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Brasil passa a exportar jovens publicitários
Como no futebol, país vira referência e se torna fornecedor de talentos para o mercado de propaganda internacional
Brasileiros ocupam cargo de destaque em vários países e são apontados por revistas especializadas como novas promessas da publicidade
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Como no futebol, o Brasil virou um celeiro de talentos para
o mercado de publicidade. Há
hoje dezenas de jovens brasileiros em posições de destaque
nas principais agências do
mundo. Apenas em San Francisco, sete diretores de criação
são brasileiros. A lista segue em
várias áreas e diversos países.
"O mercado internacional de
propaganda está aquecido e,
como no futebol, o Brasil não
tem a exclusividade de mandar
craques para fora", afirma PJ
Pereira, 33, diretor de criação
da AKQA em San Francisco.
"Mas alguns dos publicitários
mais prestigiados no mundo
hoje são brasileiros."
PJ, por exemplo, está na lista
das 50 pessoas donas das grandes idéias que surgiram ou foram executadas em 2006 para
marcas e tendências de consumo, da revista "Creativity".
Ele não é o único. Fernanda
Romano, 32, acaba de aparecer
na lista "Women to Watch", da
revista "Advertising Age". Lá
estão as publicitárias mais promissoras do mundo.
Diretora de criação da Lowe
Nova York, no último ano Romano conquistou cinco contas
grandes para a agência. O resultado foi tão bom que ela acaba
de ser promovida a diretora
mundial de criação de um grupo novo de agências da própria
Lowe, a Lowe Latina (Lola). Sediada em Madri, a Lola pretende usar a criatividade latina para fazer campanhas mundiais.
"Os brasileiros têm um talento incrível, mas, infelizmente,
ninguém faz campanhas mundiais a partir do Brasil", diz Romano. "Eu queria ter essa credencial internacional."
A experiência no exterior é
um ponto em comum apontado
para a escolha dos expatriados.
Outro é a violência. "Eu tinha a
minha agência [Click], a mais
premiada da área e cheia de
clientes, mas estava cansado do
medo de ser assaltado", diz Pereira. "Quando apareceu o convite, fui embora."
Ritmo brasileiro
O cenário desfavorável, no
entanto, dá ao profissional brasileiro resiliência para se destacar lá fora. Daniela Ribeiro, 33,
tornou-se diretora de criação
da Fischer Portugal há seis meses. Graças à competitividade e
à velocidade do mercado nacional, trabalha num ritmo mais
forte e diferenciou a agência.
"Os clientes ficam espantadíssimos quando chegamos
com três, quatro idéias para
uma campanha", diz Ribeiro.
"No Brasil, temos de lutar loucamente pelo emprego, o que
não acontece na Europa."
Nem mesmo em Nova York,
onde circulam 80% dos US$
270 bilhões movimentados
anualmente pela publicidade
americana, o ritmo "indolente"
brasileiro deixa a desejar.
"Nos EUA trabalha-se muito,
mas, às 7 da noite, todo mundo
vai para casa", diz Romano.
"Para dar a virada na Lowe, impus o ritmo brasileiro."
Outra carência nacional, a
falta de verba, também é uma
vantagem para quem vai para
fora. "No Brasil a gente samba,
dá uma rebolada e se vira nos
30", diz Mauro Ramalho, 26, diretor de arte da Organic Toronto. "Com os recursos daqui, fazemos muita coisa boa."
Ter fama de criativo, no entanto, não garante vaga no exterior. Romano, por exemplo,
conquistou sete leões de ouro
no Festival de Cannes de 2005.
Ramalho levou o prestigiado
prêmio D&AD, em 2006. Depois, vieram as propostas.
Além disso, nem tudo é simples na experiência internacional. A resistência a jovens de
um país em desenvolvimento é
grande em muitos lugares. Romano, por exemplo, tem abaixo
de si cinco diretores. São quatro americanos e um inglês, todos homens e mais velhos.
"Foi muito difícil no começo", afirma. "Mas não tenho
medo de cabelo branco e tinha
de me provar." Segundo ela, depois de algum tempo, passaram
a respeitá-la. "Hoje trabalhamos muito bem juntos", diz.
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