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VINICIUS TORRES FREIRE
Estados e Estado podres
Poderes da República sofrem de falência imunológica de justiça; crime tem bancadas e captura postos de governo
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FORA DO RIO , causou apenas alguma e rápida comoção o fato
de um ex-governador do Estado ter sido denunciado por formação de quadrilha armada. O apodrecimento do relativamente civilizado
Rio Grande do Sul chamou a atenção nacional apenas pela história
sensacional do vice-governador que
grampeou um secretário de governo
que admitia a corrupção no Estado.
Parece um dado da natureza que
Alagoas possa passar mais de meio
ano sem polícia, hospitais e escolas
enquanto a Assembléia Legislativa
se candidata à difícil disputa pelo título de a mais corrupta do Brasil.
Alagoas, lembre-se, cujo patrão político é Renan Calheiros.
O comendador Arcanjo, chefe do
crime organizado no Centro-Oeste,
preso, continua a agir na região, com
especial interesse no governo distrital de Brasília e em Mato Grosso, onde ganhou o título (tornou-se "comendador" graças à Câmara de
Cuiabá) e tem placa de homenagem
no Fórum de Rondonópolis. Governadores e ex-governadores de Alagoas, Maranhão e Sergipe foram denunciados por corrupção. Uma múlti francesa, a Alstom, diz na Europa
que corrompeu parte do governo
paulista. Etc. Um enorme etc.
O governo federal envolveu-se em
outro caso de tráfico de influência
-no mínimo. Trata-se da Varig, mas
já houve a história da Brasil Telecom. Como o governo Lula mais e
mais torna-se negociador e financiador de fusões & aquisições, isso tende a dar em mais besteira.
Segundo uma idiotice que circula
na praça, o rolo da Varig decorreria
da razia nas agências reguladoras,
como se "agências técnicas" fossem
imunes à bandalha. A politização
dos negócios e a negociata política
não derivam daí. O privatista governo FHC politizou a privatização das
teles, na prática fechou a Aneel durante o apagão e nunca explicou o
rolo da licitação do Sivam.
O Congresso investiga bandalhas,
mal e mal, quando o escândalo se
presta à picuinha política imediata.
Mas o Legislativo mesmo é parte do
problema. Assembléias já têm bancadas do crime organizado ou os deputados eles mesmos organizam o
crime. Segundo a Transparência
Brasil, mais de 35% do Congresso
responde a processos na segunda ou
terceira instâncias ou já foram condenados até pelos ausentes Tribunais de Contas. No Rio, mais de metade da Assembléia é caso de polícia.
Em Goiás, três quartos. Em Rondônia e Alagoas, cerca de 60%.
Gente como Arcanjo e máfias do
jogo já entraram no Parlamento, financiam campanhas e capturam setores dos governos. Nem se mencionem os velhos porém vivos esquemas de corrupção armados pelos
grandes fornecedores do governo.
Nas bancadas do crime, tráfico, jogo,
contrabando, grupos de extermínio
e a corrupção de pagamentos públicos começam a se cruzar, em certos
casos com apoios no Judiciário.
O Estado entrou em falência imunológica de justiça. Ainda que Ministério Público e Polícia Federal estejam ativos, os processos redundam em raras condenações, e tais
instituições têm mais papel reativo.
O problema principal é que o trânsito da bandalha está livre no núcleo
dos Poderes, os quais regulam as demais instituições e deveriam ser
quase imunes à expansão criminosa,
mas que agora são dela cúmplices.
vinit@uol.com.br
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