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LUÍS NASSIF
3G é decisão de governo
A definição do padrão de telefonia celular de terceira geração, o 3G, é relevante demais para ficar nas mãos dos técnicos do setor de telecomunicações.
Essa é a conclusão a que chego depois de receber vasto material de defensores de ambas as tecnologias -a CDMA2000
e a WCDMA (sucessora do
GSM)- , repercutindo duas
colunas que escrevi sobre o tema. A primeira mostrava a posição do ministro das Comunicações, Miro Teixeira, de obrigar a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) a
cumprir a resolução 314, que
autoriza a Vésper a operar em
celular CDMA na frequência
de 1,9 GHz. A segunda, a posição de fabricantes europeus de
GSM, sustentando que a autorização significaria um
"bypass" na decisão brasileira,
a favor do GSM.
A CDMA é tecnologia norte-americana de propriedade da
Qualcomm. O GSM é de propriedade de um consórcio europeu, o GSM Association
-portanto a comparação que
fiz com o Linux é indevida, já
que se pagam royalties por sua
utilização. Ambos os sistemas
representam a segunda geração de celular. A terceira geração ainda está por vir. No caso
do CDMA, é representada pelo
CDMA2000, já em operação.
No caso do GSM, pelo WGSM,
ainda em desenvolvimento.
O Brasil não definiu ainda a
tecnologia que pretenderá utilizar. Tempos atrás, a Anatel
precisou deliberar sobre a frequência reservada para a terceira geração. O CDMA é um
sistema implantado basicamente nos Estados Unidos e
utiliza a frequência de 1,8 GHz.
Na Europa, reservou-se para a
terceira geração a frequência
de 1,9 GHz. Para o Brasil, a
Anatel resolveu definir a frequência de 1,9 GHz, como os
europeus. O meio do espectro
de 1,9 GHz era da Vésper
-controlada pela Qualcomm,
dona do padrão CDMA-, para a utilização do sistema WLL
(sem fio) para telefonia fixa.
Houve negociação para que a
Vésper fosse deslocada para o
início do espectro, liberando o
meio para a 3G.
Antes, a Anatel havia permitido à Telemar usar o 1,8 GHz
para fazer WLL, e com isso
cumprir suas metas e ativar a
sua operadora celular, a Oi,
também em 1,8 GHz, mas em
caráter secundário. A Vésper
solicitou o mesmo direito no
1,9 GHz. Fez mais: adquiriu
concessões de telefonia celular
para poder operar nessa faixa.
A Anatel começou o jogo de
não liberar a frequência, colocando-se claramente na defesa
do padrão GSM. E, aí, exorbitou de suas atribuições, passando a tentar influir na definição do padrão.
Há enorme discussão técnica
sobre as virtudes de um ou outro sistema. O ponto relevante
é outro. Tem que haver negociação clara de governo (não
de Anatel) para definir o sistema, com condições tais que
permitam o desenvolvimento
tecnológico brasileiro. Há que
ter um padrão apenas, pela lógica da economia de recursos e
pela possibilidade de o país se
beneficiar melhor das negociações. Como, por exemplo, exigir do padrão vitorioso tornar
o Brasil uma plataforma mundial de desenvolvimento de
software para a terceira geração. Afinal, 3G, assim como telefonia digital, é basicamente
computação.
O Brasil é mercado crucial
nessa disputa entre GSM e
CDMA. Não se pode perder essa oportunidade.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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