São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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Brasil passa a exportar jovens publicitários

Como no futebol, país vira referência e se torna fornecedor de talentos para o mercado de propaganda internacional

Brasileiros ocupam cargo de destaque em vários países e são apontados por revistas especializadas como novas promessas da publicidade

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Como no futebol, o Brasil virou um celeiro de talentos para o mercado de publicidade. Há hoje dezenas de jovens brasileiros em posições de destaque nas principais agências do mundo. Apenas em San Francisco, sete diretores de criação são brasileiros. A lista segue em várias áreas e diversos países.
"O mercado internacional de propaganda está aquecido e, como no futebol, o Brasil não tem a exclusividade de mandar craques para fora", afirma PJ Pereira, 33, diretor de criação da AKQA em San Francisco. "Mas alguns dos publicitários mais prestigiados no mundo hoje são brasileiros."
PJ, por exemplo, está na lista das 50 pessoas donas das grandes idéias que surgiram ou foram executadas em 2006 para marcas e tendências de consumo, da revista "Creativity".
Ele não é o único. Fernanda Romano, 32, acaba de aparecer na lista "Women to Watch", da revista "Advertising Age". Lá estão as publicitárias mais promissoras do mundo.
Diretora de criação da Lowe Nova York, no último ano Romano conquistou cinco contas grandes para a agência. O resultado foi tão bom que ela acaba de ser promovida a diretora mundial de criação de um grupo novo de agências da própria Lowe, a Lowe Latina (Lola). Sediada em Madri, a Lola pretende usar a criatividade latina para fazer campanhas mundiais.
"Os brasileiros têm um talento incrível, mas, infelizmente, ninguém faz campanhas mundiais a partir do Brasil", diz Romano. "Eu queria ter essa credencial internacional."
A experiência no exterior é um ponto em comum apontado para a escolha dos expatriados. Outro é a violência. "Eu tinha a minha agência [Click], a mais premiada da área e cheia de clientes, mas estava cansado do medo de ser assaltado", diz Pereira. "Quando apareceu o convite, fui embora."

Ritmo brasileiro
O cenário desfavorável, no entanto, dá ao profissional brasileiro resiliência para se destacar lá fora. Daniela Ribeiro, 33, tornou-se diretora de criação da Fischer Portugal há seis meses. Graças à competitividade e à velocidade do mercado nacional, trabalha num ritmo mais forte e diferenciou a agência.
"Os clientes ficam espantadíssimos quando chegamos com três, quatro idéias para uma campanha", diz Ribeiro. "No Brasil, temos de lutar loucamente pelo emprego, o que não acontece na Europa."
Nem mesmo em Nova York, onde circulam 80% dos US$ 270 bilhões movimentados anualmente pela publicidade americana, o ritmo "indolente" brasileiro deixa a desejar.
"Nos EUA trabalha-se muito, mas, às 7 da noite, todo mundo vai para casa", diz Romano. "Para dar a virada na Lowe, impus o ritmo brasileiro."
Outra carência nacional, a falta de verba, também é uma vantagem para quem vai para fora. "No Brasil a gente samba, dá uma rebolada e se vira nos 30", diz Mauro Ramalho, 26, diretor de arte da Organic Toronto. "Com os recursos daqui, fazemos muita coisa boa."
Ter fama de criativo, no entanto, não garante vaga no exterior. Romano, por exemplo, conquistou sete leões de ouro no Festival de Cannes de 2005. Ramalho levou o prestigiado prêmio D&AD, em 2006. Depois, vieram as propostas.
Além disso, nem tudo é simples na experiência internacional. A resistência a jovens de um país em desenvolvimento é grande em muitos lugares. Romano, por exemplo, tem abaixo de si cinco diretores. São quatro americanos e um inglês, todos homens e mais velhos.
"Foi muito difícil no começo", afirma. "Mas não tenho medo de cabelo branco e tinha de me provar." Segundo ela, depois de algum tempo, passaram a respeitá-la. "Hoje trabalhamos muito bem juntos", diz.


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