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BENJAMIN STEINBRUCH
Jabuticaba
A elevada taxa de juros internos atrai capital especulativo; essa é uma jabuticaba que só existe aqui
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INFORMAÇÕES conflitantes fascinam o observador da cena econômica atual. O Brasil, que conseguiu dois graus de investimento
em um mês, virou território seguro
para o investidor internacional. É
fartamente elogiado lá fora.
Pela primeira vez, desde sempre,
conseguiu superávit nominal nas
contas do setor público -R$ 6,885
bilhões no primeiro quadrimestre.
Observe-se que nessas contas estão
incluídos também os encargos de R$
54,8 bilhões com juros da dívida pública. As taxas de desemprego são as
menores em dez anos; as reservas
monetárias estão perto de US$ 200
bilhões; a inflação é de apenas 5,2%,
a despeito das pressões externas; a
Petrobras não pára de descobrir jazidas de petróleo; o PIB (Produto
Interno Bruto) cresce mais de 5%
em base anual; as reservas florestais
despertam cobiça mundial; a produção de alimentos aumenta num
mundo faminto, com um exclusivo
programa de energia renovável.
Tudo isso ocorre no Brasil de hoje.
Mas, a despeito disso, há uma enorme preocupação com o futuro imediato. A recessão americana já não
produz pânico, mas ainda ameaça.
As cotações do barril de petróleo
chegaram quase a US$ 140 e há uma
generalizada pressão de custos decorrente da elevação de preços das
commodities.
Por aqui, as contas externas entraram no vermelho. Nos primeiros
quatro meses do ano, apresentaram
déficit acumulado de US$ 14 bilhões,
o maior da história. A balança comercial da indústria, que teve superávit de US$ 5,5 bilhões no primeiro
trimestre de 2007, já opera com pequeno déficit.
Esse desempenho negativo tem
tudo a ver com a apreciação do real,
já que a cotação do dólar é a mais
baixa desde 2001. E a valorização do
real, por sua vez, tem tudo a ver com
a elevada taxa de juros internos, a
maior do mundo em termos reais,
que atrai capital especulativo. Uma
jabuticaba, que só existe aqui.
Mesmo sendo a mais comportada
entre os países emergentes, a inflação interna traz justa inquietação,
principalmente entre observadores
mais ortodoxos. Por isso, o Banco
Central aumentou a taxa básica de
juros para 12,25% ao ano na semana
passada, medida que terá indiscutível impacto no crescimento da produção e do consumo. Diante de efeitos perversos das medidas ortodoxas, respondeu-se com mais ortodoxia.
Enquanto isso, Ben Bernanke, nos
Estados Unidos, recusa-se a elevar a
taxa de juros americana. Em artigo
brilhante no "The New York Times", o economista Paul Krugman
diz que Bernanke está sendo "golpeado" porque os ortodoxos o consideram "fraco" no combate à inflação. Krugman contesta a "nova sabedoria convencional", que acha a
inflação atual mais ameaçadora do
que o colapso financeiro e a recessão
econômica. Bernanke tem atuado
até agora para evitar essas duas últimas, embora revele preocupação
com a inflação.
O veredicto da ortodoxia diz que a
atitude de Bernanke poderá levar a
uma espiral inflacionária igual à dos
anos 1970, com seguidas altas de
preços e salários. Krugman discorda, porque não vê reivindicações salariais no momento. Ele sugere que
a inflação cairá sozinha no momento em que a alta das commodities
der uma trégua.
Esse é o debate do momento. Informações conflitantes abrem espaço para previsões animadoras ou catastróficas, dependendo do humor
ou da ideologia do analista. E assim
seguimos. Façam suas apostas. Apesar de algumas decepções, visto a camisa do primeiro time, o dos otimistas.
BENJAMIN STEINBRUCH , 54, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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