São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2008

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Vale quer levantar US$ 15 bi para aquisições

Anúncio da empresa de que planeja emitir ações no mercado global é interpretado como intenção de novas compras

Última aquisição da Vale foi em 2006, quando levou a produtora canadense de níquel Inco por US$ 18 bi; ação cai até 4% na Bolsa


AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Vale do Rio Doce anunciou ontem a intenção de fazer uma emissão primária de ações para captar US$ 15 bilhões no mercado global. A decisão foi interpretada pelo mercado como movimento preparatório para uma megaaquisição nos próximos meses. A Vale disse que a captação pode, sim, financiar aquisições, mas servirá também para sustentar o "agressivo programa de crescimento orgânico e a ampliação da flexibilidade financeira".
A última aquisição de peso da Vale ocorreu em novembro de 2006, quando venceu a disputa pela produtora de níquel canadense Inco depois de uma oferta de US$ 18,2 bilhões. De maio de 2000 até hoje, gastou US$ 24,5 bilhões em aquisições.
Em maio de 2007, a Vale comprou, por US$ 231 milhões, os ativos da EBM/MBR. Foi o último negócio. De lá para cá, não conseguiu mais quebrar o jejum de compras, apesar de ter tentado arrematar a canadense produtora de alumínio Alcan e a anglo-suíça Xstrata.
"Com a geração de caixa que a Vale tem hoje, essa emissão não seria necessária para custear o plano de investimento de US$ 59 bilhões até 2012. Só a perspectiva de uma megaaquisição justifica fazer um reforço de caixa como o anunciado agora", diz uma fonte que acompanha o dia-a-dia da companhia.
Ontem, a ação preferencial A da Vale recuou 4,10% na Bovespa. O papel ordinário teve recuo de 2,18%.
No primeiro trimestre, a geração de caixa da Vale atingiu US$ 3,729 bilhões, com crescimento de 17,5% na comparação com o mesmo período de 2007. O ingresso de capital no caixa da Vale deve se acelerar a partir do segundo trimestre, quando a empresa começa a receber as receitas do minério de ferro já com o reajuste de 75% negociado no início do ano.
A companhia não quis se pronunciar sobre a nova emissão, mas o mercado tem especulado sobre os potenciais alvos. Entre eles, estão a mineradora de ferro Anglo American, a produtora de alumínio Alcoa e as produtoras de cobre Antofagasta e Freeport-McMoRan, ambas com forte presença no Chile.
Segundo Rodrigo Ferraz, analista do mercado de mineração e de siderurgia da Brascan Corretora, a operação amplia a reserva de capital tanto para financiar o programa de investimento, que neste ano deverá receber US$ 11 bilhões, como as aquisições. Ferraz faz coro com o mercado ao considerar a operação parte de uma estratégia que tem como objetivo final assegurar solidez financeira capaz de afastar qualquer revisão para baixo das avaliações de risco da companhia e, conseqüentemente, a perda do status de grau de investimento.
"É evidente que a Vale busca uma estrutura de capital que não afete a relação dívida líquida sobre Ebitda [geração de caixa]", explica Ferraz. Até o último balanço da Vale relativo ao primeiro trimestre do ano, a dívida bruta era apenas 1,3 vez maior que a geração de caixa -situação confortável do ponto de vista financeiro.
Germano Mendes de Paula, especialista em mineração e siderurgia e professor da Universidade Federal de Uberlândia, avalia que, para a Vale, interessa menos o minério de ferro e mais minerais como alumínio, cobre e carvão. "Não há nenhum ativo de minério de ferro no mundo melhor do que a expansão de Carajás. Então, acho que qualquer negócio na área de alumínio, cobre ou carvão faz mais sentido para a Vale neste momento."

Diluição do capital
O lançamento dos novos papéis da Vale ainda terá de ser aprovado pelo Conselho de Administração. A decisão pode levar à diluição do capital dos atuais sócios caso estes não subscrevam as ações na nova oferta. No comunicado distribuído ontem ao mercado, a Vale explica apenas que o valor máximo da oferta será de US$ 15 bilhões, incluída a opção de uma emissão suplementar de ações ("green shoe").


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