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entrevista 2
Crédito e setor externo desafiam PIB, diz Carneiro
DA REPORTAGEM LOCAL
Crítico da política de juros
altos do BC, o professor Ricardo Carneiro, da Unicamp,
afirma que o governo tem
um papel importante para
impedir uma desaceleração
brusca em 2009. Para ele, o
desafio no curto prazo será
retomar o crédito e manter a
renda. No longo prazo, a dificuldade será financiar as
contas externas em um período de retração mundial.
FOLHA - Quais os riscos de se desacelerar após crescer quase 7%?
CARNEIRO - É complicado a
internalização da crise, com
essa taxa de câmbio [alta] e o
sumiço do crédito. Tivemos
uma parada brusca do crédito; se continua, não sei. Se o
governo tomar algumas medidas para compor o circuito
do crédito, não dá para pensar que isso se prolongue. Os
bancos privados pegaram os
recursos do compulsório e
não retomaram o financiamento tanto às empresas
quanto ao consumidor.
FOLHA - Quais os desafios?
CARNEIRO - No curto prazo, é
resolver a restrição do crédito. No médio prazo, é o financiamento do balanço de pagamentos. Reconstruindo o
crédito, vai puxando de novo
o nível de produção. Agora,
não pode acelerar muito porque vai ter problema de financiamento externo. As
condições estão mais desfavoráveis. O mundo vai absorver menos exportações.
FOLHA - O mercado interno pode garantir a expansão em 2009?
CARNEIRO - Não existe componente todo doméstico
porque temos um coeficiente importado [alto]. Podemos até estimular o consumo das classes mais baixas.
Mesmo que se consiga uma
taxa de crescimento com
menos necessidade de importação, alguma necessidade de financiamento externo
terá. E o gasto público vai desempenhar também um papel importante. Vai dar o patamar de renda que vai ficar.
FOLHA - O resultado do PIB ajuda o Copom a segurar o juro alto?
CARNEIRO - Isso é olhar para o
retrovisor. No regime de metas, a obrigação da política
monetária é olhar o futuro.
Se olhar para a frente, não há
nenhum risco de retomada
da inflação. Talvez o BC use
isso para a manutenção da
taxa de câmbio. Se a aversão
ao risco subir, não vai segurar a saída de estrangeiro.
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