São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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RETOMADA

Apesar de estabilidade em abril, produção do setor mantém trajetória positiva, diz IBGE; alta em relação a 2003 é de 6,7%

Produtos eletrônicos impulsionam indústria

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Com crescimento em setores como o de material eletrônico e comunicações (5,5%) e queda no de alimentos (2%), a produção da indústria ficou praticamente estável em abril: aumentou 0,1% na comparação com março, já descontados os efeitos sazonais (típicos de cada período).
Para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apesar da estabilidade, a indústria manteve uma trajetória positiva, pois sustentou em abril o alto patamar de produção atingido em março. Naquele mês, houve expansão de 2% na comparação com o mês anterior.
Em relação a abril de 2003, o crescimento foi de 6,7% -havia sido de 12,4% em março. Nos quatro primeiros meses de 2004, a produção subiu 6,1% ante igual período de 2003.
"Podemos dizer que a indústria estabilizou depois de crescer 2% em março, mas o importante é que a produção se manteve num patamar elevado", disse Sílvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE.
Especialistas ouvidos pela Folha concordam que o resultado de abril não pode ser interpretado como uma interrupção da retomada da indústria, iniciada no segundo semestre de 2003. Dizem ainda que os dados divulgados pelo IBGE reforçam os apresentados anteontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), os quais mostram que as vendas reais da indústria aumentaram 1,33% em abril.
Para o economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall, pesquisas como a da CNI revelam que a demanda por produtos industrializados está aquecida, o que deve manter a produção em alta nos próximos meses.
Esses dados, avalia, são mais importantes do que os de produção, já que as fábricas podem produzir muito num mês, fazer estoques e ajustar a produção no mês seguinte. Trata-se, portanto, de um indicador mais volátil.
Kawall previa um resultado pior para a indústria no mês de abril: queda de 0,3% na taxa com ajuste sazonal.
Alex Agostinni, da Global Invest, afirma que o dado do IBGE de abril "não pode ser visto como um sinal do fim do processo de recuperação do setor", já que há crescimento em todas as comparações com 2003. "Foi um resultado muito bom pelo fato de ter mantido o patamar de março", diz Juan Pedro Jensen, da Tendências Consultoria.
Agostinni diz, porém, que a expansão ainda é concentrada em duas frentes: exportações e bens duráveis (veículos e eletrodomésticos, especialmente), alavancados pelo aumento do crédito.
Sales, do IBGE, discorda. Afirma que 23 dos 26 ramos pesquisados tiveram resultados positivos na comparação com abril de 2003. Isso indica, segundo ele, uma recuperação "espalhada", diferentemente de 2003, quando a expansão era concentrada em ramos relacionados às exportações e à agroindústria.
Em abril, lideraram o crescimento, mais uma vez, os bens duráveis (2,9% no indicador com ajuste sazonal) e de capital (1,5%), também beneficiados pelo crédito. Jensen destaca que, além da reação do mercado interno, as exportações também estão alavancando a produção de duráveis e bens de capital.
Já a fabricação de bens não-duráveis (alimentos e vestuário), embora tenha registrado a primeira taxa positiva em três meses (0,2%), ainda não acompanha o ritmo do resto da indústria.
Sales vê uma melhora "ainda que discreta" nos não-duráveis, impulsionada especialmente pelo aumento dos salários na indústria. A renda ainda retraída dos demais setores, porém, impede uma expansão mais vigorosa.
Kawall concorda que existem sinais de reação, citando o aumento das vendas dos supermercados. Diz que esses bens são sempre os que menos caem nas crises (por serem mais essenciais) e os últimos a reagirem em tempos de recuperação, pois dependem do rendimento.


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