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Tesouro pretende movimentar
até US$ 2 tri
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O anúncio do Departamento
do Tesouro dos EUA sobre o
plano de socorro aos bancos foi
considerado genérico sobre
substância e valores envolvidos. A pretensão é movimentar
entre US$ 1,5 trilhão e US$ 2
trilhões, mas as quantias minimamente detalhadas chegam a
pouco mais de US$ 500 bilhões.
Elas incluem a criação de
uma espécie de "banco podre"
(batizado de Fundo de Investimento Público-Privado). Patrocinado pelo Estado e ponto
mais obscuro do pacote, esse
fundo assumiria papéis "tóxicos" dos bancos entre US$ 500
bilhões e US$ 1 trilhão. E teria
"participações privadas".
Não houve detalhamento de
como o governo atrairia os investidores, nem com quanto
entraria inicialmente. Mas especula-se que seria oferecido
aos investidores que comprarem os ativos "tóxicos" (que
despencaram na crise e são de
difícil avaliação) um "seguro"
contra perdas.
Caso o sistema se recupere
no futuro, esses ativos podem
até voltar a ser rentáveis. Mas o
mais difícil neste momento é
avaliar quanto pagar por eles
agora (algo não explicado).
Os papéis "podres" são resultado de empréstimos malfeitos
dos bancos. Foram eles que
provocaram rombos bilionários no sistema, travaram o
mercado de crédito e estão no
centro da maior crise financeira desde os anos 1930.
Ansiosamente aguardadas,
as medidas foram apresentadas
em um discurso do secretário
Timothy Geithner (Tesouro) e
constam de um único documento público que não chega a
ter sete páginas completas.
"O sistema financeiro está
trabalhando contra a recuperação [da economia] ao mesmo
tempo em que a recessão está
colocando novas pressões sobre os bancos", disse Geithner.
"Quero ser claro: nossa estratégia vai custar dinheiro, envolver riscos e levar tempo."
De concreto no pacote do Tesouro, batizado como Plano de
Estabilização Financeira, há os
seguintes pontos (e ressalvas):
1) Socorro aos bancos: O Tesouro já tem sinal verde do
Congresso para gastar outros
US$ 350 bilhões com injeções
diretas nos bancos. Algo semelhante foi feito no último trimestre de 2008, quando cerca
de 300 bancos e empresas receberam mais de US$ 335 bilhões
para reforçar os balanços, destroçados pelos ativos "tóxicos".
Agora, o Tesouro exigirá que
todos os bancos com ativos superiores a US$ 100 bilhões sejam submetidos a um "teste de
estresse" (também não detalhado) para que sejam conhecidas as suas reais condições e
para que se tornem elegíveis à
ajuda. Haverá também limitação no salário do principal executivo do banco socorrido, que
não poderá ganhar mais de US$
500 mil/ano (R$ 1,15 milhão).
Problema: quatro dos maiores bancos dos EUA (Bank of
America, Citigroup, JPMorgan
Chase e Wells Fargo) viram seu
valor de mercado encolher US$
335 bilhões mesmo depois de
terem recebido US$ 140 bilhões do Tesouro -já que os
ativos "tóxicos" continuaram
arruinando seus balanços.
2) Linha de crédito: o Tesouro vai "recauchutar" linha de financiamento criada há meses e
ainda não usada para tentar aumentar o crédito ao consumo
no país -oferecerá US$ 100 bilhões em dinheiro público. Esse dinheiro pretende "alavancar" (incentivar, funcionando
como garantia) até US$ 1 trilhão em novos empréstimos no
sistema financeiro.
Problema: o Tesouro não deu
detalhes, mas parece estar contando que investidores e bancos usarão apenas US$ 1 de garantia estatal para "alavancar"
outros US$ 10 em empréstimos, como fariam em condições normais. Com os rombos
em seus balanços, além da recessão e do desemprego, é bastante discutível se correrão esse risco em novas concessões
de financiamentos.
3) Socorro a mutuários: o
plano inclui US$ 50 bilhões para refinanciar dívidas de mutuários que estão na iminência
de perder seus imóveis por causa de atrasos no pagamento de
financiamentos.
Problema: apesar de muitos
bancos já estarem fazendo isso
com recursos próprios, as ações
judiciais contra mutuários não
têm diminuído, principalmente contra quem vinha comprando dois ou mais imóveis financiados.
O Tesouro americano afirma
que novos detalhamentos do
pacote serão conhecidos nos
próximos dias.
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