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Vale reduz preço do minério de ferro em 28%
Reflexo da produção menor, é a 1ª queda desde 2002; percentual é menor do que o pleiteado pela China
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Num cenário de forte retração do consumo global, a Vale
anunciou ontem a primeira
queda de preço do minério de
ferro desde 2002: a redução ficou em 28,2% no do tipo fino, o
mais vendido pela mineradora.
O percentual, fechado em acordos firmados com siderúrgicas
do Japão e da Coreia, está abaixo do que pleiteia a China, principal cliente da companhia.
As usinas chinesas pressionam por uma redução de 40%
no preço do minério de ferro.
Mas, depois de a Vale e de a
concorrente Rio Tinto fecharem contratos com preços em
torno de 30% mais baixos, elas
devem ser forçadas a aceitar
um percentual menor, segundo
analistas do setor.
Para outros tipos de minério,
o corte de preço da Vale foi
maior: 44,5% e 48,3%, respectivamente, para o granulado e
para as pelotas de ferro.
Líder mundial em minério de
ferro, a Vale usualmente é a primeira a fechar uma negociação
de preço com um grande cliente, que servirá de referência para todo o mercado -conhecido
como benchmark, esse é o sistema de reajuste do minério de
ferro, que não é cotado em bolsas de mercadorias.
Em 2008, a Vale saiu na frente e obteve reajuste de 65% a
71% em fevereiro, dependendo
do minério. As rivais Rio Tinto
e BHP (anglo-australiana) esperam mais tempo -até junho- e conseguiram aumento
de até 96%, num momento de
mercado mais aquecido.
Neste ano, a Vale adotou como estratégia só negociar após
a conclusão das tratativas das
concorrentes e conseguiu uma
redução menor -a Rio Tinto
diminuiu seu preço em 33%.
"A estratégia da Vale foi tentar recuperar parte do que perdeu no ano passado e obteve, de
fato, uma queda menor", diz
Pedro Galdi, analista da SLW.
Agora, diz, a empresa entrará
numa forte "queda de braço"
com as siderúrgicas chinesas
para tentar impor redução inferior aos 40% pedidos.
Para Eduardo Kondo, da corretora Concórdia, a previsão é
mesmo de uma diminuição
abaixo dos 40% até porque o
mercado no resto do mundo
também deve começar a reagir.
Após despencar desde outubro do ano passado, as exportações para a China reagiram em
março e abril numa estratégia
de formar estoques e atender
ao plano de estímulo da economia. Em maio, já com o objetivo
de forçar uma queda mais intensa, as siderúrgicas do país
cortaram as importações.
No pico do ano passado, a Vale exportou, em agosto, perto
de 30 milhões de toneladas.
Com a crise, o volume baixou
para a faixa dos 17 milhões de
toneladas, mas voltou para 15
milhões de toneladas. Neste
mês, analistas esperam que as
exportações também fiquem
travadas à espera da conclusão
das negociações.
Diante da forte queda de até
50% da produção de aço na Europa e nos EUA, as vendas para
a China representaram 43,6%
da receita total da Vale no primeiro trimestre. Esse percentual era de 18,9% nos três primeiros meses de 2008.
Balança comercial
Para José Augusto de Castro,
vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do
Brasil), o superávit comercial
brasileiro "certamente será
afetado" pela redução de preço
da Vale. Isso porque o minério
é, com folga, o principal produto da pauta de exportação, com
peso de 10% atualmente.
Esse percentual, diz, caíra
para cerca de 6% em razão da
redução do preço e do menor
volume exportado -o que já foi
constatado em maio. De janeiro a março, a Vale produziu
36% menos minério de ferro do
que em igual período de 2008.
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