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RETOMADA
Apesar de estabilidade em abril, produção do setor mantém trajetória positiva, diz IBGE; alta em relação a 2003 é de 6,7%
Produtos eletrônicos impulsionam indústria
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Com crescimento em setores
como o de material eletrônico e
comunicações (5,5%) e queda no
de alimentos (2%), a produção da
indústria ficou praticamente estável em abril: aumentou 0,1% na
comparação com março, já descontados os efeitos sazonais (típicos de cada período).
Para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apesar da estabilidade, a indústria
manteve uma trajetória positiva,
pois sustentou em abril o alto patamar de produção atingido em
março. Naquele mês, houve expansão de 2% na comparação
com o mês anterior.
Em relação a abril de 2003, o
crescimento foi de 6,7% -havia
sido de 12,4% em março. Nos
quatro primeiros meses de 2004, a
produção subiu 6,1% ante igual
período de 2003.
"Podemos dizer que a indústria
estabilizou depois de crescer 2%
em março, mas o importante é
que a produção se manteve num
patamar elevado", disse Sílvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE.
Especialistas ouvidos pela Folha
concordam que o resultado de
abril não pode ser interpretado
como uma interrupção da retomada da indústria, iniciada no segundo semestre de 2003. Dizem
ainda que os dados divulgados
pelo IBGE reforçam os apresentados anteontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria),
os quais mostram que as vendas
reais da indústria aumentaram
1,33% em abril.
Para o economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall, pesquisas
como a da CNI revelam que a demanda por produtos industrializados está aquecida, o que deve
manter a produção em alta nos
próximos meses.
Esses dados, avalia, são mais
importantes do que os de produção, já que as fábricas podem produzir muito num mês, fazer estoques e ajustar a produção no mês
seguinte. Trata-se, portanto, de
um indicador mais volátil.
Kawall previa um resultado pior
para a indústria no mês de abril:
queda de 0,3% na taxa com ajuste
sazonal.
Alex Agostinni, da Global Invest, afirma que o dado do IBGE
de abril "não pode ser visto como
um sinal do fim do processo de
recuperação do setor", já que há
crescimento em todas as comparações com 2003. "Foi um resultado muito bom pelo fato de ter
mantido o patamar de março",
diz Juan Pedro Jensen, da Tendências Consultoria.
Agostinni diz, porém, que a expansão ainda é concentrada em
duas frentes: exportações e bens
duráveis (veículos e eletrodomésticos, especialmente), alavancados pelo aumento do crédito.
Sales, do IBGE, discorda. Afirma que 23 dos 26 ramos pesquisados tiveram resultados positivos
na comparação com abril de 2003.
Isso indica, segundo ele, uma recuperação "espalhada", diferentemente de 2003, quando a expansão era concentrada em ramos relacionados às exportações
e à agroindústria.
Em abril, lideraram o crescimento, mais uma vez, os bens duráveis (2,9% no indicador com
ajuste sazonal) e de capital (1,5%),
também beneficiados pelo crédito. Jensen destaca que, além da
reação do mercado interno, as exportações também estão alavancando a produção de duráveis e
bens de capital.
Já a fabricação de bens não-duráveis (alimentos e vestuário),
embora tenha registrado a primeira taxa positiva em três meses
(0,2%), ainda não acompanha o
ritmo do resto da indústria.
Sales vê uma melhora "ainda
que discreta" nos não-duráveis,
impulsionada especialmente pelo
aumento dos salários na indústria. A renda ainda retraída dos
demais setores, porém, impede
uma expansão mais vigorosa.
Kawall concorda que existem sinais de reação, citando o aumento
das vendas dos supermercados.
Diz que esses bens são sempre os
que menos caem nas crises (por
serem mais essenciais) e os últimos a reagirem em tempos de recuperação, pois dependem do
rendimento.
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