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São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

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Iraque vira front da "guerra da galinha"

Marco Ankosqui - 03.mar.00/Folha Imagem
Silos da Perdigão em Rio Verde (GO); Oriente Médio responde por 20% das exportações da empresa


LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda do regime de Saddam Hussein no Iraque deve resultar, a médio prazo, em uma "guerra da galinha" entre produtores e exportadores brasileiros e norte-americanos de frango. Na realidade, deve ser uma "segunda guerra da galinha". Os dois países disputarão o que já foi um dos maiores mercados importadores da ave no Oriente Médio, avaliado em US$ 120 milhões anuais, o equivalente a 100 mil toneladas.
Os anos conturbados de Saddam Hussein no governo iraquiano favoreceram os EUA ou o Brasil em períodos diferentes. Em 1985, o Iraque chegou a ser o principal comprador de frangos dos produtores brasileiros. Posteriormente, os americanos ocuparam o mercado, mas saíram em 1991, com a Guerra do Golfo.
A Abef (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango) disse ontem que prevê um incremento nas vendas para os países do Oriente Médio em breve. Segundo industriais, com a ocupação do Iraque, a Casa Branca pode tentar favorecer os grandes fabricantes dos EUA -afinal, os norte-americanos podem querer o espólio da guerra.
A Tyson Foods, um dos maiores frigoríficos do mundo, exporta, por exemplo, para países do Oriente Médio como Kuait, Emirados Árabes Unidos e Qatar.
Os brasileiros acreditam, porém, que, pelas leis do mercado, o país ganhará a disputa comercial. "Nossos produtos são 20% mais baratos que os dos americanos e têm uma qualidade superior. Os EUA exportam só descartes congelados do frango, e não a ave inteira", diz Cláudio Martins, diretor-executivo da Abef.
EUA e Brasil são o primeiro e o segundo maiores exportadores de aves congeladas do mundo, respectivamente. Os americanos respondem por 2,4 milhões de toneladas anuais, e o Brasil, por 1,6 milhão. "O comércio de frangos com o Iraque ficou muito complicado após a Guerra do Golfo [1991". Com o fim da segunda guerra, será preciso abastecer a população do país", diz Martins.
O executivo afirma que os iraquianos tiveram ótimas relações com as empresas brasileiras no passado e devem ser receptivos novamente ao frango do país. "Os Estados Unidos podem querer impor seu produto. Mas os iraquianos odeiam os americanos e podem não comprar o alimento."

Preço e subsídio
A primeira "guerra da galinha" entre Brasil e Estados Unidos aconteceu entre 1977 e 1985. O Brasil começava a exportar frango congelado, e o Iraque imediatamente se firmou como o principal comprador. Em 1985, os iraquianos responderam por 37% das 270 mil toneladas de aves congeladas que o Brasil exportou.
"Foi então que o governo americano decidiu intervir no mercado de frango. Subsidiou 70% do preço final da ave, e assim conquistou o mercado do Iraque." O namoro entre Washington e Bagdá durou sete anos, incluindo o período da Guerra Irã-Iraque, na qual os EUA apoiaram Saddam.
Com o subsídio, o Brasil deixou de comercializar frango para os iraquianos, mas conquistou os mercados da Arábia Saudita, Líbano, Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Kuait, entre outros do Oriente Médio. "Conseguimos isso porque temos frango mais barato e com melhor qualidade e atendemos quaisquer exigências que aqueles países fazem."
Segundo Martins, os consumidores do Oriente Médio gostam de comprar os frangos congelados por inteiro, enquanto os americanos vendem apenas partes da ave. "As empresas brasileiras exportam os frangos em caixas com 12 unidades cada uma. É um produto muito bem elaborado." O Oriente Médio responde hoje por 20% das exportações da Perdigão.


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