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Expansão do grupo
no país apresenta
passagens nebulosas
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O alucinante ritmo de aquisições da Parmalat no Brasil de 1989
a 2001, quando US$ 500 milhões
foram gastos pelo grupo só na
compra de marcas e fábricas, tem
momentos nebulosos, com contas que não fecham e personagens, no mínimo, curiosos.
Há, por exemplo, a compra de
companhias por um determinado
preço e sua revenda, logo depois,
por valores bem inferiores aos pagos pelo grupo. Existe ainda a
venda de fábricas no Brasil para
uma empresa que foi controlada
pelo próprio grupo na Itália.
Em 12 anos, a Parmalat comprou pouco mais de 30 empresas,
ou duas a cada seis meses. Foram
fábricas nanicas, de pequeno porte, e outras empresas (essas adquiridas em menor número) com
patrimônio de milhões de reais.
Um caso que merece atenção é o
da aquisição da CCLP (Cooperativa Central de Laticínios do Paraná), dona da Batavo. A Parmalat
pagou R$ 148,2 milhões, ou US$
130 milhões de acordo com a cotação do dólar na época, por 51%
da companhia. Um ano e meio
depois, ela continuou com a área
de laticínios, mas revendeu a operação de carnes (suínos e aves),
um negócio que o grupo comprou sem nunca ter atuado antes.
Para se desfazer da área, aceitou
proposta da Perdigão, que pagou
R$ 43,7 milhões, em duas vezes.
Quando adquiriu a fábrica de carnes, porém, a empresa desembolsou mais, R$ 63 milhões, apurou a
Folha com um dos negociadores.
O balanço financeiro da empresa mostra que, quando adquiriu a
CCLP, a Parmalat pagou um ágio
-um valor além do que a empresa vale- de R$ 67,8 milhões. O
ágio é pago com base em expectativas de resultados futuros da empresa. Nesse caso, o ágio incluía a
área de carnes -que a empresa,
no entanto, revendeu logo depois.
Enquanto essa operação acontecia, a Parmalat tinha se desfeito
de outra empresa, a CBL (Companhia Brasileira de Laticínios). Na
época a operação levantou suspeitas e foi investigada pelo Ministério Público. Há fatos novos.
Pela empresa, ela pagou US$ 35
milhões (R$ 110 milhões) em
1995, ao empresário do Nordeste
Luís Girão, o rei do leite no Ceará.
Em 2002, a filial brasileira resolveu se desfazer da CBL, como parte de um plano de reestruturação.
A compradora foi a Carital Brasil, uma ex-empresa da Parmalat
na Itália, que pagou pelo negócio
pouco mais de US$ 25 milhões
(R$ 78,5 milhões), ou seja, menos
que os US$ 35 milhões.
A Carital foi controlada pela
Parmalat até 1999. Porém ela era a
companhia que, na mesma época
que comprou a CBL da Parmalat
brasileira, também representava
os interesses da Parmalat italiana
na área de esportes no país.
A venda da CBL para a Carital
ocorreu em julho de 2002. O que
não se sabia é que um mês depois,
em agosto, a CBL foi revendida.
Foi parar nas mãos da família
Girão, a mesma que vendeu em
1995 o negócio para a Parmalat.
"Negociamos com a Carital logo
depois que ela comprou a CBL.
Ela [Carital] comprava e vendia
empresas e pensamos em fazer
um acordo", diz Jorge Parente,
sócio diretor da CBL.
Parente não revela os valores da
compra. Mas confirma que pagou
menos do que a Carital, ex-controlada pela Parmalat, desembolsou para comprar a CBL. A Folha
entrou em contato com Francisco
Mungioli, diretor da Carital no
país, mas até o fechamento desta
edição ele não se manifestou.
Os números de compra e venda
de empresas obtidos pela reportagem constam nos balanços financeiros das companhias envolvidas
nas negociações.
No entanto, eles variam de acordo com as expectativas de resultados futuros, o nível de interesse
das empresas no mercado (se há
bastante interessados, o preço sobe), o tamanho do endividamento, entre outros aspectos.
Portanto, na hora de vender um
negócio, o preço pode ser diferente daquele pago pelo controlador
no passado. A questão, levantada
por analistas, no entanto, é a frequência com que isso ocorreu.
Etti, Neugebauer e marcas como Gloria e Avaré foram compradas pela Parmalat num ritmo de
aquisição classificado como "alucinante" nos anos 90, segundo Patrick Loduc, ex-analista da empresa. "Na gestão de Grisendi
[Gianni Grisendi, ex-presidente]
os negócios se atropelavam. Após
a sua saída, o ritmo perdeu força."
Procurada pela Folha, a Parmalat diz que não vai comentar essas
questões no momento.
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