São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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FUTUROLOGIA

Taxas ficam acima do previsto por instituições; resultado pressiona juros e eleva valor dos títulos que elas detêm

Banco ganha com previsão errada de inflação

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A divulgação dos últimos índices de inflação mostrou que as projeções econômicas das instituições financeiras nem sempre estão certas. Mas, nesse caso, errar pode ter tido suas vantagens para os bancos.
Os dados apresentados pelos principais índices de preços (como o IPCA e o IPC-Fipe) para setembro vieram abaixo do que projetava a maioria das instituições financeiras.
O cenário mais pessimista esperado pelos bancos ajudou a pressionar as projeções futuras de juros. Com essas projeções mais altas, as taxas pagas pelo governo em seus leilões de LTNs (Letras do Tesouro Nacional, títulos públicos prefixados) subiram entre julho e setembro.
"Os bancos acabaram tendo vantagens com o próprio erro", diz o analista Antônio Carlos Carvalho Filho, da ABM Consulting.
A taxa máxima paga pelo governo para vender a LTN com prazo de vencimento de 12 meses saltou de 17,35% anuais em meados de julho para 18,19% anuais no leilão de 21 de setembro. O 0,84 ponto percentual de diferença entre as duas taxas ganha relevância quando se fala em grandes somas de recursos: 0,84% de R$ 1 bilhão são R$ 8,4 milhões.
Semanalmente, o Banco Central divulga o boletim Focus, realizado a partir de consultas a cerca de cem instituições financeiras. O Focus do último dia 1º trazia a mediana das expectativas do mercado para o IPCA de setembro: 0,50%. A taxa que veio foi bem menor: 0,33%.
Os dados computados pelo Focus têm forte influência sobre as taxas futuras do mercado financeiro. A elevação dessas taxas pressiona os juros pagos pelos títulos públicos, além de terem peso na decisão do Copom sobre o rumo da Selic (taxa básica da economia, hoje em 16,25% ao ano).
"Esse é o paradoxo dos juros e infelizmente é assim. E sempre é a sociedade quem paga. Além de poderem ganhar mais com a alta das taxas dos títulos públicos, os custos dos financiamentos concedidos pelos bancos também acabam subindo, gerando retornos maiores", afirma Alexsandro Agostini, economista da consultoria Global Invest.
Os bancos têm, em suas carteiras, aproximadamente 35% dos títulos emitidos pelo governo.
Na opinião de Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), é mais interessante para as instituições financeiras que os juros estejam baixos.
"O cenário de queda de juros é melhor, pois assim crescem as expectativas de crescimento e a conseqüente expansão do crédito", diz Troster. O economista afirma que "alguma coisa" nas expectativas de inflação deve acabar por ser revista pelas instituições financeiras nos próximos dias.

Taxas altas
Por enquanto, os dados menores de inflação não fizeram os juros recuarem. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), a taxa do contrato DI -que considera os juros praticados entre os bancos- mais negociado, com prazo de resgate em abril de 2005, fechou a 17,06% na sexta-feira. Uma semana antes, o contrato registrou taxa de 17,08%.
E, se depender das "projeções" do mercado, as taxas não devem recuar muito. Isso porque muito se tem falado que setembro foi "atípico" no que se refere à desaceleração dos preços.
Para a LCA Consultores, haverá uma reaceleração da inflação neste último trimestre do ano, que "deverá abortar a [eventual] revisão para baixo nas projeções de inflação para 2005, e poderá até levar a que essas projeções voltem a subir um pouco".

Alimentos
Em relação a setembro, até mesmo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) errou em suas estimativas. A própria fundação estimativa que o IPC registraria 0,40% no mês. O índice que veio foi de 0,21%.
A alta abaixo do esperado se deu principalmente devido ao fato de produtos "in natura" e remédios terem registrado recuo acima do esperado. A queda teve a ver com uma renda fraca dos consumidores. No setor de alimentação, também houve uma oferta maior.
"A forte queda dos preços em setembro não deve impedir uma nova alta da Selic. O BC deve elevar de novo os juros em 0,25 ponto percentual", avalia Agostini.



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