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ARTIGO
UE ganha tempo, mas verdadeiro teste está por vir
WOLFGANG MÜNCHAU
DO "FINANCIAL TIMES"
Não havia escolha. Diante de
uma ameaça existencial, a
União Europeia demonstrou
que é capaz de agir com rapidez, se necessário. Os líderes
europeus merecem respeito
por enfim terem conseguido se
adiantar à situação.
Isso posto, deveríamos também compreender que, ao tentar combater o problema simplesmente por meio de dinheiro, a maior parte do qual na forma de garantias, a UE simplesmente ganhou tempo para resolver a confusa situação de governança da zona do euro. O
verdadeiro teste está por vir.
Há importantes paralelos
com as garantias da UE ao setor
financeiro em outubro de
2008, após o colapso do Lehman Brothers. Aquela decisão
resolveu um problema de liquidez imediato no setor europeu,
que estava à beira de uma catástrofe. Mas a decisão não resolveu as questões subjacentes
de solvência do setor, que continuam a ser problema.
O mesmo se aplica a esse caso. Sabemos agora que Grécia,
Portugal e Espanha sempre serão capazes de refinanciar suas
dívidas públicas, mas a solvência em longo prazo do Estado
espanhol continua não resolvida. O setor privado tem imensas dívidas. Os preços dos ativos que servem como caução
continuam a cair.
O governo espanhol, como
fiador do setor bancário, ficará
sobrecarregado com dívidas
crescentes em um período de
estagnação da expansão econômica. Deveríamos ter em mente que solvência não se relaciona primordialmente à disposição de emprestar dos mercados. Isso se aplica à liquidez.
Você está solvente se consegue estabilizar sua dívida como
proporção de sua renda. A posição de solvência do sul da Europa, portanto, não é afetada pela
injeções de bilhões de euros.
Por isso, o atual acordo só será efetivo no curto prazo, a menos que seja seguido por reformas substantivas -a introdução de título de dívida europeu
unificado, uma agenda de coordenação de reformas econômicas, políticas que reduzam os
desequilíbrios econômicos, fiscalização mais estreita de políticas fiscais.
Em resumo, coisas sobre as
quais a UE vivia -e continua
vivendo- em negação.
Meu parecer é o de que quase
nada disso acontecerá. Portanto, continuo cético quanto às
perspectivas em longo prazo da
zona do euro. Vai chegar um
momento em que usar o dinheiro para resolver problemas, sem mudanças estruturais, deixará de fazer efeito ou
mesmo de impressionar.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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