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De la Rúa quer "união" para fazer corte de gastos
DE BUENOS AIRES
O presidente argentino, Fernando de la Rúa, fez ontem um
apelo à unidade nacional e disse
que "todos os setores políticos,
econômicos e sociais" devem
contribuir com a tarefa de reduzir
gastos. "Hoje, o Estado nacional e
as Províncias gastam mais do que
têm", reconheceu.
O discurso, que marca uma mudança na posição do governo argentino, até bem pouco tempo reticente em cortar gastos públicos
como ferramenta para combater
o déficit fiscal, foi proferido pela
manhã durante as comemorações
do Dia da Independência, na Província de Tucumán, no norte do
país. "Hoje, como ontem, reafirmamos nossa decisão de ser uma
nação livre e independente. Mas
hoje nossa independência está reduzida. A situação econômica do
país está comprometida, a situação social é séria, as dores do povo
são as nossas e a política passa por
um momento de incerteza e complexidade", afirmou De la Rúa.
O discurso aconteceu ao mesmo tempo em que, em Buenos Aires, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, se reunia com sua
equipe para discutir cortes de gastos. Mas até o início da noite o governo não havia detalhado valores dos cortes ou áreas afetadas.
Segundo os analistas políticos,
as disputas na própria coalizão
governista são o maior obstáculo.
Anteontem, numa entrevista publicada pelo jornal "Clarín", o ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989) se disse contrário aos cortes
e defendeu um aumento de gastos
nas áreas sociais. Alfonsín é o presidente da União Cívica Radical, o
partido de De la Rúa.
Interesses
Durante o discurso, De la Rúa
disse que o país vive hoje "o final
de uma época em que não soube
administrar seus próprios recursos". "Ninguém pode atirar a primeira pedra, mas gastamos mais
do que temos e só podemos manter nossos gastos porque nos emprestam todos os anos US$ 15 bilhões, ao custo de comprometer
nosso futuro", disse.
Ele ressaltou a necessidade de
cortes profundos nos gastos e
afirmou que "não será fácil, porque afetarão interesses setoriais
importantes". "Vamos esperar o
dia em que não queiram mais nos
emprestar para decidirmos solucionar nossos problemas?"
"Há dois anos que esperamos
um milagre que nos devolva nossa riqueza, mas não há milagres.
Hoje dependemos do crédito para
assegurarmos que o Estado possa
seguir funcionando", afirmou.
"Sou presidente de um país que
necessita do apoio de todos para
superar a crise. Convoco todos a
resolver o problema de nossa independência, convoco a unidade
nacional para resolver os problemas que nos deixam estancados",
disse De la Rúa.
O apelo recebeu o apoio do governador de Córdoba, o oposicionista José Manuel de la Sota, que
defendeu um apoio de sua agremiação política, o Partido Justicialista (PJ), ao governo para superar a atual crise, que qualificou
como "muito crítica".
(RW)
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