São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

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Lula quer que o BC suavize alta dos juros

Para presidente, ideal é que Copom reduza ritmo de elevação da taxa para 0,5 ponto percentual nas três reuniões restantes do ano

Lula não discorda da necessidade de elevar juros para combater a inflação, mas teme que a dosagem do BC possa ser exagerada

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se o Banco Central elevar a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), haverá tensão com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo apurou a Folha, Lula deseja que o BC suavize o ritmo de subida da Selic nas três últimas reuniões do Copom neste ano.
O próximo encontro do Copom, órgão do BC que fixa a taxa básica de juros a cada 45 dias, acontecerá nos dias 9 e 10 de setembro. As outras duas reuniões estão marcadas para 28 e 29 de outubro e para 9 e 10 de dezembro.
Por tensão com Lula, leia-se: pressão do presidente da República sobre o presidente do BC, Henrique Meirelles. Lula não discorda da necessidade de elevar os juros para combater a alta da inflação no primeiro semestre deste ano, mas teme que a dosagem do BC possa ser exagerada, sacrificando mais do que o petista deseja o crescimento da economia nos dois últimos anos de governo (2009 e 2010).
A elevação da Selic em 0,75 ponto na última reunião do Copom (22 e 23 de julho) foi digerida a contragosto por Lula e por auxiliares próximos que têm visão crítica do BC.
O Palácio do Planalto preferia a manutenção do ritmo de 0,5 ponto percentual por reunião que o Copom adotou a partir de abril, quando retomou o processo de alta dos juros. Em abril, a Selic passou de 11,25% para 11,75% ao ano. No início de junho, a taxa subiu para 12,25%. No final do mês passado, o Banco Central cravou os atuais 13% ao ano.
Na avaliação do presidente, o ideal seria o BC reduzir o ritmo de subida dos juros, aguardando os efeitos na economia real das altas já implementadas.
A divulgação, na sexta-feira, de que houve em julho desaceleração do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a taxa oficial da meta de inflação, deverá dar argumento a Lula e aos críticos do BC contra uma nova alta de 0,75 ponto percentual da Selic.

Dosagem errada
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito que o Banco Central poderá errar na dosagem, como teria feito, em sua opinião, no primeiro mandato de Lula (2003/2006). Ou seja, elevar demais a Selic.
Em conversas reservadas, Mantega cita 2006 como exemplo de erro de dosagem. Naquele ano, a inflação ficou em 3,14% pelo IPCA. Como o centro da meta de inflação é de 4,5% ao ano, a Fazenda avalia que a taxa de 2006 refletiu um erro do Banco Central, que teria subido muito os juros na virada de 2004 para 2005 e demorado depois a baixar a taxa num cenário internacional favorável.
Resumindo: Lula dá autonomia prática ao BC. No entanto faz pressões nos bastidores quando acha que Meirelles e cia. estariam exagerando. As pressões são feitas em cobranças reservadas a Meirelles.
Na virada de março para abril deste ano, o presidente do BC quase caiu. Lula chegou a decidir por sua demissão. Enquanto buscava um substituto, houve recrudescimento da inflação, e Meirelles se salvou.
Desde o primeiro mandato, Meirelles e diretores do BC argumentam que a tentativa de Lula e de Mantega de influenciar o Copom acaba resultando em mais juros. O BC se veria obrigado a mostrar ao mercado que é real a independência operacional. Para tanto, aumenta a taxa. Por isso, Lula evita críticas públicas ao Banco Central. Nos bastidores, porém, há um debate no governo.
Meirelles tem dito que sua intenção é trazer a inflação para o centro da meta em 2009, já que as previsões para a taxa neste ano estão no teto da meta (6,5%). O sistema de metas de inflação prevê um centro de 4,5% ao ano. Mas há um intervalo de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, a fim de acomodar choques.


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