São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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Tesouro pretende movimentar
até US$ 2 tri

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O anúncio do Departamento do Tesouro dos EUA sobre o plano de socorro aos bancos foi considerado genérico sobre substância e valores envolvidos. A pretensão é movimentar entre US$ 1,5 trilhão e US$ 2 trilhões, mas as quantias minimamente detalhadas chegam a pouco mais de US$ 500 bilhões.
Elas incluem a criação de uma espécie de "banco podre" (batizado de Fundo de Investimento Público-Privado). Patrocinado pelo Estado e ponto mais obscuro do pacote, esse fundo assumiria papéis "tóxicos" dos bancos entre US$ 500 bilhões e US$ 1 trilhão. E teria "participações privadas".
Não houve detalhamento de como o governo atrairia os investidores, nem com quanto entraria inicialmente. Mas especula-se que seria oferecido aos investidores que comprarem os ativos "tóxicos" (que despencaram na crise e são de difícil avaliação) um "seguro" contra perdas.
Caso o sistema se recupere no futuro, esses ativos podem até voltar a ser rentáveis. Mas o mais difícil neste momento é avaliar quanto pagar por eles agora (algo não explicado).
Os papéis "podres" são resultado de empréstimos malfeitos dos bancos. Foram eles que provocaram rombos bilionários no sistema, travaram o mercado de crédito e estão no centro da maior crise financeira desde os anos 1930.
Ansiosamente aguardadas, as medidas foram apresentadas em um discurso do secretário Timothy Geithner (Tesouro) e constam de um único documento público que não chega a ter sete páginas completas.
"O sistema financeiro está trabalhando contra a recuperação [da economia] ao mesmo tempo em que a recessão está colocando novas pressões sobre os bancos", disse Geithner. "Quero ser claro: nossa estratégia vai custar dinheiro, envolver riscos e levar tempo."
De concreto no pacote do Tesouro, batizado como Plano de Estabilização Financeira, há os seguintes pontos (e ressalvas):
1) Socorro aos bancos: O Tesouro já tem sinal verde do Congresso para gastar outros US$ 350 bilhões com injeções diretas nos bancos. Algo semelhante foi feito no último trimestre de 2008, quando cerca de 300 bancos e empresas receberam mais de US$ 335 bilhões para reforçar os balanços, destroçados pelos ativos "tóxicos".
Agora, o Tesouro exigirá que todos os bancos com ativos superiores a US$ 100 bilhões sejam submetidos a um "teste de estresse" (também não detalhado) para que sejam conhecidas as suas reais condições e para que se tornem elegíveis à ajuda. Haverá também limitação no salário do principal executivo do banco socorrido, que não poderá ganhar mais de US$ 500 mil/ano (R$ 1,15 milhão).
Problema: quatro dos maiores bancos dos EUA (Bank of America, Citigroup, JPMorgan Chase e Wells Fargo) viram seu valor de mercado encolher US$ 335 bilhões mesmo depois de terem recebido US$ 140 bilhões do Tesouro -já que os ativos "tóxicos" continuaram arruinando seus balanços.
2) Linha de crédito: o Tesouro vai "recauchutar" linha de financiamento criada há meses e ainda não usada para tentar aumentar o crédito ao consumo no país -oferecerá US$ 100 bilhões em dinheiro público. Esse dinheiro pretende "alavancar" (incentivar, funcionando como garantia) até US$ 1 trilhão em novos empréstimos no sistema financeiro.
Problema: o Tesouro não deu detalhes, mas parece estar contando que investidores e bancos usarão apenas US$ 1 de garantia estatal para "alavancar" outros US$ 10 em empréstimos, como fariam em condições normais. Com os rombos em seus balanços, além da recessão e do desemprego, é bastante discutível se correrão esse risco em novas concessões de financiamentos.
3) Socorro a mutuários: o plano inclui US$ 50 bilhões para refinanciar dívidas de mutuários que estão na iminência de perder seus imóveis por causa de atrasos no pagamento de financiamentos.
Problema: apesar de muitos bancos já estarem fazendo isso com recursos próprios, as ações judiciais contra mutuários não têm diminuído, principalmente contra quem vinha comprando dois ou mais imóveis financiados.
O Tesouro americano afirma que novos detalhamentos do pacote serão conhecidos nos próximos dias.


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