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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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ENCONTRO DA PRIMAVERA

Número 1 do Fundo aconselha presidente a não "manobrar" Orçamento para ampliar gastos sociais

FMI elogia Lula, mas alerta para "truques"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Horst Kohler, aconselhou ontem o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva a não "usar truques" no Orçamento para poder dispor de mais recursos para programas sociais.
O conselho veio em resposta a uma pergunta da Folha sobre a disposição do Fundo de aceitar algumas idéias que circulam no governo do PT para aliviar a rigidez do acordo com o FMI, de forma a permitir mais gastos sociais pelo governo.
Kohler disse que o FMI já vem sendo "flexível" nas conversas com o novo governo brasileiro, no que se refere aos gastos sociais, mas acrescentou que Lula não deveria usar truques para esconder passivos.
"A transparência no Orçamento é o mais importante fator para conseguir credibilidade nos mercados. Até agora, o governo (Lula) tem seguido essa linha e não tenho dúvida de que vai continuar a fazê-lo", completou o diretor-gerente do Fundo.
O conselho veio na sequência de mais uma catarata de elogios a Lula e ao seu governo, primeiro de parte de James Wolfensohn, presidente do Banco Mundial, e depois do próprio Kohler.
Wolfensohn: "O que é encorajador sobre o Brasil é que está procurando construir um novo consenso social. (O Brasil) tem um Ministério muito sadio e muito inteligente, e acho que todo o mundo precisa respaldar o Brasil porque está tentando enfrentar a questão da justiça social, com todas as chances de ser bem sucedido".
Kohler: "Fiquei de fato profundamente impressionado com o presidente Lula, em particular porque ele tem uma credibilidade que frequentemente falta a outros líderes, porque está fazendo um trabalho sério para combinar uma política orientada para o crescimento com equidade social".
Para Kohler, essa é "a agenda certa, a direção certa, o objetivo certo". O diretor-gerente do Fundo disse ainda ter ficado "absolutamente impressionado" pelo desempenho de Lula em seus primeiros cem dias de governo, citando em especial o que considera empenho nas reformas tributária e previdenciária.
Mas, sobre a hipótese de modificar o acordo entre o FMI e o governo brasileiro para abrir margem para gastos sociais, Kohler limitou-se a dizer que o Fundo está pronto "para ouvir o presidente Lula e a sua equipe econômica".
Acrescentou que "ouvir significa que concordamos que gastos sociais essenciais têm que ser aumentados, porque há agudos problemas de fome".
O ministro Antonio Palocci, da Fazenda, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, chegam hoje para participar do encontro habitual de primavera (no Hemisfério Norte) do FMI/ Banco Mundial.

A economia
Também Wolfensohn referiu-se à questão do gasto fiscal quando a Folha perguntou se ele achava possível que países como o Brasil, obrigado a conseguir um dos mais altos superávits fiscais do mundo, poderia, não obstante, combater a pobreza.
"Acredito que sim", respondeu. E engatou a explicação clássica: "A razão pela qual o governo (brasileiro) está buscando a responsabilidade fiscal é que reconhece que, com ela, pode ter acesso aos mercados e pode reduzir os custos dos empréstimos".
O presidente do Banco Mundial comemorou o fato de que o governo Lula já reduziu mais de 10% o custo de tomar dinheiro no exterior. "Em (uma dívida) de US$ 114 bilhões, é uma economia de US$ 11 bilhões", contabilizou.
Como Kohler, Wolfensohn declarou-se "impressionado" com o que vira no Brasil, em sua recente estada no país.
Já o diretor-gerente do Fundo aproveitou a sua entrevista coletiva para defender uma antiga reivindicação de sucessivos governos brasileiros: a derrubada do protecionismo agrícola dos países ricos.
Depois de lamentar "recentes derrapadas no cronograma de negociações comerciais globais", Kohler disse que, se a chamada Rodada Doha de Desenvolvimento não terminar em dois anos, conforme seu cronograma original, "não quebraria o mundo, mas faria ainda mais difícil a vida do presidente Lula".
É uma alusão ao fato de que, nas negociações comerciais em andamento em Genebra, foi perdido o prazo de 31 de março para definir as modalidades da negociação agrícola -ou seja, o objetivo delas, a metodologia a empregar e os resultados finais esperados.
Se emperra a pré-negociação, a liberalização agrícola propriamente dita fica mais difícil e atrapalha a economia brasileira que tem no agronegócio a sua mais imediata arma para aumentar exportações e, por extensão, reduzir a dependência de capitais externos.
Sem se referir especificamente ao Brasil, Wolfensohn também cobrou dos países ricos menos subsídios agrícolas e mais ajuda aos países pobres, ao lamentar que estes recebam doações de apenas US$ 52 bilhões/ano, quando os subsídios agrícolas chegam a US$ 350 bilhões.


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