São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2006

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ESTADOS UNIDOS

Taxa sobe 0,25 ponto percentual, para 5%; BC norte-americano não esclarece sobre fim do ciclo de alta

Fed eleva os juros, mas mantém dúvidas

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Pela 16ª vez consecutiva e na segunda reunião presidida por seu novo titular, o Fed, o banco central norte-americano, aumentou as taxas dos juros básicos da economia do país em 0,25 ponto percentual, para 5% ao ano. Ao mesmo tempo, no entanto, seu presidente, Ben S. Bernanke, soltou comunicado em que não esclareceu a principal dúvida do mercado: o ciclo de altas terminou?
A temporada de alta do Fed começou em junho de 2004, quando a taxa de juros da economia era de 1%. Desde então, saltou para 5%. O objetivo é controlar a pressão sobre os preços usando os juros como forma de inibir o consumo e desaquecer a economia. Wall Street esperava que o Fed acenasse que esse aumento seria o último pelos próximos meses. Não acenou.
No comunicado oficial, o banco norte-americano diz apenas que espera uma desaceleração econômica e que uma das razões seria o "desaquecimento do mercado imobiliário" -não há a expectativa do estouro da bolha imobiliária, como muitos temiam, mas o reconhecimento de que esse setor pare de inflar e até desinche gradualmente. Mas afirma que "possíveis aumentos na utilização de reservas naturais, aliados a preços elevados de energia e outras commodities, podem potencialmente ajudar na pressão inflacionária".
Nesse sentido, o comunicado de ontem foi um "não-evento", disse à Folha Ricardo Amorim, diretor de pesquisas para a América Latina do banco de investimentos West LB. "Fica no meio do caminho, no sentido de que não fecha as portas para uma elevação das taxas nas próximas reuniões, mas deixa clara a necessidade de elevação hoje e que ela será condicionada aos próximos números da atividade econômica." Para Richard Yamarone, da Argus Research, "o mercado ficou mais confuso depois do comunicado do que antes".
Tal "indecisão", como chamaram alguns analistas, pode ser creditada ao fato de esta ser a segunda reunião de Bernanke, 52, que vem de substituir Alan Greenspan, 80, o "Maestro", todo-poderoso no cargo de 1987 a janeiro deste ano. Em depoimento recente no Congresso, Bernanke havia indicado que o ciclo de altas poderia ser interrompido até que os economistas "conseguissem todos os dados necessários" para definir as reuniões futuras.
Numa indiscrição cometida há dois sábados, no entanto, durante o tradicional jantar da Associação de Correspondentes da Casa Branca, no Hilton Hotel de Washington, ele havia dito à repórter Maria Bartirono, âncora da emissora de notícias CNBC, que o mercado havia interpretado de maneira errada seu depoimento no Capitólio, segundo a repórter.

Efeitos no Brasil
O impacto da pequena alta norte-americana no mercado brasileiro é mínimo, devido às elevadas taxas de juros praticadas localmente. "A taxa de juros do Brasil hoje é tão mais alta que a dos EUA que essas pequenas elevações não causam grandes diferenças em relação ao fluxo de capital", disse Amorim, para quem o país tem fundamentos sólidos, boas perspectivas e deve continuar atraindo bons investimentos, seja em Bolsa, renda fixa ou diretos.
O mesmo pode não acontecer em outros países latino-americanos com taxas próximas às dos EUA, como Chile, Colômbia e México. Nesses mercados, pequenas variações contam, porque o diferencial já é mínimo.
Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo caiu 0,54%, e o dólar fechou estável, a R$ 2,061.


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