São Paulo, sábado, 11 de abril de 2009

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Após 6 anos, América Latina terá recessão, estima Cepal

Órgão da ONU defende aumento de gastos em detrimento de corte de impostos

Retração será puxada por Brasil (-1%) e México (-2%); região terá queda de 0,3% no PIB neste ano, após crise chegar à economia real


THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

A economia da América Latina e do Caribe cairá 0,3% em 2009, na primeira recessão após seis anos de crescimento. A previsão é da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, braço da ONU), que revisou estimativas diante dos maus resultados registrados na região no último trimestre de 2008. Para o órgão, a taxa de desemprego regional alcançará 9% no ano, ante 7,5% em 2008, elevando a informalidade e a pobreza.
O Brasil, segundo a Cepal, será um dos mais afetados, com queda de 1% no PIB, atrás apenas do México (-2%). Pela estimativa de dezembro do órgão, o país cresceria 2,1% neste ano, mais do que a média regional, avaliada então em 1,9%.
Para Osvaldo Kacef, diretor de Desenvolvimento Econômico da Cepal, a previsão de baixa de 1% no PIB é otimista, por considerar uma recuperação da economia no segundo semestre. "Se o Brasil mantiver o ritmo do final de 2008, cairá 1,5% em 2009." O desempenho do PIB no quatro trimestre de 2008 -baixa de 3,6% ante o trimestre anterior- foi decisivo para a revisão da estimativa.
A Cepal avalia que a região está mais preparada para os impactos financeiros da crise global, por ter acumulado reservas e reduzido dívidas. Só não imaginava que os efeitos reais chegariam tão rápido. "Normalmente os impactos financeiros se sentem primeiro. Como a região está mais sólida, pensávamos que os efeitos iniciais da crise não seriam fortes, mas a economia real já foi atingida."
No Brasil, diz Kacef, as turbulências financeiras externas ajudaram a reduzir a oferta interna de crédito, com prejuízos à produção e ao consumo, quadro agravado pela "incerteza" decorrente das perdas milionárias em operações de câmbio por parte de grandes empresas.
A recessão na América Latina, estima a Cepal, será puxada por Brasil e México, as duas maiores economias da região -representam 60% do PIB regional. O México sofre efeitos da dependência dos EUA e da baixa do petróleo.
Mesmo entre os países que crescerão mais -Panamá (4%), Peru (3,5%), Cuba (3%) e Bolívia (3%)-, o desempenho resulta do "arrasto estatístico" de 2008, diz Kacef. Essa inércia também justifica a previsão da Cepal de crescimento de 1,5% para a Argentina, índice que significa um estancamento da economia local em 2009. O país, afirma, poderá ter dificuldades para afrontar vencimentos de dívida em 2010, por falta de dólares na economia.
Para o Chile, a estimativa da Cepal é de crescimento nulo no ano, em um cenário de recuperação gradual impulsada pelas medidas anticrise do governo -subsídios e investimentos que somam 2,5% do PIB.

Medidas anticrise
Os governos da região, afirma o diretor da Cepal, foram rápidos na adoção de medidas de política monetária e financeira, como redução dos encaixes obrigatórios no sistema bancário e abertura de linhas de crédito. Contudo, avalia, são ações limitadas pela dimensão reduzida dos mercados financeiros locais. "Maior oferta de dinheiro e crédito não significa aumento na demanda de bens."
A Cepal defende uso de instrumentos de política fiscal e prefere medidas orientadas a elevar gastos -como subsídios a setores pobres- a corte de impostos. Isso porque, diz Kacef, é mais provável que o aumento de renda privada decorrente de baixas tributárias seja economizado, e não gasto. "O que os governos fizeram até agora foi anunciar medidas, mas a implementação ainda é reduzida", afirma.


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