São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

YOSHIAKI NAKANO

Sinais preocupantes do mercado


O BC deverá elevar mais os juros visando apreciar o real, e a economia tenderá a se desacelerar mais fortemente

APESAR de o Banco Central acelerar a elevação da taxa de juros, a apreciação do real pode ter chegado ao seu pico e, pelas razões que aponto abaixo, deslocado as expectativas e invertendo sua trajetória. No primeiro semestre, as empresas estrangeiras remeteram para o exterior mais de US$ 18 bilhões em lucros e dividendos, ampliando o déficit em transações correntes de forma alarmante. Da mesma forma, US$ 15 bilhões saíram da Bolsa de Valores de São Paulo no mesmo período, fazendo o Índice Bovespa desabar. Todos esses fatos não apontam ainda para uma tendência persistente, mas são sinalizações preocupantes de que precisam ser acompanhados de perto, pois podem representar um ponto de inflexão da economia brasileira.
O elemento crítico é a taxa de câmbio, que, aparentemente, encontrou resistências à queda e inverteu sua trajetória na semana passada, apesar de termos mais de US$ 200 bilhões em reservas cambiais e de o Banco Central ter acelerado o aumento da taxa de juros. Sabemos que pelo menos 70% do comportamento da inflação no Brasil é explicado pela variação na taxa de câmbio.
Portanto, se o real iniciar uma tendência de depreciação, podemos ter um novo elemento causando a aceleração da inflação. O que pode estar provocando os fatos mencionados? Para o especulador no mercado financeiro, o retorno das aplicações em real é dado pelo diferencial da taxa de juros interna em relação à internacional, mais a expectativa de apreciação ou menos a de depreciação cambial.
Como o aumento no diferencial de juros atrai capitais, é a expectativa de depreciação do real que deve estar provocando os movimentos mencionados. Há pelo menos dois fatos no mercado internacional que começam a afetar o real: as cotações do petróleo como as de commodities vêm apresentando queda nos últimos meses e, com a interrupção da elevação da taxa de juros na Europa, o dólar começa a se apreciar em relação ao euro. Internamente, a explosão do déficit em transações correntes atua na direção de mudar a trajetória de apreciação do real.
É importante lembrar que desde 2004 a apreciação do real estava relacionada ao fato de o Brasil ser um grande exportador de commodities cujos preços começaram a disparar.
Interrompido esse processo, é natural que haja a depreciação. O saldo ainda positivo nas transações comerciais depende exclusivamente do agronegócio.
Nesse quadro, o Banco Central deverá elevar mais ainda a taxa de juros na tentativa de apreciar o real, e a economia tenderá a se desacelerar mais fortemente. Mas, se a taxa cambial encontrar resistência, a inflação não voltará à meta. É importante lembrar também que não é o nível do diferencial de taxas de juros que provoca o movimento de capitais, mas sim a sua variação, pois é ela que provoca mudança na composição do portfólio dos investidores.
Certamente é por isso que o Banco Central acelerou a elevação da taxa de juros, tentando reverter o movimento de saída de capitais antes que a própria saída realimente a si própria, gerando uma expectativa persistente de depreciação do real.


YOSHIAKI NAKANO , 61, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV, foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Falta de classe
Próximo Texto: Lula quer que o BC suavize alta dos juros
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.