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OPINIÃO ECONÔMICA
Exportar cada vez mais
BENJAMIN STEINBRUCH
No meio das preocupações
da semana passada, quando reacendeu-se a crise argentina
e o dólar voltou a subir, a única
notícia boa foi o superávit comercial de junho, de US$ 277 milhões.
Infelizmente, essa notícia não é
tão boa quanto parece à primeira
vista. É claro que o desempenho
mensal positivo do comércio exterior merece destaque. Afinal, o
déficit acumulado do ano reduziu-se para apenas US$ 70 milhões. Mesmo assim, fiquei preocupado depois de fazer uma leitura mais atenta dos números.
O bom resultado de junho ocorreu principalmente por causa das
exportações de produtos básicos,
que cresceram 26,5% em relação
a junho do ano passado. Quase
todos os itens importantes da
pauta desses produtos primários,
com exceção de café e minério de
ferro, apresentaram aumento expressivo de vendas. As receitas
das exportações de soja, por
exemplo, turbinadas pela alta
das cotações internacionais, subiram 32,9%. Também evoluíram
bastante as vendas de carnes em
geral.
A preocupação advém da pauta
de manufaturados. No ano passado, as vendas desses itens cresceram 19%. No primeiro semestre
deste ano, a taxa de crescimento
caiu para 7%. O valor de junho
(US$ 2,79 bilhões), quando comparado ao de junho do ano passado, já mostra uma queda de
0,5%.
Esses números indicam claramente que as exportações de manufaturados estão perdendo fôlego. Mais preocupante é que isso
ocorre num período em que exportadores ganharam forte estímulo com a desvalorização do
real em relação ao dólar, que alcançou quase 20% no primeiro
semestre.
Está claro que o desaquecimento da economia dos Estados Unidos e os problemas da Argentina,
os dois principais parceiros comerciais brasileiros, já fazem vítimas no Brasil: fabricantes de celulares, automóveis e de inúmeros produtos industrializados da
pauta de exportação.
Acendeu-se, portanto, o sinal de
alerta para o comércio exterior.
Mais do que nunca, é necessário
adotar uma política ativa de estímulo às exportações. Política ativa significa jogar no ataque e, em
primeiro lugar, levar a sério essa
história de desonerar as exportações. O setor decepcionou-se na
semana passada com as medidas
anunciadas pelo governo nessa
matéria. A mudança proposta no
PIS e no Cofins é tímida. O país
precisa de muito mais.
Por que não reproduzir a bem-sucedida experiência da comissão do apagão para área das exportações? Um grupo especial
com plenos poderes poderia ser
criado para propor em regime de
urgência medidas que o setor há
muito precisa para deslanchar: a
real desoneração das exportações
dos impostos em cascata; uma
política de promoção de produtos
competitivos no exterior; a oferta
de crédito em condições semelhantes às de nossos concorrentes;
o apoio da diplomacia às empresas exportadoras; e o apoio à criação de multinacionais verde-e-amarelas para funcionar como
pontas-de-lança nos grandes
mercados.
A busca de superávits comerciais é tão urgente e importante
quanto a busca de soluções para
a escassez de energia elétrica.
Um país com déficit externo da
ordem de US$ 27 bilhões anuais
não tem outro caminho a não ser
exportar cada vez mais.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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