São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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Vale reduz preço do minério de ferro em 28%

Reflexo da produção menor, é a 1ª queda desde 2002; percentual é menor do que o pleiteado pela China

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Num cenário de forte retração do consumo global, a Vale anunciou ontem a primeira queda de preço do minério de ferro desde 2002: a redução ficou em 28,2% no do tipo fino, o mais vendido pela mineradora. O percentual, fechado em acordos firmados com siderúrgicas do Japão e da Coreia, está abaixo do que pleiteia a China, principal cliente da companhia.
As usinas chinesas pressionam por uma redução de 40% no preço do minério de ferro. Mas, depois de a Vale e de a concorrente Rio Tinto fecharem contratos com preços em torno de 30% mais baixos, elas devem ser forçadas a aceitar um percentual menor, segundo analistas do setor.
Para outros tipos de minério, o corte de preço da Vale foi maior: 44,5% e 48,3%, respectivamente, para o granulado e para as pelotas de ferro.
Líder mundial em minério de ferro, a Vale usualmente é a primeira a fechar uma negociação de preço com um grande cliente, que servirá de referência para todo o mercado -conhecido como benchmark, esse é o sistema de reajuste do minério de ferro, que não é cotado em bolsas de mercadorias.
Em 2008, a Vale saiu na frente e obteve reajuste de 65% a 71% em fevereiro, dependendo do minério. As rivais Rio Tinto e BHP (anglo-australiana) esperam mais tempo -até junho- e conseguiram aumento de até 96%, num momento de mercado mais aquecido.
Neste ano, a Vale adotou como estratégia só negociar após a conclusão das tratativas das concorrentes e conseguiu uma redução menor -a Rio Tinto diminuiu seu preço em 33%.
"A estratégia da Vale foi tentar recuperar parte do que perdeu no ano passado e obteve, de fato, uma queda menor", diz Pedro Galdi, analista da SLW.
Agora, diz, a empresa entrará numa forte "queda de braço" com as siderúrgicas chinesas para tentar impor redução inferior aos 40% pedidos.
Para Eduardo Kondo, da corretora Concórdia, a previsão é mesmo de uma diminuição abaixo dos 40% até porque o mercado no resto do mundo também deve começar a reagir.
Após despencar desde outubro do ano passado, as exportações para a China reagiram em março e abril numa estratégia de formar estoques e atender ao plano de estímulo da economia. Em maio, já com o objetivo de forçar uma queda mais intensa, as siderúrgicas do país cortaram as importações.
No pico do ano passado, a Vale exportou, em agosto, perto de 30 milhões de toneladas. Com a crise, o volume baixou para a faixa dos 17 milhões de toneladas, mas voltou para 15 milhões de toneladas. Neste mês, analistas esperam que as exportações também fiquem travadas à espera da conclusão das negociações.
Diante da forte queda de até 50% da produção de aço na Europa e nos EUA, as vendas para a China representaram 43,6% da receita total da Vale no primeiro trimestre. Esse percentual era de 18,9% nos três primeiros meses de 2008.

Balança comercial
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), o superávit comercial brasileiro "certamente será afetado" pela redução de preço da Vale. Isso porque o minério é, com folga, o principal produto da pauta de exportação, com peso de 10% atualmente.
Esse percentual, diz, caíra para cerca de 6% em razão da redução do preço e do menor volume exportado -o que já foi constatado em maio. De janeiro a março, a Vale produziu 36% menos minério de ferro do que em igual período de 2008.


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