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CONTAS NACIONAIS
Economia cresce 5,8%, mas reduz ritmo
Expansão no 1º trimestre é a maior desde 1996; no entanto, resultado anualizado, próximo a 3%, já dá sinais de desaceleração
Indústria, investimentos, consumo das famílias e despesas do governo deram impulso ao crescimento
no período, aponta IBGE
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
A economia brasileira cresceu 5,8% no primeiro trimestre
em relação ao mesmo período
de 2007 e cravou a maior expansão nessa comparação desde 1996. O acumulado em 12
meses (5,8%) também é recorde. Mas o ritmo de crescimento
do PIB (Produto Interno Bruto) já dá sinal de desaceleração.
De janeiro a março, o PIB
cresceu 0,7% em relação ao trimestre anterior. O percentual
projeta um PIB anualizado
próximo a 3%. O resultado do
quarto trimestre de 2007 indicava um crescimento anual
bem maior, acima de 6%.
Segundo o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatísticas), a indústria (6,9%), os
investimentos (15,2%) e o consumo das famílias (6,6%) formaram o carro-chefe do crescimento de janeiro a março ante
igual período de 2007.
No caso do consumo das famílias, foi o 18º crescimento
consecutivo. Grande parte do
impulso veio de uma expansão
de 33,7% nas operações de crédito e de um aumento de 6,9%
da massa salarial.
Houve ainda um forte crescimento nos gastos do setor público, refletindo em parte o ano
eleitoral. O salto nesse indicador foi de 5,8% em relação ao
mesmo período de 2007.
"O aumento do gasto estatal
é muito negativo neste momento em que o Banco Central
trabalha para conter a inflação", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
O bom resultado do PIB no
primeiro trimestre também
voltou a jogar luz sobre a tendência das contas externas.
Há um ano, o Brasil fechou o
primeiro trimestre com uma
necessidade de financiamento
externo menor do que R$ 1 bilhão. Neste ano, o rombo a ser
coberto foi de R$ 21 bilhões.
O número resulta da contínua tendência de importações
maiores do que as exportações.
Revela ainda a incapacidade de
a produção interna conseguir
atender toda a demanda.
Peso das importações
"Boa parte da demanda está
sendo atendida por importações. Há um crescimento da absorção doméstica [consumo e
investimento] que somente a
produção local não está dando
conta de suprir", afirma Joel
Bogdanski, do Itaú.
No trimestre, as vendas externas de bens e serviços caíram 2,1% (em parte devido à
greve da Receita). As importações cresceram 18,9%. Nos cálculos da LCA, o setor externo
contribuiu negativamente com
2,6 pontos percentuais no PIB.
"A desaceleração atual do
PIB está associada ao resultado
muito negativo do setor externo", diz Rebeca Palis, gerente
de contas trimestrais do IBGE.
A diminuição do ritmo de
crescimento, no entanto, foi
considerada positiva por alguns economistas, pois deverá
ajudar a conter a inflação.
"Houve um esfriamento do
nível de atividade no primeiro
trimestre. Isso é muito importante, pois havia um descompasso grande entre o crescimento efetivo da economia e o
crescimento potencial. Agora,
houve um ajuste", afirma Bráulio Borges, da LCA.
Segundo o economista-chefe
do banco HSBC, Alexandre
Bassoli, faltam "sinais sólidos"
de que o ritmo de crescimento
esteja diminuindo de forma
consistente. Para o economista-chefe do banco Fator, José
Francisco de Lima Gonçalves, o
PIB "veio dentro do esperado".
"Os investimentos e o consumo estão em linha com o resultado de 2007. Olhando para a
frente, haverá um crescente peso negativo do setor externo."
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