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Chávez gasta US$ 4 bi em ajuda regional
Venezuelano compra títulos de países como Argentina e Equador e vende petróleo mais barato para latino-americanos
Gastos para ampliar sua influência na AL reduzem os investimentos dentro da Venezuela, o que prejudica a indústria de petróleo local
6.jul.2006 - Reuters
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Kirchner (Argentina), Chávez (Venezuela), Morales (Bolívia) e Duarte (Paraguai), em Caracas |
SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Além de vender petróleo
mais barato para os parceiros
da América Latina, o governo
da Venezuela já injetou mais de
US$ 3,5 bilhões na Argentina e
no Equador nos últimos 12 meses e prometeu desembolsar
outros US$ 200 milhões para
Paraguai e Costa Rica.
Entre dólares e barris de petróleo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, tenta se cacifar como líder na América Latina, e seu discurso populista vai
ganhando espaço, escudado na
defesa da amizade e integração
econômica entre os países, um
discurso, ao menos, parecido
com o brasileiro.
A boa notícia para o Paraguai
foi divulgada estrategicamente
na terça-feira. Mesmo dia em
que foi formalizada a entrada
da Venezuela no Mercosul e
que a imprensa internacional
deu destaque às críticas do presidente paraguaio, Nicanor
Duarte, ao Brasil e à Argentina,
principais parceiros do bloco.
O custo dessa união pregada
por Chávez vem sendo pago pela população da Venezuela.
Uma economia em que a principal fonte de riqueza é o petróleo deveria, na avaliação de especialistas ouvidos pela Folha,
investir no aumento da produção, já que o preço do produto
bate sucessivos recordes.
"Com o barril a US$ 75, faz
sentido aumentar a produção
e, como conseqüência, elevar a
receita de um país tão carente",
destaca o analista Alberto Ramos, especialista para América
Latina do banco Goldman
Sachs, em Nova York.
Em vez disso, diz ele, os investimentos anuais do governo
venezuelano nessa área variam
de US$ 3 bilhões a US$ 3,5 bilhões, o mínimo necessário para manter a atual produção. "E
assim mesmo, ela [a produção]
vem caindo marginalmente. A
Venezuela esbanja recursos
que precisaria para investir na
economia", afirma Ramos.
Como não há transparência
nas transações, os analistas
destacam a dificuldade em
mensurar toda essa movimentação de Chávez na região. As
estimativas são de que entre
200 mil a 250 mil barris de petróleo são distribuídos, diariamente, a custo subsidiado.
Oficialmente, a Venezuela
-que produz cerca de 2,5 milhões de barris por dia - diz
que entrega o produto a preço
de mercado. No entanto, financia as condições de pagamento
em alguns casos e, em outros,
troca por gado ou serviços.
Na lista de beneficiados estão Argentina, Paraguai, Cuba,
Uruguai e países do Caribe. No
caso de Cuba, metade das exportações ao país é financiada
em até 15 anos a juros de 1% a
2% ao ano. O resto, a Venezuela
permuta com prestação de serviços em educação e saúde. No
caso da Argentina, o país entrega petróleo em troca de gado.
A estratégia de Chávez de
comprar apoio na região começou a ser colocada em prática
no segundo semestre de 2005,
quando Caracas passou a atuar
como uma espécie de corretora
da Argentina. Isso porque Chávez começou a adquirir títulos
da dívida argentina que, em seguida, eram repassados a bancos locais e vendidos a investidores estrangeiros.
A intermediação foi necessária para evitar que os recursos
obtidos com uma captação no
mercado internacional da Argentina fossem direcionado
automaticamente para quitar
dívidas do governo com credores ainda do período da moratória de 2001. "É um movimento para expandir a sua influência e se aproximar dos países
que têm dificuldades no mercado internacional", diz Ricardo Amorim, economista para
América Latina do banco
WestLB, em Nova York.
Títulos
Desde o ano passado, Chávez
gastou US$ 3,5 bilhões com a
Argentina. Outros US$ 20 milhões foram para comprar títulos do Equador. Inicialmente, o
venezuelano pretendia comprar mais. "No entanto, o Equador ficou com medo de a Venezuela fazer os preços desabarem no momento seguinte porque revenderia os papéis no
mercado", explica Ramos.
Já os US$ 100 milhões que
serão desembolsados para o
Paraguai servirão para comprar uma dívida com a hidrelétrica de Itaipu. Além disso,
mais US$ 100 milhões serão
usados para comprar dívidas da
Costa Rica.
Apesar das investidas financeiras, Chávez vem sofrendo algumas derrotas políticas. Os
candidatos apoiados por ele
perderam nas eleições do México e do Peru. "No México, a
porta vem sendo fechada com
uma orientação de livre mercado", diz Paulo Leme, estrategista para mercados emergentes
da Goldman Sachs.
Segundo ele, com essas derrotas, Chávez deixou de ocupar
um espaço diplomático importante, o que diminuiu as possibilidades dele se fortalecer ainda mais num futuro próximo.
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