São Paulo, quarta-feira, 10 de novembro de 2004

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RELAÇÕES PERIGOSAS

Grupo americano não tem planos de renovar parceria no Brasil com o banco do empresário Daniel Dantas

Citigroup pretende romper com Opportunity

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O casamento de sete anos entre o Citigroup e o banco brasileiro Opportunity, de Daniel Dantas, está próximo do fim. A Folha apurou que o conglomerado financeiro americano não tem planos para renovar a parceria dos dois em um fundo conjunto, que expira no próximo ano.
A assessoria do Citigroup não quis comentar se é possível que o acordo seja suspenso antes da data prevista para seu encerramento. Também não é possível determinar se, com o fim da parceria, o CVC/Opportunity Equity Partners L.P. apenas deixará de existir ou se um sócio terá de vender sua parte para o outro. O banco não fala sobre os termos de seu acordo com o Opportunity.
O banco de Daniel Dantas, que atualmente está na mira da Polícia Federal por ter contratado a Kroll, por meio da Brasil Telecom, para bisbilhotar a Telecom Italia, pode ter que enfrentar um novo problema. Dessa vez, com seu poderoso parceiro, o Citibank, que sempre bancou todos os seus investimentos até agora. Os sinais do desgaste na relação entre os dois são evidentes.
Procurado pela Folha, o Opportunity informou que, até agora, não recebeu qualquer comunicado do Citigroup se irá ou não renovar o contrato de gestão firmado entre os dois desde a época da privatização. No acordo, o Citigroup confia ao Opportunity a gestão do fundo. O CVC/Opportunity controla as empresas Brasil Telecom, Telemig Celular, Tele Norte Celular e o Metrô do Rio.
Em uma entrevista recente para o jornal "The New York Times", o CEO do Citigroup, Charles O. Prince, afirmou que o banco passa por um processo de "afastamento de negócios que lhe pareçam imorais". Prince, que assumiu o cargo há um ano, também visitará 15 das principais filiais do banco. "É um esforço para criar um diálogo, dentro da empresa, sobre o mesmo tipo de questões culturais e relativas à nossa reputação que têm nos atingido ultimamente, e de mudar o foco em termos de como as pessoas lidam com isso", disse o CEO ao "Times". "No mundo em que vivemos as corporações têm de ser responsáveis pelo que fazem."
O conglomerado passou por problemas recentes com sua filial no Japão, que foi obrigada pelo governo a fechar. A agência financeira do banco no país foi acusada de ser leniente com a lavagem de dinheiro.
Depois disso, Prince vem promovendo algumas mudanças nos procedimentos internos do banco. Uma dessas mudanças, segundo a assessoria, foi mudar a política de prestação de contas do departamento encarregado de monitorar a observância da lei pelo banco e suas filiais internacionais. Outra medida tomada, de acordo com a reportagem do "Times", é checar os procedimentos corporativos nas filiais internacionais do banco.
"Claramente, a empresa continua lutando para encontrar uma estrutura efetiva de gerenciamento, para otimizar seu crescimento e evitar problemas graves de regulamentação como o que ocorreu no Japão. Acreditamos que mais [medidas] de reorganização virão pela frente", escreveu em um relatório a clientes o analista Guy Moszkowski, da Merrill Lynch, que é especializado em Citibank. "Embora isso possa causar problemas [para o banco] do curto prazo, estamos confiantes de que a empresa conseguirá resolver seu problema organizacional no médio prazo."
No Brasil, essas medidas aparentemente estão se refletindo na relação com o Opportunity. Além da ausência de planos para renovar a parceria no fundo, a Folha noticiou recentemente que o Citigroup contratou o escritório de advocacia Mattos Filho para fazer uma espécie de auditoria dos negócios do Opportunity.
Além disso, a executiva do Citigroup que concentrava o contato com o Opportunity foi desligada, há algumas semanas, do Citibank, tendo antecipado seu pedido de aposentadoria. Mary Lynnn Putney, diretora da CVC (a divisão de Venture Capital do banco, que é a que se aliou ao Opportunity) enviou uma série de cartas ao governo brasileiro intercedendo a favor do Opportunity, inclusive para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e para o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa.


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