasil era um país de Terceiro Mundo "até outro dia" e que as nações menos desenvolvidas terão cada vez mais importância na tomada de decisões.
"Ainda não ficamos ricos, nem o Brasil, nem a China, nem a Índia, nem o México, nem a África do Sul, mas a verdade é que nenhuma decisão econômica hoje, no mundo, é tomada sem levar em conta a existência de países importantes que eram considerados periféricos", declarou Lula.
O presidente disse também que nunca trabalhou com a idéia de o Brasil crescer mais de 10% ao ano, como aconteceu na década de 70. "Nunca trabalhei com a idéia de que o Brasil devesse fazer a loucura de crescer 10% ou 15% ao ano, como já crescemos na década de 70. Trabalho com a idéia de que possamos crescer 5%, 6%, 4,5%, mas que seja durante um longo período, para que possamos construir bases sólidas."
Segundo o presidente, seu governo levantou a auto-estima da população. "Houve um tempo em que a gente se conformava em ser pobres, olhávamos para os Estados Unidos com inveja, olhávamos para a Europa deslumbrados. Nós resolvemos cuidar deste país e, agora, a situação é outra."
Depois, o presidente disse: "Cuidar de quem, cara pálida? Daqueles que têm muito dinheiro? Daqueles que já chegaram à universidade? Daqueles que têm o carro que querem? Ou cuidar daqueles que ainda não tiveram a chance nesse país? O meu governo é para todos os brasileiros, mas, preferencialmente, os mais pobres".
Antes de deixar Pojuca e seguir para Lauro de Freitas (região metropolitana de Salvador), Lula comentou a crise mundial de alimentos.
"Temos um problema que não acho grave, que é a subida do preço dos alimentos. Esse é um desafio, não pode ser encarado como uma coisa desastrosa para nós. É a chance que o Brasil e o continente africano têm de fazer mais uma revolução agrícola", disse.
"Ontem [anteontem] recebi uma boa notícia ao ser informado de que o Brasil teve crescimento de 8% na safra agrícola em relação ao ano passado, que foi recorde. Vamos colher 142 milhões de toneladas."


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