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LUÍS NASSIF
Os problemas de Viegas
Os problemas enfrentados pelo ministro da Defesa, José Viegas, fazem parte de
uma transição histórica incompleta, iniciada no governo
Fernando Henrique Cardoso.
Em todas as nações modernas,
o poder civil logrou pactos com
o poder militar, subordinando-os a uma orientação civil. Para
tanto, havia a necessidade de
que o comando civil tivesse visão de segurança e capacidade
de diálogo com as forças militares.
Exemplo típico foram os Estados Unidos no pós-guerra,
com controle civil mesmo com
todo o prestígio angariado pelas três armas no conflito.
No caso brasileiro, o Ministério de Defesa foi criado no governo FHC, com poder sobre as
três Armas. Mas não se cuidou
de institucionalizar as relações,
definir as regras de convivência. As sucessivas gestões foram
anódinas.
O governo Lula indicou Viegas, diplomata competente,
com visão internacional, vindo
de uma corporação hierarquizada, na qual pedidos são ordens -da mesma maneira
que a hierarquia militar.
Mas não se deu conta de que
era peixe de fora, o que exigia
jogo de cintura e visão política
para ser, ao mesmo tempo, o
representante do governo comandando as Forças Armadas
e o representante das Forças
Armadas no governo.
Não houve um episódio em
particular para justificar o
atual desgaste do ministro.
Um deles foi a questão do
reajuste salarial das Forças Armadas. A corporação não é um
aglomerado de meganhas, mas
uma organização com pessoal
qualificado, submetido a treinamento continuado, educação, especializações variadas.
Em vez de atuar nos bastidores, Viegas deu declarações públicas a favor do aumento. Enquadrado pela área econômica, voltou atrás e deixou de
atuar mesmo internamente
para rever a decisão. Independentemente de sua impotência
para resolver essa questão, os
oficiais acabaram se sentindo
traídos por ele.
O mesmo sentimento se deu
na licitação FX, quando Viegas
deu sucessivos sinais de sua
preferência pela proposta russa, sendo que o Alto Comando
da Aeronáutica preferia o Gripen, da Suécia.
Para observadores da cena
militar, Viegas é sujeito preparado, inteligente, com possibilidade de inverter o desgaste
atual nas Forças Armadas.
Mas grande parte do desgaste
decorre da incapacidade do governo como um todo de entender aspectos relevantes da defesa nacional.
Um dos problemas estratégicos dos próximos anos será o
petróleo. A costa brasileira possui uma das maiores reservas
potenciais de petróleo do mundo. A energia nuclear é uma alternativa relevante. A defesa
da costa depende basicamente
de submarinos. E o desenvolvimento do submarino nuclear
brasileiro foi prejudicado por
cortes orçamentários. O enriquecimento de urânio esbarra
no mesmo problema.
Na Amazônia, depois de investir US$ 1 bilhão no projeto
Sivam, o que se observa são
equipamentos de alta sofisticação se deteriorando, por falta
de recursos orçamentários.
Esse passivo do governo está
sendo debitado na conta de
Viegas.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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