|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE
Pela primeira vez, governo avalia que desvalorização do peso poderia ser solução
Para Planalto, Argentina agoniza
WILLIAM FRANÇA
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Reservadamente, o governo
brasileiro trabalha com o cenário
de que a situação econômica na
Argentina é grave, a tal ponto que
está bem próximo o fundo do poço. E, pela primeira vez, avalia que
a desvalorização do peso argentino poderia ser a solução para resolver o problema da estagnação
econômica do vizinho, que se arrasta desde finais de 1998.
Com um olho na sucessão em
2002, o que o governo brasileiro
espera é que, diante desse quadro
de perspectivas sombrias, essa e
todas as suas consequências negativas ocorram o quanto antes. Segundo a Folha apurou, na avaliação de assessores de FHC e do
próprio presidente, se houver
uma definição rápida o Brasil ainda tem tempo suficiente para "arrumar a casa" antes da eleição.
O governo trabalha com o cenário de que há quatro crises em
curso no país: a energética (que
está teoricamente sob controle), a
político-partidária (que está relacionada com 2002 e não deve ceder por agora), a do dólar e a da
Argentina. Essas duas últimas, interligadas e interdependentes,
passam por uma solução que depende do país vizinho.
O assunto ainda é tratado com
discrição diplomática e ninguém
se atreve a assumir a posição em
público. Mas falar que a desvalorização da moeda argentina é uma
medida necessária e positiva deixou de ser tabu entre os negociadores brasileiros, desde que permaneçam anônimos.
Ninguém nega que a desvalorização da moeda argentina teria
um efeito negativo para o Brasil
num primeiro momento. Mas poderia tirar a Argentina da crise ao
dar competitividade à indústria
local. Com o vizinho em crescimento, as exportações brasileiras
aumentariam e, de quebra, diminuiria a pressão sobre o dólar.
Desde 1998, os argentinos buscam soluções que incluam a manutenção do câmbio fixo, sem resultado e com reflexos no Brasil.
Mas se o "mal" advindo da solução argentina ocorrer ainda neste
início de segundo semestre, avaliam os diplomatas brasileiros,
ainda há tempo de recuperar os
estragos maiores até o final do
ano. Isto é, em março e abril de
2002, quando a sucessão presidencial estiver mais delineada, a
Argentina e suas implicações deixarão de ser um problema a mais.
Embora os diplomatas brasileiros tenham consciência de que a
situação na Argentina está próxima de um desfecho, o êxito da estratégia brasileira depende ainda
da reação da comunidade econômica internacional, de eventuais
reflexos em outras economias e
mesmo se os organismos financeiros internacionais -leia-se
FMI- ainda continuarão dispostos a ajudar a Argentina.
Texto Anterior: Confiança do consumidor despenca Próximo Texto: Vizinho em crise: Cavallo pede "trégua" a banqueiros do país Índice
|