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Após 6 anos, América Latina terá recessão, estima Cepal
Órgão da ONU defende aumento de gastos em detrimento de corte de impostos
Retração será puxada por Brasil (-1%) e México (-2%); região terá queda de 0,3% no PIB neste ano, após crise chegar à economia real
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
A economia da América Latina e do Caribe cairá 0,3% em
2009, na primeira recessão
após seis anos de crescimento.
A previsão é da Cepal (Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe, braço da
ONU), que revisou estimativas
diante dos maus resultados registrados na região no último
trimestre de 2008. Para o órgão, a taxa de desemprego regional alcançará 9% no ano, ante 7,5% em 2008, elevando a informalidade e a pobreza.
O Brasil, segundo a Cepal, será um dos mais afetados, com
queda de 1% no PIB, atrás apenas do México (-2%). Pela estimativa de dezembro do órgão, o
país cresceria 2,1% neste ano,
mais do que a média regional,
avaliada então em 1,9%.
Para Osvaldo Kacef, diretor
de Desenvolvimento Econômico da Cepal, a previsão de baixa
de 1% no PIB é otimista, por
considerar uma recuperação da
economia no segundo semestre. "Se o Brasil mantiver o ritmo do final de 2008, cairá 1,5%
em 2009." O desempenho do
PIB no quatro trimestre de
2008 -baixa de 3,6% ante o trimestre anterior- foi decisivo
para a revisão da estimativa.
A Cepal avalia que a região
está mais preparada para os impactos financeiros da crise global, por ter acumulado reservas
e reduzido dívidas. Só não imaginava que os efeitos reais chegariam tão rápido. "Normalmente os impactos financeiros
se sentem primeiro. Como a região está mais sólida, pensávamos que os efeitos iniciais da
crise não seriam fortes, mas a
economia real já foi atingida."
No Brasil, diz Kacef, as turbulências financeiras externas
ajudaram a reduzir a oferta interna de crédito, com prejuízos
à produção e ao consumo, quadro agravado pela "incerteza"
decorrente das perdas milionárias em operações de câmbio
por parte de grandes empresas.
A recessão na América Latina, estima a Cepal, será puxada
por Brasil e México, as duas
maiores economias da região
-representam 60% do PIB regional. O México sofre efeitos
da dependência dos EUA e da
baixa do petróleo.
Mesmo entre os países que
crescerão mais -Panamá (4%),
Peru (3,5%), Cuba (3%) e Bolívia (3%)-, o desempenho resulta do "arrasto estatístico" de
2008, diz Kacef. Essa inércia
também justifica a previsão da
Cepal de crescimento de 1,5%
para a Argentina, índice que
significa um estancamento da
economia local em 2009. O
país, afirma, poderá ter dificuldades para afrontar vencimentos de dívida em 2010, por falta
de dólares na economia.
Para o Chile, a estimativa da
Cepal é de crescimento nulo no
ano, em um cenário de recuperação gradual impulsada pelas
medidas anticrise do governo
-subsídios e investimentos
que somam 2,5% do PIB.
Medidas anticrise
Os governos da região, afirma
o diretor da Cepal, foram rápidos na adoção de medidas de
política monetária e financeira,
como redução dos encaixes
obrigatórios no sistema bancário e abertura de linhas de crédito. Contudo, avalia, são ações
limitadas pela dimensão reduzida dos mercados financeiros
locais. "Maior oferta de dinheiro e crédito não significa aumento na demanda de bens."
A Cepal defende uso de instrumentos de política fiscal e
prefere medidas orientadas a
elevar gastos -como subsídios
a setores pobres- a corte de
impostos. Isso porque, diz Kacef, é mais provável que o aumento de renda privada decorrente de baixas tributárias seja
economizado, e não gasto. "O
que os governos fizeram até
agora foi anunciar medidas,
mas a implementação ainda é
reduzida", afirma.
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