UOL


São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Bird, importante é a guerra contra a pobreza

DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

James Wolfensohn, o presidente do Banco Mundial, está perdendo a sua guerra particular: ele bem que tentou ontem convencer uma platéia de jornalistas de que, mais importante que a guerra do Iraque, é o que ela chama de "a outra guerra", contra a pobreza.
Adiantou pouco: sete de cada dez perguntas eram sobre Iraque e sobre como o Bird poderia ou deveria ajudar na reconstrução do país.
Um jornalista indiano chegou a perguntar se ele não se sentia desencorajado pelo fato de, no Iraque, "como resultado de uma invasão", e na África, como consequência de guerras civis, "primeiro destroem o país e depois pedem que o Banco Mundial o reconstrua".
Wolfensohn sorriu um sorriso desconsolado e admitiu: "Bem, é de fato estranho que haja guerras e depois você tenha que consertar os estragos, o que é seguido por outras guerras que você tem que consertar".
Completou: "Devo dizer que acho guerras um grande desperdício".
Claro que a sua "guerra à pobreza" não se enquadra no quesito desperdício, mas também nela Wolfensohn está perdendo.
"Infelizmente, nos últimos quatro anos, a América Latina não progrediu em termos de crescimento da renda per capita como gostaríamos, e há o sempre presente problema da África, que é arrasada por guerras, pela Aids, e tem 47 países, o que significa 47 diferentes corpos governamentais, para 600 milhões de pessoas", admitiu.
Lembrou também um dado que se vai tornando clássico -e petrificado: "Três bilhões vivem com menos de US$ 2 por dia".

Bala de prata
Wolfensohn não se rendeu, no entanto. Diz até que houve progressos, particularmente no leste da Ásia e em alguns países do sul do continente. Mas reconhece que "não há bala de prata" para resolver a questão da pobreza.
É por isso que ele insiste em que os encontros de primavera do FMI/Banco Mundial, que começam formalmente amanhã, deveriam ter a guerra à pobreza no centro da agenda.
"O tema da pobreza e do desenvolvimento é fundamental e de enormes proporções. É realmente, sem minimizar a questão do Iraque, de proporções globais. Não pode ser postergado por um ou dois encontros".
O presidente do Banco Mundial acha até que vencer a sua guerra levaria a reduzir as outras guerras.
"A causa primária de conflitos e do crime no mundo é a pobreza. Se as pessoas tiverem esperança, não sairão por aí atirando umas nas outras", diz.
Se for verdade, ainda passará muito tempo antes que as pessoas parem de atirar umas nas outras: as metas fixadas pela ONU na chamada Cúpula do Milênio, realizada em 2002, prevêem para 2015 não eliminar a pobreza mas reduzi-la à metade.
Pior: poucos países estão de fato dando passos firmes para atingir a meta. (CLÓVIS ROSSI)


Texto Anterior: Encontro da primavera: FMI elogia Lula, mas alerta para "truques"
Próximo Texto: Para Mantega, país vai crescer 3,5% em 2004
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.