São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2001

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De la Rúa quer "união" para fazer corte de gastos

DE BUENOS AIRES

O presidente argentino, Fernando de la Rúa, fez ontem um apelo à unidade nacional e disse que "todos os setores políticos, econômicos e sociais" devem contribuir com a tarefa de reduzir gastos. "Hoje, o Estado nacional e as Províncias gastam mais do que têm", reconheceu.
O discurso, que marca uma mudança na posição do governo argentino, até bem pouco tempo reticente em cortar gastos públicos como ferramenta para combater o déficit fiscal, foi proferido pela manhã durante as comemorações do Dia da Independência, na Província de Tucumán, no norte do país. "Hoje, como ontem, reafirmamos nossa decisão de ser uma nação livre e independente. Mas hoje nossa independência está reduzida. A situação econômica do país está comprometida, a situação social é séria, as dores do povo são as nossas e a política passa por um momento de incerteza e complexidade", afirmou De la Rúa.
O discurso aconteceu ao mesmo tempo em que, em Buenos Aires, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, se reunia com sua equipe para discutir cortes de gastos. Mas até o início da noite o governo não havia detalhado valores dos cortes ou áreas afetadas.
Segundo os analistas políticos, as disputas na própria coalizão governista são o maior obstáculo. Anteontem, numa entrevista publicada pelo jornal "Clarín", o ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-1989) se disse contrário aos cortes e defendeu um aumento de gastos nas áreas sociais. Alfonsín é o presidente da União Cívica Radical, o partido de De la Rúa.

Interesses
Durante o discurso, De la Rúa disse que o país vive hoje "o final de uma época em que não soube administrar seus próprios recursos". "Ninguém pode atirar a primeira pedra, mas gastamos mais do que temos e só podemos manter nossos gastos porque nos emprestam todos os anos US$ 15 bilhões, ao custo de comprometer nosso futuro", disse.
Ele ressaltou a necessidade de cortes profundos nos gastos e afirmou que "não será fácil, porque afetarão interesses setoriais importantes". "Vamos esperar o dia em que não queiram mais nos emprestar para decidirmos solucionar nossos problemas?"
"Há dois anos que esperamos um milagre que nos devolva nossa riqueza, mas não há milagres. Hoje dependemos do crédito para assegurarmos que o Estado possa seguir funcionando", afirmou.
"Sou presidente de um país que necessita do apoio de todos para superar a crise. Convoco todos a resolver o problema de nossa independência, convoco a unidade nacional para resolver os problemas que nos deixam estancados", disse De la Rúa.
O apelo recebeu o apoio do governador de Córdoba, o oposicionista José Manuel de la Sota, que defendeu um apoio de sua agremiação política, o Partido Justicialista (PJ), ao governo para superar a atual crise, que qualificou como "muito crítica". (RW)



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