São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2004

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DIAS DE TENSÃO

Governo tenta conter expansão do país e anuncia que vai limitar os reajustes administrados pelas Províncias

China controla tarifas para conter inflação

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

A China anunciou ontem limites a reajustes dos preços controlados pelas Províncias, em mais uma medida administrativa para tentar conter a inflação e reduzir o ritmo de expansão da economia.
A decisão foi adotada no fim do feriado de 1º de Maio, que paralisou o país durante uma semana. Além de indicar uma guinada em direção a uma postura mais intervencionista do Estado, o anúncio reforça a opção do governo por medidas administrativas para tentar esfriar a economia. Antes do feriado, havia a expectativa de que o Banco Central elevaria a taxa de juros nesta semana, mas o primeiro anúncio na volta das atividades governamentais tratou do controle de preços.
O governo central determinou que as Províncias suspendam reajustes de preços por três meses sempre que o índice de preços ao consumidor da região superar 1% em um mês ou 4% em três meses.
O ritmo de expansão da economia, que cresceu 9,7% no primeiro trimestre deste ano, tem pressionado a inflação, principalmente em razão da alta na cotação de matérias-primas. De janeiro a março, o índice de preços ao consumidor subiu 2,8%.
Esta é a terceira medida de caráter administrativo que o governo anuncia nas duas últimas semanas com o objetivo de controlar a atividade econômica e o risco de aumento excessivo de preços.
A primeira foi a ordem de suspensão de novos projetos em setores vistos como superaquecidos, que já paralisou a construção de uma siderúrgica com investimentos de US$ 1,2 bilhão. A outra medida foi a restrição a financiamento de projetos nessas áreas, principalmente aço, cimento e construção civil.
O Banco Central elevou ainda de 7% para 7,5% o percentual dos depósitos à vista que os bancos devem deixar imobilizados e não utilizar para empréstimos. A medida entrou em vigor no dia 25 de abril e retirou de circulação cerca de US$ 13 bilhões.

Efeito limitado
Guan Peng, analista da Anbound Consulting, acredita que o controle de preços terá efeito limitado, porque o peso do Estado na economia é bem menor hoje do que há dez anos, quando medida semelhante foi usada para esfriar a expansão do PIB.
Além disso, o universo de preços que será atingido é pequeno e se concentra basicamente nos serviços públicos controlados pelas Províncias -energia, transporte e telecomunicações.
"O índice de preços é formado por produtos alimentícios, bens manufaturados e serviços. A medida vai atingir apenas os serviços, já que os demais são controlados pelo mercado", observa Guan.
Guan acredita que o governo aguardará a divulgação dos dados econômicos de maio para decidir se eleva ou não os juros, que estão inalterados desde 1995. O comitê de política monetária da China se reúne a cada três meses, e o próximo encontro será em junho.
A taxa para empréstimos de um ano está em 5,31%. Com uma inflação próxima de 3%, os juros reais acabam sendo pouco superiores a 2%, o que significa um custo muito baixo para o dinheiro. A facilidade de financiamento é um dos ingredientes da expansão econômica. O principal motor do crescimento são os investimentos em ativos fixos, que tiveram alta de 43% no primeiro trimestre, ritmo considerado insustentável por analistas econômicos e o governo chinês.


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