São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2001

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OPINIÃO ECONÔMICA

Exportar cada vez mais

BENJAMIN STEINBRUCH

No meio das preocupações da semana passada, quando reacendeu-se a crise argentina e o dólar voltou a subir, a única notícia boa foi o superávit comercial de junho, de US$ 277 milhões.
Infelizmente, essa notícia não é tão boa quanto parece à primeira vista. É claro que o desempenho mensal positivo do comércio exterior merece destaque. Afinal, o déficit acumulado do ano reduziu-se para apenas US$ 70 milhões. Mesmo assim, fiquei preocupado depois de fazer uma leitura mais atenta dos números.
O bom resultado de junho ocorreu principalmente por causa das exportações de produtos básicos, que cresceram 26,5% em relação a junho do ano passado. Quase todos os itens importantes da pauta desses produtos primários, com exceção de café e minério de ferro, apresentaram aumento expressivo de vendas. As receitas das exportações de soja, por exemplo, turbinadas pela alta das cotações internacionais, subiram 32,9%. Também evoluíram bastante as vendas de carnes em geral.
A preocupação advém da pauta de manufaturados. No ano passado, as vendas desses itens cresceram 19%. No primeiro semestre deste ano, a taxa de crescimento caiu para 7%. O valor de junho (US$ 2,79 bilhões), quando comparado ao de junho do ano passado, já mostra uma queda de 0,5%.
Esses números indicam claramente que as exportações de manufaturados estão perdendo fôlego. Mais preocupante é que isso ocorre num período em que exportadores ganharam forte estímulo com a desvalorização do real em relação ao dólar, que alcançou quase 20% no primeiro semestre.
Está claro que o desaquecimento da economia dos Estados Unidos e os problemas da Argentina, os dois principais parceiros comerciais brasileiros, já fazem vítimas no Brasil: fabricantes de celulares, automóveis e de inúmeros produtos industrializados da pauta de exportação.
Acendeu-se, portanto, o sinal de alerta para o comércio exterior. Mais do que nunca, é necessário adotar uma política ativa de estímulo às exportações. Política ativa significa jogar no ataque e, em primeiro lugar, levar a sério essa história de desonerar as exportações. O setor decepcionou-se na semana passada com as medidas anunciadas pelo governo nessa matéria. A mudança proposta no PIS e no Cofins é tímida. O país precisa de muito mais.
Por que não reproduzir a bem-sucedida experiência da comissão do apagão para área das exportações? Um grupo especial com plenos poderes poderia ser criado para propor em regime de urgência medidas que o setor há muito precisa para deslanchar: a real desoneração das exportações dos impostos em cascata; uma política de promoção de produtos competitivos no exterior; a oferta de crédito em condições semelhantes às de nossos concorrentes; o apoio da diplomacia às empresas exportadoras; e o apoio à criação de multinacionais verde-e-amarelas para funcionar como pontas-de-lança nos grandes mercados.
A busca de superávits comerciais é tão urgente e importante quanto a busca de soluções para a escassez de energia elétrica.
Um país com déficit externo da ordem de US$ 27 bilhões anuais não tem outro caminho a não ser exportar cada vez mais.


Benjamin Steinbruch, 47, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.

E-mail - bvictoria@psi.com.br



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