São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Expansão do grupo no país apresenta passagens nebulosas

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O alucinante ritmo de aquisições da Parmalat no Brasil de 1989 a 2001, quando US$ 500 milhões foram gastos pelo grupo só na compra de marcas e fábricas, tem momentos nebulosos, com contas que não fecham e personagens, no mínimo, curiosos.
Há, por exemplo, a compra de companhias por um determinado preço e sua revenda, logo depois, por valores bem inferiores aos pagos pelo grupo. Existe ainda a venda de fábricas no Brasil para uma empresa que foi controlada pelo próprio grupo na Itália.
Em 12 anos, a Parmalat comprou pouco mais de 30 empresas, ou duas a cada seis meses. Foram fábricas nanicas, de pequeno porte, e outras empresas (essas adquiridas em menor número) com patrimônio de milhões de reais.
Um caso que merece atenção é o da aquisição da CCLP (Cooperativa Central de Laticínios do Paraná), dona da Batavo. A Parmalat pagou R$ 148,2 milhões, ou US$ 130 milhões de acordo com a cotação do dólar na época, por 51% da companhia. Um ano e meio depois, ela continuou com a área de laticínios, mas revendeu a operação de carnes (suínos e aves), um negócio que o grupo comprou sem nunca ter atuado antes.
Para se desfazer da área, aceitou proposta da Perdigão, que pagou R$ 43,7 milhões, em duas vezes. Quando adquiriu a fábrica de carnes, porém, a empresa desembolsou mais, R$ 63 milhões, apurou a Folha com um dos negociadores.
O balanço financeiro da empresa mostra que, quando adquiriu a CCLP, a Parmalat pagou um ágio -um valor além do que a empresa vale- de R$ 67,8 milhões. O ágio é pago com base em expectativas de resultados futuros da empresa. Nesse caso, o ágio incluía a área de carnes -que a empresa, no entanto, revendeu logo depois.
Enquanto essa operação acontecia, a Parmalat tinha se desfeito de outra empresa, a CBL (Companhia Brasileira de Laticínios). Na época a operação levantou suspeitas e foi investigada pelo Ministério Público. Há fatos novos.
Pela empresa, ela pagou US$ 35 milhões (R$ 110 milhões) em 1995, ao empresário do Nordeste Luís Girão, o rei do leite no Ceará.
Em 2002, a filial brasileira resolveu se desfazer da CBL, como parte de um plano de reestruturação.
A compradora foi a Carital Brasil, uma ex-empresa da Parmalat na Itália, que pagou pelo negócio pouco mais de US$ 25 milhões (R$ 78,5 milhões), ou seja, menos que os US$ 35 milhões.
A Carital foi controlada pela Parmalat até 1999. Porém ela era a companhia que, na mesma época que comprou a CBL da Parmalat brasileira, também representava os interesses da Parmalat italiana na área de esportes no país.
A venda da CBL para a Carital ocorreu em julho de 2002. O que não se sabia é que um mês depois, em agosto, a CBL foi revendida.
Foi parar nas mãos da família Girão, a mesma que vendeu em 1995 o negócio para a Parmalat.
"Negociamos com a Carital logo depois que ela comprou a CBL. Ela [Carital] comprava e vendia empresas e pensamos em fazer um acordo", diz Jorge Parente, sócio diretor da CBL.
Parente não revela os valores da compra. Mas confirma que pagou menos do que a Carital, ex-controlada pela Parmalat, desembolsou para comprar a CBL. A Folha entrou em contato com Francisco Mungioli, diretor da Carital no país, mas até o fechamento desta edição ele não se manifestou.
Os números de compra e venda de empresas obtidos pela reportagem constam nos balanços financeiros das companhias envolvidas nas negociações.
No entanto, eles variam de acordo com as expectativas de resultados futuros, o nível de interesse das empresas no mercado (se há bastante interessados, o preço sobe), o tamanho do endividamento, entre outros aspectos.
Portanto, na hora de vender um negócio, o preço pode ser diferente daquele pago pelo controlador no passado. A questão, levantada por analistas, no entanto, é a frequência com que isso ocorreu.
Etti, Neugebauer e marcas como Gloria e Avaré foram compradas pela Parmalat num ritmo de aquisição classificado como "alucinante" nos anos 90, segundo Patrick Loduc, ex-analista da empresa. "Na gestão de Grisendi [Gianni Grisendi, ex-presidente] os negócios se atropelavam. Após a sua saída, o ritmo perdeu força."
Procurada pela Folha, a Parmalat diz que não vai comentar essas questões no momento.


Texto Anterior: Responsável pela empresa no Brasil pode ser ouvido
Próximo Texto: Tanzi fundou empresa após a morte do pai
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.