São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2008

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CONTAS NACIONAIS

Economia cresce 5,8%, mas reduz ritmo

Expansão no 1º trimestre é a maior desde 1996; no entanto, resultado anualizado, próximo a 3%, já dá sinais de desaceleração

Indústria, investimentos, consumo das famílias e despesas do governo deram impulso ao crescimento no período, aponta IBGE


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A economia brasileira cresceu 5,8% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2007 e cravou a maior expansão nessa comparação desde 1996. O acumulado em 12 meses (5,8%) também é recorde. Mas o ritmo de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) já dá sinal de desaceleração.
De janeiro a março, o PIB cresceu 0,7% em relação ao trimestre anterior. O percentual projeta um PIB anualizado próximo a 3%. O resultado do quarto trimestre de 2007 indicava um crescimento anual bem maior, acima de 6%.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), a indústria (6,9%), os investimentos (15,2%) e o consumo das famílias (6,6%) formaram o carro-chefe do crescimento de janeiro a março ante igual período de 2007.
No caso do consumo das famílias, foi o 18º crescimento consecutivo. Grande parte do impulso veio de uma expansão de 33,7% nas operações de crédito e de um aumento de 6,9% da massa salarial.
Houve ainda um forte crescimento nos gastos do setor público, refletindo em parte o ano eleitoral. O salto nesse indicador foi de 5,8% em relação ao mesmo período de 2007.
"O aumento do gasto estatal é muito negativo neste momento em que o Banco Central trabalha para conter a inflação", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
O bom resultado do PIB no primeiro trimestre também voltou a jogar luz sobre a tendência das contas externas.
Há um ano, o Brasil fechou o primeiro trimestre com uma necessidade de financiamento externo menor do que R$ 1 bilhão. Neste ano, o rombo a ser coberto foi de R$ 21 bilhões.
O número resulta da contínua tendência de importações maiores do que as exportações. Revela ainda a incapacidade de a produção interna conseguir atender toda a demanda.

Peso das importações
"Boa parte da demanda está sendo atendida por importações. Há um crescimento da absorção doméstica [consumo e investimento] que somente a produção local não está dando conta de suprir", afirma Joel Bogdanski, do Itaú.
No trimestre, as vendas externas de bens e serviços caíram 2,1% (em parte devido à greve da Receita). As importações cresceram 18,9%. Nos cálculos da LCA, o setor externo contribuiu negativamente com 2,6 pontos percentuais no PIB.
"A desaceleração atual do PIB está associada ao resultado muito negativo do setor externo", diz Rebeca Palis, gerente de contas trimestrais do IBGE.
A diminuição do ritmo de crescimento, no entanto, foi considerada positiva por alguns economistas, pois deverá ajudar a conter a inflação.
"Houve um esfriamento do nível de atividade no primeiro trimestre. Isso é muito importante, pois havia um descompasso grande entre o crescimento efetivo da economia e o crescimento potencial. Agora, houve um ajuste", afirma Bráulio Borges, da LCA.
Segundo o economista-chefe do banco HSBC, Alexandre Bassoli, faltam "sinais sólidos" de que o ritmo de crescimento esteja diminuindo de forma consistente. Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o PIB "veio dentro do esperado".
"Os investimentos e o consumo estão em linha com o resultado de 2007. Olhando para a frente, haverá um crescente peso negativo do setor externo."


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