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Crise piorou status de 4,2 milhões de brasileiros
Estudo aponta que pessoas da classe AB foram jogadas a estratos menores de renda
FGV diz que os que tiveram condição afetada durante
a turbulência econômica internacional ainda não recuperaram a posição
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
A crise baixou o status socioeconômico de 4,2 milhões
de brasileiros que faziam parte
da classe AB em setembro de
2008, jogando-os para as classes C, D e E, segundo a Fundação Getulio Vargas, que sustenta que essas pessoas ainda não
recuperaram a antiga condição.
Por outro lado, outras 4,7 milhões de pessoas saíram da classe C e ascenderam na pirâmide.
Quase 1 milhão deixou de ser
pobre, segundo o estudo.
Em termos de fatia da população brasileira, a crise afetou
as mudanças das classes socioeconômicas experimentadas pelo país desde 2004, travando o crescimento da classe
consumidora, formada pelos
grupos AB e C, mostra o estudo.
O universo de brasileiros que
integram esse mercado consumidor variou apenas 0,07 ponto percentual -133 mil pessoas-, chegando a 69,21% de
todos os brasileiros.
O estudo considera classe AB
as famílias com renda superior
a R$ 4.807; classe C são os que
têm renda familiar entre R$
1.115 e R$ 4.806. Abaixo disso,
seria a chamada baixa renda,
que compreende a classe D,
com renda familiar entre R$
804 e R$ 1.115, e a classe E, com
renda até R$ 803.
Motor do consumo, a classe
C perdeu 400 mil pessoas -é o
saldo entre as que saíram do
grupo e as que passaram a integrá-lo. É o primeiro ano desde
2004 que o grupo perde vigor.
Embora tenha caído, o grupo
dos mais pobres, a classe E, não
encolheu em 2009 como nos
anos anteriores: variou de
17,68% da população brasileira
para 17,42% -que representa
hoje 33 milhões de brasileiros.
No melhor ano, entre 2003 e
2004, havia recuado de 29,95%
dos brasileiros para 25,27%.
Responsável pela pesquisa, o
economista Marcelo Neri afirma o tamanho dos grupos só se
aproximou do que era antes da
crise nos últimos meses do ano.
No primeiro semestre de 2009,
houve empobrecimento generalizado, com perda de renda
em todas as classes.
"Foi um empate técnicos
com muitos gols. No começo da
crise, tivemos nem uma tsunami nem uma marola. Foi uma
ressaca, uma pancada súbita.
Os dados permitem apontar
melhoras no fim do ano."
O pesquisador diz já identificar sinais de retomada das mudanças sociais a partir do ponto
abandonado na crise.
Segundo suas projeções, se o
ritmo recuperar a média dos
cinco anos anteriores à crise, a
faixa de pobreza, onde estão
17,42% dos brasileiros -hoje
33 milhões-, cairia à metade. O
mercado consumidor, compreendido pelas classes A, B e
C, receberia 36 milhões de novos integrantes. "Ao fim desse
11 anos, teríamos inserido quase uma França inteira no mercado consumidor", diz Neri.
O estudo foi realizado com
base em dados da Pesquisa
Mensal de Emprego do IBGE,
que coleta dados sobre emprego e renda em seis regiões metropolitanas: São Paulo, Rio de
Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre.
"O cruzamento de dados da
pesquisa tem nos permitido antecipar as mudanças socioeconômicas apontadas pela Pnad
[Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio]", diz Neri. A
Pnad é o estudo do IBGE que
mapeia tais mudanças, e a versão 2010 sai em setembro.
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