|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Publicidade brasileira vive crise criativa
DA REPORTAGEM LOCAL
A publicidade brasileira
está em crise. "Há anos não
temos tido presença marcante em Cannes, não há
campanhas que todos lembrem, nem o barulho que a
publicidade brasileira costumava criar", afirma Mario
Castelar, diretor de serviços
de marketing da Nestlé.
Castelar cita como exceção, é claro, a nova campanha da Nestlé, criada pela W/
Brasil para a linha de soja Solis. Mas, mais surpreendente
do que um diretor de marketing assumir a fase de baixa, é
muitos publicitários concordarem com ele.
"A espontaneidade da publicidade brasileira se perdeu", afirma Tomás Lorente,
vice-presidente de criação da
Young & Rubicam. "Há trabalhos incríveis, mas a necessidade de errar o menos
possível impede vôos altos."
Ele não é o único. "O processo passou a ser mais importante do que a ousadia da
idéia", diz André Laurentino,
vice-presidente de criação da
Lew, Lara. "Quando se busca
o consenso, a tendência é ir
para o meio e o infalível é nocivo às novidades."
O êxodo de jovens talentos
seria o fator que, como no futebol, condenou os campeonatos locais à mediocridade?
Os publicitários dizem que
não, até porque há ótimos
publicitários jovens no país.
Para eles, a expatriação é
conseqüência, e não causa.
"A propaganda internacional trilha um rumo diferente", diz PJ Pereira, diretor da
AKQA San Francisco.
"No Brasil, as agências dependem do bônus de veiculação, principalmente o da
Globo, e a dependência mata
a ousadia."
Bônus de veiculação é o valor pago a agências de propaganda que concentram
anúncios em grandes veículos de comunicação.
"Enquanto o modelo de
negócios se pautar pela compra de mídia, e não pela idéia,
não mudaremos", diz Fernanda Romano, diretora de
criação da Lowe Nova York.
No exterior, os jovens encontram ambiente favorável
para criar e aprender, principalmente em novas mídias.
Romano criou para a Nokia
um documentário dirigido
pelo cineasta Win Wenders e
apresentado por David Bowie. No filme, eram mostrados 40 curadores da Nokia
que indicam as melhores novidades musicais de seus países para downloads.
"Eles pediram um filme
simples", diz ela. "Eu me recusei e consegui ousar."
Por aqui a situação não é
tão fácil. "A publicidade brasileira está com a auto-estima em baixa", diz Washington Olivetto, da W/Brasil.
Para ele, campanhas globais fazem a propaganda
perder a alma e a graça regionais. Dono de 52 leões em
Cannes, Olivetto diz ter recebido várias propostas de trabalho no exterior, mas preferiu montar sua agência.
É mais difícil para os jovens brasileiros empreenderem hoje por causa da globalização das agências.
(CB)
Texto Anterior: Brasil passa a exportar jovens publicitários Próximo Texto: Vinicius Torres Freire: Lula 2 e a anestesia geral Índice
|