São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2007

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BCs agem, mas mercados têm forte queda

Após mais problemas no mercado de crédito americano, BC europeu empresta a cifra recorde de US$ 130 bilhões

Dow Jones recua 2,83%, a maior perda desde a turbulência de fevereiro; Bovespa registra queda de 3,28%, e risco sobe 5,14%

Timothy A. Clary/France Presse
Corretores olham dados do índice Dow Jones na Bolsa de NY


DA REDAÇÃO

Os mercados mundiais tiveram mais um dia de fortes quedas ontem, iniciadas após o banco francês BNP Paribas ter congelado três fundos ligados ao setor de crédito imobiliário americano. O anúncio e suas repercussões fizeram o BCE (Banco Central Europeu) e, em menor escala, o Fed (BC dos EUA) e o BC japonês injetarem bilhões nos mercados para elevar sua liquidez, o que, para alguns analistas, elevou a tensão.
Em Nova York, o índice Dow Jones teve seu maior recuo em um dia desde a turbulência de fevereiro, caindo 2,83%. No Brasil, o índice Ibovespa teve perdas de 3,28%, e o risco-país subiu 5,14%, para 184 pontos.
As principais Bolsas européias fecharam em queda. O FTSE 100, principal índice de Londres, recuou 1,92%. Frankfurt caiu 2%, e Paris, 2,17%.
A turbulência atual nos mercados começou no último dia 24 e acontece pouco depois de as principais Bolsas mundiais, inclusive a paulista, terem batido recordes históricos.
Outros bancos europeus e americanos já haviam suspendido fundos ligados ao mercado imobiliário. Por isso a principal novidade do dia foi a surpreendente ação do BCE, que emprestou cerca de 94,8 bilhões (cerca de US$ 130 bilhões) para 49 bancos da região -a maior injeção de dinheiro já feita pelo órgão-, numa tentativa de corrigir a falta de liquidez.
O recorde anterior ocorreu no dia 12 de setembro de 2001, após os ataques terroristas nos EUA, quando o BCE emprestou 69 bilhões -seguidos de 40 bilhões no dia seguinte.
Já o Fed agiu com mais parcimônia e injetou ontem no mercado US$ 24 bilhões (cerca do dobro da sua média diária).
O BCE tomou a decisão de conceder empréstimos a todas as instituições que solicitassem ajuda depois que a taxa de overnight (usada para operações de um dia em empréstimos entre bancos) chegou a 4,7%, acima da meta de 4%. Essa elevação indica que os bancos estão reduzindo a oferta de dinheiro, em um momento em que os prejuízos com a crise no mercado imobiliário residencial norte-americano, especialmente no segmento "subprime" (empréstimos de alto risco), espalham-se por todo o mundo.
E pode piorar hoje. Após o fechamento do mercado ontem, a Countrywide, maior financiadora imobiliária dos EUA, disse que enfrenta problemas "sem precedentes" no mercado de hipotecas que devem afetar seus resultados de forma "desconhecida". Com as Bolsas abrindo em baixa hoje no Japão, o banco central do país anunciou a injeção de US$ 8,4 bilhões no seu mercado financeiro.
A grande dúvida entre economistas é saber se a crise no mercado de crédito dos Estados Unidos afetará os fundamentos da maior economia do mundo, gerando efeitos negativos além dos mercados financeiros.
Muitos crêem que esse momento ainda não chegou e que a turbulência pode servir até como um ajuste benéfico num mercado extremamente líquido após anos de crescimento global vigoroso. Mas há exceções: "Isso [a ação do BCE] foi um minipânico. Todas as coisas que foram negadas até agora estão aparecendo. As vendas ao varejo nos EUA foram medíocres, o que mostra que o colapso imobiliário está afetando o consumidor", disse Joseph Battipaglia, da firma Ryan Beck.
Outros crêem que a forte ação do BCE possa ter até elevado os temores, alimentando o pânico. "Existe uma crise de liquidez no sistema financeiro que até mesmo os participantes regulares [do mercado] estão tendo dificuldades para compreender", disse Jane Caron, do Dwight Asset Management.
O BNP Paribas, um dos maiores bancos europeus, informou que a suspensão dos fundos ligados ao mercado imobiliário dos EUA foi tomada porque a crise no "subprime" tornou "impossível avaliar alguns ativos corretamente, independentemente de sua qualidade ou classificação de crédito".


Com agências internacionais


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