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Planalto quer limitar acordo entre teles
Para permitir negócio entre Oi e Brasil Telecom, Lula impõe como condição poder de veto a BNDES e fundos de pensão
Nas mudanças da legislação do setor, governo pretende adotar barreiras a
uma possível venda da companhia a ser criada
KENNEDY ALENCAR
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condicionou a mudança da legislação para permitir que a Oi (ex-Telemar) compre a Brasil Telecom a um formato jurídico que dê aos fundos de pensão e ao BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)
poder de veto sobre eventual
venda da companhia que será
criada.
Segundo a Folha apurou no
Palácio do Planalto, haverá
"travas" para que Lula aceite
editar um decreto alterando o
Plano Geral de Outorgas, que
hoje proíbe uma empresa fixa
de adquirir outra do mesmo setor. A negociação deverá criar,
por exemplo, uma cláusula para que os principais acionistas
concordem com eventual venda da futura empresa.
Lula pediu ao presidente do
BNDES, Luciano Coutinho,
que acompanhasse os detalhes
da negociação entre a Oi e a
Brasil Telecom para mudar o
Plano Geral de Outorgas.
A ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil), que retornou anteontem das férias, também
participa ativamente dos bastidores da negociação. O negócio
deverá ser fechado oficialmente em 15 dias no valor de R$ 4,8
bilhões.
Lula, Coutinho e Dilma são
favoráveis ao negócio e têm
atuado para viabilizá-lo. Um
auxiliar direto de Lula disse à
Folha que, se não acontecer a
fusão, a Oi e a BrT (Brasil Telecom) seriam "engolidas" pela
Embratel e pela Telefónica,
companhias estrangeiras que
se instalaram no Brasil. A primeira é do grupo mexicano Telmex, do empresário Carlos
Slim. A segunda é uma das
maiores empresas espanholas.
Na avaliação do presidente
Lula, o negócio permitirá a manutenção de três grandes empresas no mercado brasileiro. O
presidente acha ainda que a nova empresa terá condições de
competir com a Telefónica e a
Telmex no mercado da América do Sul.
Conversas
Os executivos da Oi e da BrT
disseram ao governo que a empresa deverá faturar cerca de
R$ 12 bilhões por ano no prazo
de 24 meses.
O próprio Lula conversou
com os empresários Sérgio Andrade (grupo Andrade Gutierrez) e Carlos Jereissati (grupo
La Fonte) para dizer, de acordo
com relato de auxiliares, que o
governo não mudaria a lei, se o
negócio se destinasse apenas a
uma jogada comercial de curto
prazo.
Por esse motivo, Lula insistiu
em criar um mecanismo que
permita aos fundos de pensão
de empresas públicas e ao
BNDES terem poder de decisão
no processo de governança da
nova empresa. O Planalto disse
ter convencido o presidente da
Previ, Sérgio Rosa, a apoiar a
negociação. A Previ, fundo de
pensão do Banco do Brasil, tem
participação relevante na Oi e
na Brasil Telecom.
O governo avalia ainda que as
duas empresas são complementares, pois atuam em regiões diferentes do país. Acredita que, juntas, terão capacidade de competir com a Embratel e a Telefônica na área de
transmissão de dados, por
exemplo.
Para a mudança do Plano Geral de Outorgas, o conselho
consultivo da Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações) terá de sugerir ao presidente essa alteração na legislação em vigor, o que já está acertado. A alteração permitirá que
uma tele compre outra companhia de telefonia fixa, desde
que não na mesma área de sua
atuação.
Causou preocupação no Palácio do Planalto o vazamento
do valor da negociação entre a
Oi e a BrT, pois a CVM (Comissão de Valores Imobiliários)
pediu esclarecimentos às empresas sobre a movimentação
dos acionistas, que provocaram
valorização de ações das duas
empresas.
Com a mudança da legislação, a Telefônica diz ter interesse na BrT. Essa possibilidade não é levada a sério no governo. Os fundos de pensão,
acionistas das duas teles, já definiram que aceitariam participar do negócio se a venda fosse
feita para um grupo nacional.
Com isso, ficaria inviabilizada a
venda para um grupo estrangeiro, como Telefónica ou Telmex, que controla a Embratel.
O BNDES participará da operação em duas pontas. Por meio
de sua participação acionária e
oferecendo empréstimo para
os dois grupos que serão os
controladores da nova tele.
Para que o negócio fosse viabilizado, o governo e as duas
empresas tiveram de aceitar
uma exigência do empresário
Carlos Jereissati, que inicialmente não manifestava grande
interesse na operação. Ele exigiu participar do controle da
empresa, juntamente com o
grupo Andrade Gutierrez.
No governo, a provável saída
do GP Investimentos da composição da Telemar tem a ver
justamente com essas "travas"
a uma venda rápida da nova
empresa. O grupo, do empresário Jorge Paulo Lemann, não
teria interesse em capitalizar a
empresa de telefonia.
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