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ENCONTRO DA PRIMAVERA
Número 1 do Fundo aconselha presidente a não "manobrar" Orçamento para ampliar gastos sociais
FMI elogia Lula, mas alerta para "truques"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional),
Horst Kohler, aconselhou ontem
o presidente brasileiro Luiz Inácio
Lula da Silva a não "usar truques"
no Orçamento para poder dispor
de mais recursos para programas
sociais.
O conselho veio em resposta a
uma pergunta da Folha sobre a
disposição do Fundo de aceitar algumas idéias que circulam no governo do PT para aliviar a rigidez
do acordo com o FMI, de forma a
permitir mais gastos sociais pelo
governo.
Kohler disse que o FMI já vem
sendo "flexível" nas conversas
com o novo governo brasileiro,
no que se refere aos gastos sociais,
mas acrescentou que Lula não deveria usar truques para esconder
passivos.
"A transparência no Orçamento é o mais importante fator para
conseguir credibilidade nos mercados. Até agora, o governo (Lula) tem seguido essa linha e não
tenho dúvida de que vai continuar a fazê-lo", completou o diretor-gerente do Fundo.
O conselho veio na sequência de
mais uma catarata de elogios a
Lula e ao seu governo, primeiro
de parte de James Wolfensohn,
presidente do Banco Mundial, e
depois do próprio Kohler.
Wolfensohn: "O que é encorajador sobre o Brasil é que está procurando construir um novo consenso social. (O Brasil) tem um
Ministério muito sadio e muito
inteligente, e acho que todo o
mundo precisa respaldar o Brasil
porque está tentando enfrentar a
questão da justiça social, com todas as chances de ser bem sucedido".
Kohler: "Fiquei de fato profundamente impressionado com o
presidente Lula, em particular
porque ele tem uma credibilidade
que frequentemente falta a outros
líderes, porque está fazendo um
trabalho sério para combinar
uma política orientada para o
crescimento com equidade social".
Para Kohler, essa é "a agenda
certa, a direção certa, o objetivo
certo". O diretor-gerente do Fundo disse ainda ter ficado "absolutamente impressionado" pelo desempenho de Lula em seus primeiros cem dias de governo, citando em especial o que considera
empenho nas reformas tributária
e previdenciária.
Mas, sobre a hipótese de modificar o acordo entre o FMI e o governo brasileiro para abrir margem para gastos sociais, Kohler limitou-se a dizer que o Fundo está
pronto "para ouvir o presidente
Lula e a sua equipe econômica".
Acrescentou que "ouvir significa que concordamos que gastos
sociais essenciais têm que ser aumentados, porque há agudos problemas de fome".
O ministro Antonio Palocci, da
Fazenda, e o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, chegam hoje para participar do encontro habitual de primavera (no
Hemisfério Norte) do FMI/ Banco
Mundial.
A economia
Também Wolfensohn referiu-se à questão do gasto fiscal quando a Folha perguntou se ele achava possível que países como o
Brasil, obrigado a conseguir um
dos mais altos superávits fiscais
do mundo, poderia, não obstante,
combater a pobreza.
"Acredito que sim", respondeu.
E engatou a explicação clássica:
"A razão pela qual o governo
(brasileiro) está buscando a responsabilidade fiscal é que reconhece que, com ela, pode ter acesso aos mercados e pode reduzir os
custos dos empréstimos".
O presidente do Banco Mundial
comemorou o fato de que o governo Lula já reduziu mais de 10%
o custo de tomar dinheiro no exterior. "Em (uma dívida) de US$
114 bilhões, é uma economia de
US$ 11 bilhões", contabilizou.
Como Kohler, Wolfensohn declarou-se "impressionado" com o
que vira no Brasil, em sua recente
estada no país.
Já o diretor-gerente do Fundo
aproveitou a sua entrevista coletiva para defender uma antiga reivindicação de sucessivos governos brasileiros: a derrubada do
protecionismo agrícola dos países
ricos.
Depois de lamentar "recentes
derrapadas no cronograma de negociações comerciais globais",
Kohler disse que, se a chamada
Rodada Doha de Desenvolvimento não terminar em dois anos,
conforme seu cronograma original, "não quebraria o mundo,
mas faria ainda mais difícil a vida
do presidente Lula".
É uma alusão ao fato de que, nas
negociações comerciais em andamento em Genebra, foi perdido o
prazo de 31 de março para definir
as modalidades da negociação
agrícola -ou seja, o objetivo delas,
a metodologia a empregar e os resultados finais esperados.
Se emperra a pré-negociação, a
liberalização agrícola propriamente dita fica mais difícil e atrapalha a economia brasileira que
tem no agronegócio a sua mais
imediata arma para aumentar exportações e, por extensão, reduzir
a dependência de capitais externos.
Sem se referir especificamente
ao Brasil, Wolfensohn também
cobrou dos países ricos menos
subsídios agrícolas e mais ajuda
aos países pobres, ao lamentar
que estes recebam doações de
apenas US$ 52 bilhões/ano, quando os subsídios agrícolas chegam
a US$ 350 bilhões.
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