São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2001

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CRISE

Pela primeira vez, governo avalia que desvalorização do peso poderia ser solução

Para Planalto, Argentina agoniza

WILLIAM FRANÇA
ANDRÉ SOLIANI


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Reservadamente, o governo brasileiro trabalha com o cenário de que a situação econômica na Argentina é grave, a tal ponto que está bem próximo o fundo do poço. E, pela primeira vez, avalia que a desvalorização do peso argentino poderia ser a solução para resolver o problema da estagnação econômica do vizinho, que se arrasta desde finais de 1998.
Com um olho na sucessão em 2002, o que o governo brasileiro espera é que, diante desse quadro de perspectivas sombrias, essa e todas as suas consequências negativas ocorram o quanto antes. Segundo a Folha apurou, na avaliação de assessores de FHC e do próprio presidente, se houver uma definição rápida o Brasil ainda tem tempo suficiente para "arrumar a casa" antes da eleição.
O governo trabalha com o cenário de que há quatro crises em curso no país: a energética (que está teoricamente sob controle), a político-partidária (que está relacionada com 2002 e não deve ceder por agora), a do dólar e a da Argentina. Essas duas últimas, interligadas e interdependentes, passam por uma solução que depende do país vizinho.
O assunto ainda é tratado com discrição diplomática e ninguém se atreve a assumir a posição em público. Mas falar que a desvalorização da moeda argentina é uma medida necessária e positiva deixou de ser tabu entre os negociadores brasileiros, desde que permaneçam anônimos.
Ninguém nega que a desvalorização da moeda argentina teria um efeito negativo para o Brasil num primeiro momento. Mas poderia tirar a Argentina da crise ao dar competitividade à indústria local. Com o vizinho em crescimento, as exportações brasileiras aumentariam e, de quebra, diminuiria a pressão sobre o dólar.
Desde 1998, os argentinos buscam soluções que incluam a manutenção do câmbio fixo, sem resultado e com reflexos no Brasil. Mas se o "mal" advindo da solução argentina ocorrer ainda neste início de segundo semestre, avaliam os diplomatas brasileiros, ainda há tempo de recuperar os estragos maiores até o final do ano. Isto é, em março e abril de 2002, quando a sucessão presidencial estiver mais delineada, a Argentina e suas implicações deixarão de ser um problema a mais.
Embora os diplomatas brasileiros tenham consciência de que a situação na Argentina está próxima de um desfecho, o êxito da estratégia brasileira depende ainda da reação da comunidade econômica internacional, de eventuais reflexos em outras economias e mesmo se os organismos financeiros internacionais -leia-se FMI- ainda continuarão dispostos a ajudar a Argentina.



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