São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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PIB / QUARTO TRIMESTRE

Crise interrompe ritmo de alta de produção e vendas

Caem atividade industrial, vendas de carros e fluxo de veículos nas estradas

Sondagem Conjuntural da FGV constata redução na confiança dos empresários e expectativas pessimistas para os negócios em 2009

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A redução da oferta de crédito e da demanda externa, como principal efeito da crise econômica mundial, interrompeu, neste último trimestre do ano, o ciclo de crescimento de produção e vendas e abalou a confiança dos consumidores e dos empresários, na avaliação de economistas e de representantes da indústria e do comércio.
Em outubro e novembro deste ano, o emplacamento de veículos novos -considerado um dos principais termômetros da economia- caiu 13,4% na comparação com igual período do ano passado, após subir 27% de janeiro a setembro deste ano sobre igual período de 2007.
A indústria eletroeletrônica, outro exemplo, vendeu 15% menos em outubro e novembro em relação a igual período de 2007 e vinha com crescimento de 12% sobre igual período de 2007, segundo informa um empresário do setor.
"O cenário econômico brasileiro é completamente outro neste trimestre. Os setores mais dependentes de financiamento foram os mais afetados", afirma Júlio Gomes de Almeida, consultor econômico do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Outro indicador de que este trimestre será mais fraco que o anterior é o fluxo de veículos pesados nas estradas, que caiu 2% em novembro em relação a outubro e 1% sobre novembro do ano passado. Em outubro, o fluxo de veículos pesados nas estradas já havia caído 0,8% sobre setembro, segundo a ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias) e a Tendências Consultoria.
"Já dá para afirmar que este trimestre será mais fraco do que o trimestre anterior, considerando, principalmente, a queda de confiança dos empresários", diz Cláudia Oshiro, economista da Tendências.
Em novembro, Sondagem Conjuntural da FGV (Fundação Getulio Vargas) com cerca de 1.100 indústrias constatou redução na confiança dos empresários, o que significa piora nas expectativas para os negócios e para a economia. Medida em pontos, a queda na confiança foi de 104,4 pontos para 84,1 pontos, o nível mais baixo desde julho de 2003.
"Constatamos na sondagem que, em novembro, houve aumento de estoques, redução de demanda interna e externa e expectativas mais pessimistas para os negócios", diz Jorge Braga, coordenador da Sondagem Conjuntural da FGV.
Fabio Romão, economista da LCA Consultores, diz que o dado da produção industrial de outubro -queda de 1,7% sobre setembro, segundo o IBGE- já foi um sinal de que este trimestre seria mais fraco do que o terceiro. Ele estima que a produção industrial em novembro deve cair 3% sobre novembro do ano passado e também 3% sobre outubro deste ano.
A Associação Comercial de São Paulo constatou redução no consumo a partir de outubro. As vendas a prazo, medidas pelo número de consultas ao SPC, que vinham crescendo 8,3% de janeiro a setembro deste ano, cresceram 2,8% em outubro, novembro e início deste mês sobre igual período de 2007. No caso das vendas à vista, que vinham crescendo 5,6% de janeiro a setembro deste ano, a associação registra queda de 1,1% a partir de outubro sobre igual período de 2007.
"Isso só muda se a oferta de crédito voltar a crescer e o consumidor voltar a ter confiança na economia", diz Emílio Alfieri, economista da ACSP.
Pesquisa de intenção de compras para o Natal feita pela Ipsos mostra o receio do consumidor com os gastos. Das pessoas ouvidas em todo o país, 69% informaram que farão compras neste final de ano e 76% delas disseram que a forma de pagamento será à vista.
"Esses números sugerem que o Natal vai acontecer nas ruas de comércio popular e que as compras serão de produtos de baixo valor", afirma Alfieri.
Existe grande expectativa em relação ao desempenho da economia a partir do primeiro trimestre de 2009 quando, tradicionalmente, os negócios já são mais fracos. "Vamos passar de um ano em que a economia estava aquecida para um ano de esfriamento de atividade, com impacto negativo no emprego", afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.


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