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RELAÇÕES PERIGOSAS
Grupo americano não tem planos de renovar parceria no Brasil com o banco do empresário Daniel Dantas
Citigroup pretende romper com Opportunity
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O casamento de sete anos entre
o Citigroup e o banco brasileiro
Opportunity, de Daniel Dantas,
está próximo do fim. A Folha
apurou que o conglomerado financeiro americano não tem planos para renovar a parceria dos
dois em um fundo conjunto, que
expira no próximo ano.
A assessoria do Citigroup não
quis comentar se é possível que o
acordo seja suspenso antes da data prevista para seu encerramento. Também não é possível determinar se, com o fim da parceria, o
CVC/Opportunity Equity Partners L.P. apenas deixará de existir
ou se um sócio terá de vender sua
parte para o outro. O banco não
fala sobre os termos de seu acordo
com o Opportunity.
O banco de Daniel Dantas, que
atualmente está na mira da Polícia
Federal por ter contratado a Kroll,
por meio da Brasil Telecom, para
bisbilhotar a Telecom Italia, pode
ter que enfrentar um novo problema. Dessa vez, com seu poderoso parceiro, o Citibank, que
sempre bancou todos os seus investimentos até agora. Os sinais
do desgaste na relação entre os
dois são evidentes.
Procurado pela Folha, o Opportunity informou que, até agora,
não recebeu qualquer comunicado do Citigroup se irá ou não renovar o contrato de gestão firmado entre os dois desde a época da
privatização. No acordo, o Citigroup confia ao Opportunity a
gestão do fundo. O CVC/Opportunity controla as empresas Brasil
Telecom, Telemig Celular, Tele
Norte Celular e o Metrô do Rio.
Em uma entrevista recente para
o jornal "The New York Times", o
CEO do Citigroup, Charles O.
Prince, afirmou que o banco passa por um processo de "afastamento de negócios que lhe pareçam imorais". Prince, que assumiu o cargo há um ano, também
visitará 15 das principais filiais do
banco. "É um esforço para criar
um diálogo, dentro da empresa,
sobre o mesmo tipo de questões
culturais e relativas à nossa reputação que têm nos atingido ultimamente, e de mudar o foco em
termos de como as pessoas lidam
com isso", disse o CEO ao "Times". "No mundo em que vivemos as corporações têm de ser
responsáveis pelo que fazem."
O conglomerado passou por
problemas recentes com sua filial
no Japão, que foi obrigada pelo
governo a fechar. A agência financeira do banco no país foi acusada
de ser leniente com a lavagem de
dinheiro.
Depois disso, Prince vem promovendo algumas mudanças nos
procedimentos internos do banco. Uma dessas mudanças, segundo a assessoria, foi mudar a política de prestação de contas do departamento encarregado de monitorar a observância da lei pelo
banco e suas filiais internacionais.
Outra medida tomada, de acordo
com a reportagem do "Times", é
checar os procedimentos corporativos nas filiais internacionais
do banco.
"Claramente, a empresa continua lutando para encontrar uma
estrutura efetiva de gerenciamento, para otimizar seu crescimento
e evitar problemas graves de regulamentação como o que ocorreu
no Japão. Acreditamos que mais
[medidas] de reorganização virão
pela frente", escreveu em um relatório a clientes o analista Guy
Moszkowski, da Merrill Lynch,
que é especializado em Citibank.
"Embora isso possa causar problemas [para o banco] do curto
prazo, estamos confiantes de que
a empresa conseguirá resolver seu
problema organizacional no médio prazo."
No Brasil, essas medidas aparentemente estão se refletindo na
relação com o Opportunity. Além
da ausência de planos para renovar a parceria no fundo, a Folha
noticiou recentemente que o Citigroup contratou o escritório de
advocacia Mattos Filho para fazer
uma espécie de auditoria dos negócios do Opportunity.
Além disso, a executiva do Citigroup que concentrava o contato
com o Opportunity foi desligada,
há algumas semanas, do Citibank,
tendo antecipado seu pedido de
aposentadoria. Mary Lynnn Putney, diretora da CVC (a divisão de
Venture Capital do banco, que é a
que se aliou ao Opportunity) enviou uma série de cartas ao governo brasileiro intercedendo a favor
do Opportunity, inclusive para o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e para o presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa.
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